Mengão

O texto é do jornalista Richard Souza

 

Vozes que viram braços e empurram. Que impulsionam um time com reconhecidas limitações, mas fazem do impossível algo palpável. Foram 53 mil rubro-negros no Maracanã na noite desta quarta-feira. Pareciam muito mais. A velha e boa casa, agora moderna e bem cuidada, continua acolhedora e mágica. Foi apenas o terceiro jogo do Flamengo no palco reconstruído. Antes, o time enfrentara Botafogo e Fluminense no Brasileirão. Pela segunda vez, o Rubro-Negro mandou uma partida desde o seu retorno ao estádio, mas o melhor jogador do time esteve nas cadeiras. Coube a Elias o gol decisivo da vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro, que fez a equipe de Mano Menezes avançar às quartas da Copa do Brasil (assista ao vídeo), mas é inegável : o golaço foi marcado fora de campo.

Houve irritação e algumas vaias após alguns erros, principalmente de André Santos e Carlos Eduardo, mas quase 90 minutos de apoio. Ora com vozes, ora com mãos tremendo em clima de suspense, os torcedores do Flamengo não desistiram da classificação nem por um instante. Não houve desânimo. Ninguém arredou o pé antes que a bola entrasse. A impressão que se tinha é de que seria assim até o gol sair. Se precisso fosse, amanheceriam lá. Homens, mulheres e crianças à espera daquilo que foram buscar: vitória e vaga.  

O relógio foi cruel. Apressado, fez o primeiro tempo passar quase sem ser notado. Foram 45 minutos de muita pressão, mas de pouca eficiência do Flamengo diante da forte defesa cruzeirense. Além disso, alguns sustos com o ataque celeste. Seria preciso gritar mais na etapa final, fazer os jogadores correrem como nunca, cantar em volume máximo. Foi exatamente isso. Chance atrás de chance, o Rubro-Negro batia e voltava contra os zagueiros rivais. Aos 20 minutos, o grito de gol até saiu, mas rertornou rápido e amargo para a garganta. Moreno fez falta no goleiro Fábio, Carlos Eduardo completou para a rede, mas a arbitragem anulou corretamente. Nove minutos depois, silêncio ensurdecedor. Vinícius marcou para o Cruzeiro, que também teve o lance anulado de maneira acertada. 

Algo dizia que aquela comemoração efusiva dos torcedores do Flamengo com a notícia da escalação de Elias teria algum fundamento. Vê-lo em campo deu confiança, trouxe a garantia de que seria possível. Mesmo que ela não se confirmasse. Aos 43 minutos do segundo tempo, o volante e os 53 mil rubro-negros festejaram juntos. Jogada de Paulinho pela direita, cruzamento rasteiro para a área, chute colocado, curva venenosa, e gol de vitória e classificação.

Aos 43. Foi assim também em 2001, na decisão do Carioca contra o Vasco. No velho Maracanã, o gol de falta de Petkovic desmontou o adversário. Um a um, eles caíam em campo incrédulos e desanimados. Desta vez foram os cruzeirenses que levaram um soco no estômago.