A nação indígena Gavião, cujo território fica em Bom Jesus do Tocantins, município do sudeste do Pará, esteve em festa, na última sexta-feira, 15, quando ocorreu a cerimônia  de formatura dos estudantes, que concluíram  Ensino Médio, por meio da metodologia Mundiar, programa implantado  pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), que visa corrigir a distorção escolar idade/ano e reduzir repetência e evasão de alunos da rede pública de ensino.
Com a iniciativa, voltaram para a sala de aula 91 indígenas no Ensino Fundamental (56) e Médio (35), matriculados para o primeiro módulo.
Na cerimônia  receberam  o grau 19 indígenas  Akrãtikatêjê, que tem o comando  da primeira cacique Gavião da  Twera Indigena (TI) Mãe Marial, Katia Tonkiyre, que realiza  um grande sonho, desde que assumiu  o comando do seu povo: garantir a conclusão  do Ensino Médio  do povo Gavião para que eles possam ir pra universidade  e retornarem como professores da escola da aldeia, e possam ter a educação  formal, mas sem perder a cultura, com a manutenção  da língua  da nação.

A estratégia de relacionar o conteúdo da proposta da matriz curricular à realidade da aldeia Akrãkikatêjê durante as aulas foi montada pela cacique Kátia Tonkyre, para cumprir a promessa feita em 2016, quando a turma foi formada, de que todos os estudantes matriculados  iriam se empenhar ao máximo para concluir o ensino médio, por meio da metodologia do Projeto Mundiar, implantado  pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc). O Mundiar visa corrigir a distorção escolar idade/ano, além de reduzir a repetência e a evasão de alunos.

O compromisso de Kátia Tonkyre foi cumprido: 19 dos 21 indígenas da turma do Mundiar participaram da cerimônia de formatura nesta sexta-feira (15), no Território Indígena da reserva Mãe Maria, da nação Gavião Akrãkikatêjê, localizada a 22 quilômetros da sede do município de Bom Jesus do Tocantins. Apenas dois estudantes não concluíram os estudos porque se mudaram para outra aldeia.

A solenidade de formatura da turma do Mundiar emocionou os participantes.

Uma festa com os rigores da cultura da aldeia, em dia de festa. Os índios se pintaram e entoaram cânticos de agradecimento na língua-mãe do Povo Gavião.

A cerimônia ocorreu na Escola Hôpryre Ronoré Jopikti Payaré, cujo nome é uma homenagem ao cacique Payaré, pai de Kátia Tonkyre, pioneiro da luta que tornou autônoma a nação Gavião Akrãkikatêjê.

Pela dimensão da festa, não resta dúvida de que a educação formal faz parte dessa autonomia.

“Temos nossa sabedoria ancestral, mas precisamos ter acesso ao conhecimento da educação formal do kupên (homem branco) para defender nosso território e manter nossa cultura”, disse Kátia Tonkyré.

Os estudantes concluíram o ensino médio em 2017.

Seis dos 19 concluintes já chegaram ao ensino superior, em faculdades que funcionam em Marabá.

Segundo Kátia, isso é resultado “de um longo trabalho, como idealizou meu pai, que sonhou com a autonomia do nosso povo”.

Joseane Baia Akrãkikatêjê, caloura do curso de Pedagogia, foi uma das indígenas que concluiu estudos pelo Mundiar.

Ela morava em Tucuruí, município de origem do Povo Gavião, que foi remanejado para Bom Jesus do Tocantins após a construção da hidrelétrica.

“Eu estudava na outra aldeia, em Tucuruí, mas vim concluir o ensino médio aqui, pois conheci o Mundiar quando visitei minha irmã. Gostei muito, porque a gente não ficava só nos livros, mas se assiste a vídeos, tem teatro, apresentações de trabalhos, o que torna o aprendizado mais fácil. Vou me formar e voltar para minha aldeia, para ser professora”, contou Joseane Baia.

Além da nação Gavião Akrãkikatêjê, outras etnias foram atraídas pelo Mundiar, como os Guarani e os Tembé.

Tamari Tembé saiu de outra aldeia, todos os dias, para assistir às na aldeia Akrãkikatêjê, “muitas vezes a pé, com muitas dificuldades, mas nunca pensei em desistir, pois estava sem estudar há mais de ano, e as aulas na aldeia da Kátia são do modo que nosso povo gosta, com respeito a nossos costumes e a nossa cultura”. Tamari Tembé é calouro de Administração.

A Escola Hôpryre Ronoré Jopikti Payaré é bilíngue. Todos os estudantes têm aula também na língua Akrãkikatêjê – uma forma de manterem a cultura e os costumes.

Além do Mundiar, 60 estudantes estão matriculados no ensino fundamental regular.

“Aqui não nos importamos com prédios, mas com o conhecimento que é transmitido ao nosso povo, e esse estudo é de muita qualidade. Nosso povo aprendeu muito. Meninas que eram tímidas, hoje se expressam muito bem”, frisou a cacique Kátia.

Quinze professoras indígenas e não indígenas da Seduc estão lotadas na aldeia Akrãkikatêjê. Há o Projeto Mundiar e estudantes no sistema regular. Na aldeia, cerca de 60 estudantes estão na escola, matriculados da educação infantil ao 9º ano.  (Fotos Fernando Nobre)