A morte do empresário Daniel Franco está levantando discussão a respeito da inexistência, em Marabá, de recursos hospitalares para o manejo das urgências e emergências cardiológicas. Além do assunto provocar debates entre comunitários, o médico cardiologista Manoel Veloso, filho do ex-prefeito Geraldo Veloso, deixou comentário, tecendo considerações.
O que diz o médico:
Caro Hiroshi,
Minhas sinceras condolências à família, em especial, aos filhos do Daniel Franco, pela sua perda, de maneira tão súbita e que nos deixou todos com aquela sensação de impotência diante da brevidade da vida. Eu, que já vivi a experiência de perder o pai, sei que o chão parece estar faltando. Força!
Porém, como cidadão e profissional de saúde, desta cidade, não posso deixar de comentar o quanto acredito que estamos despreparados para atuar, como comunidade, quer seja no âmbito de saúde pública, quanto no da saúde privada, no manejo das urgências e emergências cardiológicas.
Cerca de 30% da primeira manifestação de um infarto é a morte súbita. Se ela ocorre distante de um desfibrilador (chance de quase 100% na nossa cidade) a possibilidade de salvar esta vida é praticamente nula. Existe a possibilidade de, ocorrendo a parada cardíaca diante de alguém com treinamento em suporte básico de vida (procedimentos que devem ser tomados antes da chegada da equipe médica), mantenha-se uma circulação mínima por massagem torácica compressiva vigorosa, por cerca de 15-20 minutos, podendo oferecer chance de vida cerebral. Depois disto, é imperativo que uma equipe de socorristas já esteja no local para promover o choque elétrico e medicações na tentativa de restabelecer a circulação, melhorar a oxigenação e transportar a pessoa para um hospital com equipamento de hemodinâmica para realização de cateterismo imediato. Se a equipe de cardiologistas intervencionistas conseguir desobstruir a artéria responsável pelo infarto, segue-se um período de recuperação em UTI cardiológica, com altas possibilidades de complicações posteriores, porém com chances reais de vida.
Dentro do que descrevi, vamos tentar verificar nossa realidade:
Não temos formação de suporte básico de vida para leigos. Cursos deveriam ser ministrados para a população em geral, profissionais de saúde, profissionais do comércio, de hotéis, aeroportos, rodoviárias, todos enfim. Não temos implantada na cidade uma política de desfibriladores automáticos.
Nossa unidade de atendimento móvel de urgência (SAMU) é insuficiente e mal estruturado para cobrir nossa cidade quase metropolitana. Daí pensarmos que um acionamento desta equipe seja efetivamente realizado em 10-15 min (tempo telefone-doente) provavelmente será exceção.
Não dispomos de hospital com serviço de hemodinâmica. O Hospital Regional Dr. Geraldo Veloso iniciou obras no sentido de ampliar capacidade e nela estão previstos investimentos para hemodinâmica e cirurgia cardíaca, além de unidade intensiva cardiológica. Vamos esperar para ver se acontece deste modo. Partindo do princípio que já estivesse em funcionamento, como ficaria o acesso a este centro? Como está hoje, o paciente deveria ser deslocado para o HMM e de lá tentar vaga no Regional. Vamos lembrar que quem está na situação crítica de recuperação de parada cardíaca não pode perder nenhum minuto. No máximo, em até 03 horas do início do quadro, a artéria já deveria estar aberta idealmente, para minimizar as consequências e aumentar a chance de sobrevida.
A situação é pior no setor privado, pois ainda não temos nenhum leito de UTI, para, ao menos, manter as condições de vida antes de uma transferência aérea, que demorará pelo menos 04 horas (mais que o tempo ideal e se tudo der certo – convênio, dinheiro, avião, equipe, vaga no destino, distância, transporte do hospital para aeroporto e aeroporto hospital).
Portanto, o que é que estamos fazendo?
Esperando o Governo do Estado nos entregar um centro de cardiologia intervencionista e de cirurgia cardíaca, ok. Mas, e até lá? E se as coisas não saírem como planejado? Não é fácil trazer hemodinamicistas e cirurgiões cardíacos experientes para cá. Neste mês, estamos deixando o Dr. Arílson Rodrigues, hemodinamicista, filho de Marabá, aceitar proposta em Belém e está nos deixando, após tentar montar este serviço por aqui, sendo também não é certeza se seria chamado para compor a estrutura do Regional, mais tarde.
Creio que não podemos simplesmente esperar. Temos que juntar forças para que esta estrutura de proteção funcione.
Precisamos discutir este e outros problemas em conjunto, sociedade, médicos (unimed, CRM, cadê a associação médica?), políticos, poder Municipal e Estadual.
Vamos parar de desperdiçar vidas tão importantes para nossa sociedade.
Desculpe o desabafo.
Abraço.
Manoel Veloso
ARTHUR LOBO
29 de abril de 2012 - 07:56Li atentamente o comentário oportuno do Dr. Manoel Veloso, o qual ainda nao tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em Maraba durante as minhas visitas a este município como coordenador dos hospitais regionais do estado. Tive excelente recomendações por terceiros de sua qualidade profissional.
Concordo 100% de que precisamos treinar o maior numero possível de socorristas em todas as esferas da sociedade e coloco o HR Geraldo Veloso a disposição afim de que seja um polo irradiador de conhecimento e capacitação neste sentido
A disponibilidade de desfribiladores nos locais públicos nao e realidade brasileira e salvo raros exemplos,além do que tem de ser prescindido do treinamento citado anteriormente
No entanto,há um ponto em questao que nao foi tocado que e mais importante que e a dieta balanceada, exercício físico e hábitos de vida de uma maneira geral de educação em Saude como o combate ao tabagismo que devem ser intensificados no município de Maraba e que custam bem menos e salvam mais vidas, cabendo ao município a assistência básica em sua grande parte.
Quanto ao HR gostaria de informar que em julho entregamos a região do Sudeste a UTI ampliada com mais 10 leitos e toda equipada, obra esta que já esta bastante avançada. Agora daqui a 10 dias começam as obras do novo prédio da HEMODIALISE e admnistracao que nos vao permitir transferir o espaço hoje ocupado pela direcao para instalação do setor de hemodinamica completo, que devera estar pronto nos próximos 7 meses. a ampliação da UTI e fator imprescindível neste processo.
Agora, a hemodinamica vai salvar muitas vidas sim, no entanto, a maioria dos procedimentos vao ser eletivos como em todos os serviços deste porte. O que precisamos e diagnosticar a nível ambulatorial os pacientes que necessitam de cateterismo afim de corrigir os processos obstrutivos das coronárias ou doenças das válvulas cardíacas, doenças sentais, etc..
Espero ainda poder contar com os colegas da terra habilitados como o Dr.Arilson nesta empreitada.
Tenham certeza que um novo tempo esta chegando para Saude de Maraba e regiões vizinhas
Dr.Arthur Lobo
Coord. HR do Estado do Pará
Anônimo
25 de abril de 2012 - 21:43Este povo do Tiao e Salame,tem que falar no Maurino,todos sao culpados se a 15 anos atráz tivesemos faculdade de Médicina.já teriamos centenas de Médicos e residentes ajudando no atendimento.e os governadores deste estado que nunca deram prioridade a nossa Cidade. os outros nao conseguiram nem cadastrar Marabá no Ministério das Cidades,nem regularizar o transporte,nem terrenos das casas de Marabá.e muito menos melhorias para a saúde de Marabá.Salvo só o Dr. Veloso que fez a sua parte.tivemos prefeitos., Doutores,médicos,engenheiros,arquiteto,de formaçao suspeita.Marabá precisa de Muitas coisas,mas direcionar tudo que nao fizeram a Maurino é injustiça.só fizeram praça e pavimentaçao de má qualidade sem drenagem.deixaram Marabá só com o H.M.N e o Santa terezinha que foi reaberto no governo atual.ficamos sem 08 casas de Saúde que atendia pelo S.U.S.Maurino é o menos culpado da situaçao da saúde em Marabá.
Luis Sergio Anders Cavalcante
25 de abril de 2012 - 13:39É no mínimo preocupante o depoimento do Dr. Manoel Veloso. Vindo de quem conhece, sabe e diáriamente labuta com essas necessidades. Não precisei ainda – graças à Deus – da especialidade em questão(coração), porém, já passei por situação vexatória de demora, em termos de consulta sòmente, tanto como usuario do SUS como de Plano de Saude pago. A demora só é um pouco menor na modalidade privada. Há que se rever conceitos. Em 25.04.12, Marabá-PA.
Paulo Pereira
25 de abril de 2012 - 12:40Caro jornalista Hiroshy Bogea.
O cardiologista Manoel Veloso está mais do que correto ao desnudar, sob a ótica técnica, a triste situação em que nos encontramos, tendo as asas da TAM, Gol e Trip, como as melhores e mais confiaveis rampas de acesso a hospitais confiáveis.Impressionante, como o pessoal do Maurino, à similitude de “quandús” espinha-se todos quando sente no ar a ameaça de se propagar verdades contra ele e sua administração.Não importa se a saúde está, nacionalmente, na UTI, aqui em Marabá, nestes quatro anos em que se encastelou no Paço Municipal, ele poderia ter feito algo para minimizar o problema.Não fez e portanto tem no seu passivo uma parcela considerável de culpa.
Saúde sempre é bom
25 de abril de 2012 - 12:29Cavalo de troia não devemos e nem podemos fazer, mais com certeza deveremos estar atento e unir forças para que estas e outra situações possam ser contornadas ou até mesmos solucinonadas, o que o Dr Manoel escreveu com muita propriedade é um retrato real de uma situação onde se correr o bicho pega e se ficar o bicho come, e nós perdendo vidas todos os dias para um sistema falido.Carajás Sempre Carajás
Lauriano costa
25 de abril de 2012 - 11:35a População de Marabá, agora ai aguardar, providencias, por parte do Simão Lorota.
anônimo
25 de abril de 2012 - 08:30Não vamos agora fazer desse momento triste pra Marabá” a morte do Franco “um cavalo de batalha eleitoral. Pois, a saúde está na UTI, desde à muito tempo no Brasil. Precisamos, sim, de muita determinação para superarmos juntos as nossas dificuldades.