Sálvio Dino passou a ser incluído no rol de minhas agradáveis amizades depois de um breve encontro, na Redação do jornal O Progresso,  em Imperatriz, lá por volta de 1980.

Um dia ele chegou assim faceiramente, abrindo a porta da sala onde eu trabalhava, e soltando um alegre “bom dia”, com sorriso largo de contentamento.

– “Então… você que é o Hiroshi Bogéa ! Tudo bem? Sou o Sálvio Dino, aquele que de vez em quando manda artigos para publicação no jornal”.

Foi assim.

Apresentou-se e me apresentou a ele.

Dali em diante, encontros sistemáticos  entre eu e Sálvio ocorriam na gostosa cidade de Imperatriz.

Conversávamos na Redação, em alguma mesa de bar, e umas duas vezes tive o prazer de ir até uma casa que ele tinha no município de João Lisboa, localizado na Região metropolitana da Grande Imperatriz.

(Alguns anos depois, se não me engano por volta de 1988, Dino viria a se eleger prefeito de João Lisboa).

Vivíamos ainda os Anos de Chumbo, aqueles que marcaram tristemente o Brasil com uma sangrenta ditadura militar.

Nessa época, Sálvio Dino ainda sentia na pele e, principalmente, na alma, as dores de ser uma vítima da repressão porque teve seus direitos políticos cassados.

Amigo do peito de Jurivê de Macedo, diretor de Redação do jornal O Progresso (um dos meus mestres do Jornalismo), Sálvio  tinha vontade de me conhecer, desejo revelado pelo meu irmão-amigo Jurivê.

-O Sálvio é um poeta e escritor, gosta muito de seu texto e da coragem com que você aborda diretamente  o regime militar em seus artigos, disse a  mim Jurivê.

Depois de se apresentar  na porta da Redação, Sávio foi logo sapecando.

– Rapaz, eu sou seu fã. Gosto muito do que escreve…

Eu também gostava de ler e reler os artigos que Sálvio mandava a O progresso, como colaborador.

Sensível, texto simples e agradável, humanista, Dino inspirava em minha juventude coragem pra seguir em frente querendo “salvar o mundo”.

Escritor, todo livro que lançava -, Sálvio fazia questão de me mandar um exemplar autografado.

Acabei de conferir na estante de casa, algumas das dezenas de obras escritas pelo mestre das escritas.

Estão nas prateleiras, autografadas por ele:  ” Um Moço na Tribuna”;  “Raízes históricas de Grajaú”; “Nas Barrancas do Tocantins”;  “Semeando Manhãs”;  “Quem passar por João Lisboa”;  “Onde é Pará, onde é Maranhão?”; ” O perfil histórico do rio Tocantins”;  “Clarindo Santiago: o poeta maranhense desaparecido no rio Tocantins”; “Leões: um palácio de histórias, lenda, mitos & chefões”;  “Parsondas de Carvalho: um novo olhar sobre o sertão”;  e “A Coluna Prestes e Exilar-se – passagem pelo sul-maranhense”.

 

Em julho de 2008, Sálvio Dino deu uma esticada até Marabá com objetivo de me ver -, e entregar pessoalmente  um exemplar de   “Parsondas de Carvalho: um novo olhar sobre O sertão“ .

Decepção.

Eu estava ausente da cidade, mais precisamente em Belém.

– “Vim aqui em Marabá lhe entregar exemplar de um novo livro meu,  não avisei antes pra lhe fazer surpresa. Seu telefone quem me deu foi o Jurivê…..”, me alcançou pelo celular.

Fiquei chateado não poder reencontrar o amigo,  na minha terra.

A nova obra de Dino mereceu atenção especial minha aqui no blog(  LEIAM AQUI  ).

Dois anos depois, logo após a morte de nosso amigo comum  Jurivê Macedo,  numa de minhas viagens a Imperatriz, o alcancei através de uma ligação.

Marcamos encontro na beira-rio, num final de tarde, ele todo risonho, e eu com a alma tateada de emoções.

Nos abraçamos efusivamente, e lembramos da trajetória jornalística corajosa e destemida de Jurivê,  falecido meses antes.

Embora aparentando  envelhecimento físico bem acentuado, Sálvio Dino continuava jovial com suas ideias humanistas, trabalhando intensamente em municípios onde era conhecido, para ajudar a eleger o filho Flávio governador do Maranhão.

Em sua primeira disputa, Flávio viria a perder a eleição naquele ano para Roseane Sarney

Nas conversas que eu mantinha com Sálvio, aprendia muito sobre a Coluna Prestes, movimento revolucionário comandado por Carlos Prestes que saiu varrendo o país em suas andanças, até chegar a Carolina.

Dino conhecia tudo sobre Prestes, tanto que viria a lançar, em 2016, seu último  livro: “A Coluna Prestes e Exilar-se – passagem pelo sul-maranhense”.

Também para o lançamento desta obra, Dino não esqueceu aqui do amigo.

Mandou um zap:  “Espero você na Academia Maranhense de Letras para me alegrar no lançamento do livro “A coluna Prestes e exilar-se – passagem pelo Sul maranhense” .

Não deu pra ir.

Mais uma em falta com o querido amigo.

Essa foi a última obra de mais de vinte livros lançados.

A passagem de Luís Carlos Prestes pelo Sul do Maranhão é o foco do livro “A coluna Prestes e exilar-se – passagem pelo Sul maranhense” que o pesquisador e escritor Sálvio disponibilizou aos brasileiros.

Muitas das histórias contidas no livro eu já sabia.

Dino me contara, descrevendo  a imensa casa onde Prestes ficou alojado em Carolina – ele e seus seguidores.

Fui várias vezes a Carolina,  não para me deliciar  das belezas naturais das grutas de “Pedra Caída”, mas para ficar fotografando a “casa de Prestes” e percorrê-las em seu silêncio, ainda imponente numa esquina da cidade próximo a praça.

E sintam como Sálvio Dino era realmente um humanistas que fazia questão de expor a pulsação de sua alma!

Não lançou o livro apenas para a elite intelectual de São Luís.

Não!

Saiu percorrendo as cidades de Carolina, Riachão, Balsas, Loreto, Mirador, Colinas e outras localidades maranhenses  nas quais a Coluna Prestes tenha passado.

Fez ato solene e autografou a obra em muitos municípios.

Meus leitores amigos, escrevo tudo isso para dizer o quanto estou triste, nesta segunda-feira,  com a morte de Sálvio Dino, pai do governador do Maranhão,  Flávio Dino.

Eu deveria ter usufruído mais dos conhecimento e da agradável companhia de Sálvio.

Deveria ter ido mais ao seu encontro, pelo menos levado meu abraço a uma noite de autógrafo.

Pelo menos isso.

Não fiz.

O Brasil perde um  brasileiro humanista, advogado, pesquisador, historiador, escritor, poeta,  político sério, homem do Bem.

A Covid-19 matou Sálvio, que  morreu no início da manhã desta segunda-feira (24), vítima do novo coronavírus.

Ele tinha 88 anos e estava em tratamento na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Carlos Macieira, em São Luís.

A notícia da morte de Sávio Dino foi confirmada pelo próprio governador do estado em sua rede social.

Na postagem, Flávio Dino presta uma homenagem ao pai com um poema do escritor maranhense Gonçalves Dias.