Michel Castellar e  Nelson Ayres, repórteres do Lance, jornal especializado em esportes de maior circulação do país, realizaram excelente trabalho sobre a escolha das sedes da Copa  do Mundo de 2014, inclusive publicando  custo-benefício de cada estádio projetado e as chances técnicas de cada um – caso a FIFA tenha escolhido as cidades dentro desse critério.

Manaus, na visão dos repórteres e de Amir Somoggi, consultor da empresa Casual Auditores, é fulminada de cabo a rabo. 

Belém aparece tecnicamente  factível.

Detalhe: há três quadros publicados ao lado das matérias do jornal, ilustrando, com números, as possibilidades reais de cada cidade, que não estão reproduzidos aqui no blog. Infelizmente, a reportagem não tem disponibilidade digital.

Artigos foram publicados na edição de 26 de maio.

 

 

Elefantes brancos da Copa

 

  Michel Castellar e  Nelson Ayres

 

No próximo domingo, a Fifa anuncia quais serão as cidades brasileiras que sediarão jogos da Copa do Mundo de 2014. Mas já se pode afirmar que muitos estádios projetados podem transformar-se em pesados elefantes brancos. Os investimentos propostos são bem maiores do que o retorno possível em algumas cidades.

Um exemplo é o estádio de Manaus, o mais caro da lista (R$ 580 milhões). Em um cálculo conservador, para se obter retorno aos investidores, seria preciso que rendesse R$ 38,8 milhões por ano (retorno de 1% ao mês). Hoje, o combalido futebol amazonense é capaz de gerar apenas R$ 2 milhões.

Para justificar o investimento, além da bilheteria, existem três caminhos neste momento: um grande projeto imobiliário, capaz de atenuar o impacto da obra do estádio; um centro comercial; e um programa de fidelidade de sócios. Não se pode contar com megashows de astros internacionais (do porte de uma Madonna) porque estes eventos são raros. No máximo, dois ou três por ano. E estes artistas fazem, no máximo, duas apresentações em cada país.

O valor baixo dos ingressos é um problema para o Brasil. Segundo estudo apresentado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, o valor médio dos gastos de um torcedor na Inglaterra é de 70 euros (R$ 198). Em Portugal, que sediou a Euro 2004, é de 35 euros (R$ 99). No Brasil, como pode ser visto no quadro ao lado, o ingresso médio varia entre R$ 7 e R$ 22 e não há bons serviços.

Também chama a atenção o custo dos estádios projetados para a Copa brasileira. Se compararmos com os alemães, veremos que o Brasil não foi nada modesto. Ao utilizarmos oito cidades praticamente certas (Rio, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza) e outras três candidaturas mais baratas, sem contar possíveis aumentos, encontraremos o número de R$ 3,529 bilhões. E o Mineirão ainda não tem números definidos. A Alemanha gastou quase o mesmo em 2006: R$ 3,941 bilhões.

Se consideramos  os valores projetados no quadro ao lado, vamos perceber que as cadidaturas das cidades mais desenvolvidas foram as mais bem trabalhadas.

O Maracanã  é um exemplo. Por sua simbologia e por investimentos na área de turismo, como o Museu do Futebol, já teria um acréscimo de retorno. Mas, se considerarmos a bilheteria de Flamengo e Fluminense, o estádio já seria viabilizado. Assim como o Serra Dourada, que tem tres equipes atuando frequentemente.

O São Paulo, apenas com a bilheteria, teria de aumentar a arrecadação do Morumbi em R$ 6 milhões anuais. Mas, com shows a patrocínios, o clube já arrecada atualmente mais do que este valor. Ou seja, se pagaria, sem pirotecnias. Assim, como a Arena da Baixada  e a Fonte Nova.

Beira-Rio, Mangueirão e Arena da Floresta são outros estádios com orçamento adequado ao retorno que poderão ter.

Na faixa intermediária, estão o Castelão e a Cidade da Copa, em Recife. Terão que investir pesado em turismo e áreas comerciais.

  

Infraestrutura é o desafio

No domingo, termina o sonho para cinco  cidade e começa trabalho intenso para as demais. E ser escolhida sede não significa  que a cidade está apta para receber as partidas da Copa. É apenas o primeiro passo. Se observarmos o quadro ao lado, perceberemos que as cidades pretendem investir pesado  em infra-estrutura. A Fida é rigorosa ao cobrar eficiência nos aeroportos, telecomunicações, saúde, sistemas elétricos, meios de transporte e vias de acesso.

Ao todo, são quase R$ 85 bilhões de investimentos projetados. Três cidades (inclusas aqui Belém, Brasília-DF e Porto Alegre)  ainda não fizeram ou não quiseram divulgar estes cálculos, deixando para se pronunciar  depois da escolha das sedes. E somente cinco dos 17 orçamentos  serão retirados  da conta final. Somente os quase R$ 4 bilhões de construção de estádios e você terá o valor do Mundial do Brasil.

Vale lembrar que falamos apenas em uma previsão inicial. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, o orçamento foi subestimado e teve aumento de 500%. Na África do Sul, já existe um aumento de quase 700% em relação ao orçamento inicial.

E a realidade para o torcedor da maioria das cidadessó mudará se elas forem escolhidas. Pelo planejamento divulgado pelos governos estaduais, somente em Florianópolis  haverá a construção de um novo estádio mesmo se a Copa não chegar. Ou seja, o Mundial  é a salvação para muita gente.   

 

O Engenhão é a nossa referência

 

               Amir Sonoggi, Consultor da Casual Auditores

 

O Brasil não pode  sair construindo estádio de R$ 400 milhões. E a nossa referência é o Engenhão.  Em estudos que fizemos, ele renderá R$ 40 milhões/ano se for bem explorado. É mais interessante investir R$ 430 milhões no Maracanã do que R$ 350 milhões no Engenhão. A mesma coisa vale para Mineirão e Morumbi. Outro detalhe é o efeito na sociedade. Na Alemanha, o governo investiu em dois estádios do lado oriental para gerar benefícios fora do futebol. Seria interessante ter Manaus como sede da Copa. Ótima estratégia de marketing. Mas não entendo os motivos de ter Campo Grande ou Cuiabá. Além disso, a FIFA é  uma entidade de futebol. E deve pensar onde existe futebol. Em Belém, existe futebol e o torcedor comparece.