O músico paraense Bruno Nóbrega Mafra (foto), em longo desabafo nas redes sociais, denuncia o jogo de intrigas no meio musical, a desunião da classe e acusa diretamente o músico Ximbinha por tentativa de inviabilizar o projeto “Gigantes do Brega”, mega evento realizado neste final de semana, em Belém, reunindo grandes nome do gênero musical paraense.

Abaixo, o desabafo de Bruno:

 

Meu nome civil é Bruno Nóbrega Mafra. Nasci em belém em 1980, década do Legião urbana; Paralamas; Titãs. No Pará podemos lembrar de Nilson Chaves; Eloi Iglesias; Alcyr Guimarães (ao por do sol) etc. Grandes músicos e interpretes que marcaram e continuam fazendo parte da musicalidade, por conseguinte da cultura popular.

O brega sempre me chamou atenção por ser aquela música que tocava em todos os taxis, onibus, publicidades de poste, carros de som, radinhos enfim. Onde houvesse um cidadão paraense, lá estava aquela musica bacana, que tocava e tocava(…) Criado por minha mãe roqueira assumida e meu pai, um advogado amante da boa música, cresci em um ambiente prolífico musicalmente.

Aos 15 anos diante de uma guitarra elétrica pela primeira vez na vida, decidi pela musica para vida inteira. Reuni-me a 2 amigos e formei o primeiro projeto chamado Bruno e trio. Um passarinho voando, que apenas batia a asa para qualquer direção.

Meu lema era cantar e ser feliz! claro, precisava juntar meu dinheirinho e manter aquela atividade, de certa maneira vista com receio pelos meus pais, que temiam ter um filho boêmio entregue as noites sem fim. Ok, tudo certo estudei para cumprir as metas de meus amados pais.

Me formei em Psicologia pela Universidade da Amazônia em 2004 aos 24 anos de idade. Tive a nítida sensação de estar no caminho certo.

Ao receber o diploma, me determinei a continuar os estudos até a especialização em docência do ensino superior. Porém nesse momento da vida, ja de certa forma distante da música, resolvi voltar e lancei meu primeiro trabalho chamado 24 horas (Faz o S pra mim), nao sei por qual motivo Deus me permitiu assistir 20 mil pessoas cantar minha música em uma apresentação do Super pop no cidade folia.

Quando o solo de guitarra criado por mim entrava, parecia um gol em final de copa! Tanta emoção me fez continuar, e assim acumulei 15 anos de trabalho e muitos outros “gols” em final de copa eu tive a sorte de escrever.

Fui chamado de fenômeno do melody (Particularmente não gostava) achava uma idiotice receber um título desse e aceitá-lo. Pois bem, altos e baixos, fiquei rico e pobre pelo menos umas 5 vezes. Conheci muitos lugares ou cantando ou fazendo turismo (Portugal/ Espanha/ França/ Estados Unidos/ etc) sempre que posso posto algumas fotos no meu instagram. Chegava a fazer tantos shows que não sabia as vezes onde eu estava ao acordar.

Ha 3 anos vim diminuindo gradativamente minha agenda de cantor, com a idade chegando e os filhos crescendo comecei realmente a pensar em parar, mas entendi que seria contra minha essência abandonar as pessoas e os palcos por qualquer motivo que fosse.

Cometi muitos erros na carreira e na vida, mas poucos acertos me foram suficientes para continuar.

Contei um pouco da minha história pra falar de um assunto pouco conhecido dos Paraenses. Mas confesso que irei falar exatamente o que eu penso a respeito. POR QUE A MÚSICA PARAENSE não é reconhecida nacionalmente? Quais os motivos da DES-UNIÃO DOS ARTISTAS PARAENSES? 

Sempre vi na minha terra os conflitos entre Remo e Paysandu, Acaí ou Bacaba, Ricos e Pobres, Negros e brancos etc etc. Algo muito comum em qualquer civilização. Porém percebi que os ritmos que predominavam no Brasil, lembro bem da era da “música Baiana” sempre vinham acompanhadas de muitos nomes, muitos artistas e talentos que fomentavam aquele cenário.

Depois veio a era do Forró, depois a era do Funk, depois a era do sertanejo, e de repente a era do brega podia chegar a qualquer momento, e finalmente… não… não chegou! veio de novo a era do funk, depois voltou a era do forró e agora a era do arrocha. Sabe qual o motivo disso?

Os artistas Paraenses especialmente do Brega são conhecidos inimigos mortais uns dos outros! Falam mal uns dos outros, difamam, caluniam, blasfemam uns aos outros.

Eles se acham uns maiores que os outros. A moda também se espalhou para as aparelhagens, uma engolindo a outra, cada vez mais a boca do animal vai te pagar mais, e a bicada vai te furar mais, e a dentada e a paulada e assim por diante… U

m querendo detonar o outro numa miscelania pitoresca de vaidade e auto afirmação. Esses pobres paraenses artistas, acreditam que de alguma maneira serão prejudicados com a aproximação do outro.

Lembro de um dia em São Paulo ao chegar da gravação do programa da Eliana (SBT) no apartamento em que morava junto com Gabi Amarantos, encontrei Gaby na sala. Ela me olhou de cima abaixo e falou: – Você um dia pode ser sucesso, mas depois de mim!

Juro pela minha historia que naquela hora eu fingi que não tinha entendido. Apenas dei um sorriso e segui para o meu quarto, fiz um sinal da cruz e rezei.

Lembro quando conheci Natalia Mendes Sarraff filha de Joelma (Calipso) em Sampa. Começamos um namoro e para minha surpresa 1 semana depois ela foi deportada para Almerin Pa, por um simples motivo. Estava se envolvendo com um Paraense. E sua amada mãezinha (Joelma) não admitia aproximações.

Ha 1 ano atras conheci Dona Onete, uma pessoa incrível, um dom natural, admirável. Simples como a minha vó, aquela mulher cantou pra mim na varanda de sua casa.

Eu apaixonado pelo que ouvi pedi a ela uma música. Dona Onete sempre muito humilde e solícita me deu de presente para que eu gravasse a música Feitiço da Lua. Esta música era parte de um cd latino que estava lançando nos EUA (miami) com músicas do Pará.

Fui para o estúdio, trabalhei a música, contratei os músicos gravei e quando precisei da autorização por escrito para poder lançar a música adivinhem… A editora de Dona Onete nao podia liberar porque ela não tinha ordem de emprestar, dar ou compartilhar nenhuma música dela com quem quer que seja!

O babaca do Bruno que tirasse do seu disco e pronto! Então pude ver Dona Onete no Faustão, Fantástico, Via Láctea etc etc

Eis que num belo domingo pós carnaval assistindo a globo, me deparo com a Daniela Mercury cantando a música do carnaval 2018 – BANZEIRO de quem??? Dona Onete!!!!

Eu vi Daniela linda, eletrica com uns 20 bailarinos no palcoe um agradecimento quase imperceptível em meio a um estrondoso som (Obrigado Dona Onete) eu só percebi que era da Paraense Dona Onete pq conhecia essa música.

A uns 15 dias atras recebi em minha residencia o produtor e guitarrista Ximbinha, que em um primeiro momento veio conversar comigo e com a Rebeca Lindsay (Ex banda AR15) sobre o projeto Gigantes do Brega. Ao expor para o ximbinha nossa idéia a respeito do projeto de resgatar os classicos do brega desde a década de 80, 90 até os dias atuais num show único.

Ele vira e fala que essa idéia nao era boa para gente, que deveríamos procurar outra coisa pra fazer, tocar coisas mais atuais, que o passado nao combinava com a gente. Decepcionados com a negatividade que ele impôs sobre nossa idéia, fomos surpreendidos com uma ligação 30 minutos depois de Ximbinha oferecendo “mundos e fundos” talvez “sem fundos” para Rebeca abandonar o projeto gigantes do brega e fazer parte do projeto CABARÉ DO BREGA. Nesse momento entendemos o por que dele ter achado tão ruim a nossa idéia.

Seguimos em frente com o projeto e quando finalmente lançamos – Dia 03 de março – Gold Mar Hotel – Gigantes do Brega. 24 horas depois ele lança CABARE DO BREGA, com vários artistas, que simplesmente são inebriados pela imagem antiga e deteriorada da banda Calipso, e emprestam suas carreiras valiosas para serem cantores de um GRANDE GUITARRISTA, serem interpretes de um GRANDE PRODUTOR, serem fantoches de uma GRANDE ILUSÃO.

Aliás um desses artistas Nelsinho Rodrigues, que eu simplesmente amo, de verdade, amo esse cara pela história de vida dele. Ja havia firmado compromisso em tocar nos Gigantes do Brega dia 03 de março no gold mar, simplesmente justifica que não poderia se apresentar porque XIMBINHA (O todo poderoso chefão) não permitiu sua participação com a Ralé do brega.

Queria dizer a todos que não nos consideramos gigantes, lembrem que desde a minha juventude remota nunca gostei de títulos auto-glorificantes. O nome gigantes do brega é por que nesse show contamos a história dos verdadeiros gigantes de brega. Mauro Cotta, Iva Petter, Alipio Martins, Roberto Villar etc.

Bem gente eu quero fechar esse desabafo com a última da semana. Hoje dia 03 de março de 2018 recebemos uma decisão judicial de um juiz de primeiro grau impedindo a gente de usar o nome GIGANTES DO BREGA, embora essa decisão já havia sido suspensa pela justiça em 2 grau, na calada da noite, no fechar das cortinas, na véspera de nossa show recebemos a noticia que não poderíamos usar o nome e nem realizar o referido evento.

Isto não é motivo de tristeza pra gente! até por que a única coisa que fizemos foi mudar o nome da festa e tirar uma licença com outro nome, respeitando a decisão do honorável juiz. Porém, o que realmente é motivo de tristeza, é a alegria estampada no rosto de artistas que vibraram com a notícia.

Artistas que compartilharam a decisão liminar do juiz que impediu o nosso evento passado. Artistas como Josiel Correa que se vangloriaram, junto com outros tantos pela decisão do juiz em nosso desfavor.

Meu desabafo hoje é pra mostrar, que seja voce a Gaby, A Joelma, O Ximbinha, A Onete, O Josiel, O Michael Jackson seja você quem for. Sozinho você não brilha! Sozinho você não chega a lugar nenhum.

Sozinhos vão permanecer os artistas paraenses que insistem em se auto-destruir e auto-mutilar. Vamos continuar vendo e ouvindo muitas Danielas Mercurys brilharem com a nossa música, com os nossos talentos e dons. Vamos comer a farinha de tapioca e ver os gringos enriquecerem com o açaí congelado.

Vamos ver a era da “baianada” voltar, depois a era do Forró, depois a era do Funk, depois a era do Rock, e era uma vez o Brega.

 

Ass. Bruno Nóbrega Mafra