Mamãe é uma roseira
Que o papai colheu;
Eu sou o botãozinho
Que a roseira deu.

Osquindô, lê lê !
Osquindô lê lê lá lá !
Osquindô lê lê !
Estica a perna, iaiá !

A maternidade me fascina. Um dos melhores acontecimentos da minha vida foi ser mãe de três meninos, lindos, lindos…

Porém, como mãe deixo muito a desejar. Sofro vinte quatro horas por dia com uma culpa doída por não conseguir ser uma boa matriarca. A culpa, li em um livro, é a planta trepadeira da maternidade contemporânea.

Mesmo sendo uma mãe caótica, que nunca consegue chegar nos eventos dos filhos no horário, perde a certidão de nascimento deles e é sempre  lembrada pelos próprios que precisam de alimento, meus filhos são tranquilos, amáveis, estudiosos (existe uma pequena exceção na família que tenho esperança que um dia se transforme) e, para minha alegria, cuidam de mim.

Meus rapazes fazem parte de uma geração que está crescendo com mães presentes/ausentes. As mulheres da minha geração (as trintonas) foram educadas para estudar, trabalhar, ganhar seu próprio dinheiro, não depender exclusivamente da figura masculina (homens são prioridades somente em momentos específicos), e ainda serem mães.

Acontece que não conseguimos ser tudo isso ao mesmo tempo. E nossos amados filhos terminam sofrendo a consequência de nosso caos existencial contemporâneo. Hoje em uma animado café da manhã com minha família, momento em que o filho do meio vasculhava pela casa a procura de um par de sapato para ir à escola, meu cunhado e minha irmã, que foram compartilhar esse momento conosco,  indagavam como eu havia conseguido, sem uma gota de preparo, criar filhos tão responsáveis.

Parei e respondi:

– Antônio, não sei como isso aconteceu!

Além de terem criado um dispositivo peculiar de sobrevivência, fritam ovos desde cedo (meu filho mais novo possui uma técnica que deixa a farofa de ovos molhadinha e crocante), esses meninos maravilhosos são extremamente preocupados com a mãe aluada que os colocou no mundo.

A frase que mais tenho ouvido ultimamente dos meus filhos é essa:

– Minha filha, vamos acertar uma regra, repita comigo: nada de internet até tarde. Minha filha precisa dormir, senão envelhece mais rápido.

A última parte da frase é um golpe baixo, mas sempre funciona.

Em conversas com outras mães contemporâneas os relatos são mais ou menos parecidos com os meus. Os filhos cuidam das mães, e dos pais também, com um esmero de causar inveja a qualquer galinha chocadeira.

Tenho uma amiga que declara que há anos levanta com a mesa do café da manhã já arrumada, o filho mais velho tomou para si a responsabilidade alimentícia da família, acorda sempre mais cedo, vai à padaria comprar pão, passa o café, organiza a cozinha e ruma para a faculdade. O interessante é que ela nem sabe como a cria prodigiosa conseguiu entrar na faculdade tão cedo.

Brinco muito com meus filhos, não paro de dizer a eles o quanto os amo, deixo recadinhos apaixonados no facebook, envio msn para os celulares deles, os beijo todos os dias antes de ir trabalhar, formas de apaziguar meu coração culpado de mãe e reafirmar a importância que têm na minha vida agitada.

Tanta demonstração de afetividade, que não me envergonho de compartilhar, produz nos meninos uma alegria contagiosa. Minha casa, que não sei por que nunca está organizada, vive repleta de pessoas, amigos deles, minha família, nossos amigos… Possui uma atração irresistível.

Chegar em casa tarde da noite e  ter que preparar um lanche para eles é rotina doméstica que executo com prazer, ainda pulam na minha cama e ficam jogando conversa fora até eu não aguentar de sono e expulsá-los do quarto. Em um desses momentos ouvi o seguinte pedido de um dos filhos:

– Mãe, a mãe do Gugu trabalha em casa, faz unhas, todo dia ela prepara o almoço pra ele. Por que a senhora não trabalha em casa fazendo unhas?

Me desarmou, procurei não cair no choro. Saí com a seguinte resposta:

– Eu não sei fazer unhas. Vamos passar fome.

No bem-humorado livro “A vida secreta de uma mãe caótica”, a escritora Fiona Neil imprime um olhar inteligente sobre a maternidade moderna, nos deixa mais leve com todos os dilemas que nos assombram diariamente. Leio o livro como diversão, recreação mental do meu caos de sentimentos entrecortados de mãe.

Quero desejar a todas as mães contemporâneas que, como eu, se contorcem de culpas maternas, um Feliz Dia das Mães sem culpas, apenas curtam a delícia da maternidade, beijem suas crias, as mimem até estragar, brinquem com os brinquedos prediletos deles, sorria de suas atrapalhadas domésticas e agradeçam a Deus pelo privilégio de poder desfrutar cada tempinho com essas criaturinhas agridoces que geramos, parimos, amamos, alimentamos, enfim, educamos.

 

Evilângela Lima Alcântara, Educadora, Diretora da Escola de Ensino Fundamental São José.