O maior projeto de Hidrovia em curso no Brasil , a Hidrovia do Araguaia Tocantins deve receber ainda neste primeiro semestre a liberação da sua licença ambiental, autorizada pelo Ibama.
Quem participa acompanhando a tramitação do processo de pedido da licença já recebeu informações de que um dos diretores do Ibama assinou a licença, faltando a mesma chegar à mesa do presidente do instituto para sua autorização.
Mesmo contrariando parecer técnico do próprio Instituto, um dos diretores passou por cima.
A denúncia foi feita pelo líder comunitário Ronaldo Barros Macena, presidente da Associação da Comunidade Ribeirinha Extrativista Vila Tauiri, que integra o Comitê Intergestor da Hidrovia .
Em contato com o blogueiro, Ronaldo sustenta que o parecer do Ibama não responde, por exemplo , questões como qual seria a consequência para a fauna e flora em determinados trechos do rio .
Para os líderes das comunidades ribeirinhas, as condições em que a licença vai ser concedida dão o tom , a forma como serão tratadas essas populações que vivem no cenário do projeto .
A decisão tensiona o diálogo com comunidades ribeirinhas agroextrativistas , quilombolas e indígenas que vivem na área.
O rio Tocantins é a fonte de vida dessa população.
Sobrevivem , da pesca, do extrativismo e da agricultura.
Para esses povos o momento é de apreensão. Eles se organizam para resistir e já contam com apoio de ativistas alemães .
O projeto em curso de criação da hidrovia do Araguaia Tocantins tão anunciado pelo Governo Federal , começa a ganhar forma e põe em cheque toda uma cadeia produtiva.
As famílias temem serem expulsas da noite para o dia como aconteceu na construção da Hidrelétrica de Tucuruí, inaugurada em 1984 pelo então presidente João Figueiredo .
O receio maior é de que a vida do rio que os sustenta, fique mais uma vez ameaçada e por isso, lutam para construir um caminho alternativo de forma que possam escrever seu próprio destino .
Dialogar tem sido a principal estratégia de luta das famílias.
A última reunião , envolveu 19 comunidades da área e teve o apoio de pesquisadores da UNIFESPA, representantes do Ministério Publico Federal e Museu Emílio Goeldi.
Segundo os ribeirinhos , a vida na área não é fácil.
No verão, enfrentam e vivem o isolamento.
A cheia das águas , encurta caminhos, mas dificulta a captura do peixe .
E com impactos ambientais e socioeconômicos que virão , como fica o futuro dos povos das águas?
Estudos preliminares mostram impactos que a Hidrovia do Araguaia e Tocantins poderão gerar a este importante bioma.
O projeto da hidrovia envolve o interesse socioeconômico do eixo Centro Oeste e Norte do Brasil .
Será uma das principais vias de transporte do corredor Centro-Norte brasileiro.
Abrange parte do Cerrado, a maior região produtora de grãos do País, e tem potencial para se transformar numa das mais importantes vias de águas navegáveis do País.
A navegação pela hidrovia, desde Barra do Garças (MT), no rio Araguaia, ou Peixe (TO), no rio Tocantins, até o porto de Vila do Conde, próximo a Belém (PA), privilegiadamente localizado em relação aos mercados da América do Norte, da Europa e. Oriente Médio.
Dados já apresentados mostram que a implantação da hidrovia para o transporte de grãos e outros produtos, implicaria em grandes impactos ambientais pela possibilidade de influenciar a dinâmica do pulso de inundação devido às obras de engenharia previstas e pelo aumento da navegação de comboios.
A concessão da licença nos moldes em que foi feita , estabelece o cabo de guerra entre governo e os povos das águas .
Traz de volta o velho dilema : a dicotomia entre desenvolvimento econômico e equilíbrio ambiental.
Ao longo da semana, o blog publicará uma série de matérias narrando a situação dos ribeirinhos, que não são contra a derrocagem do pedral do Lourenção, mas defendem um projeto que não inviabilize a coexistência de suas famílias.
“Queremos, sim, o desenvolvimento, mas precisamos ter segurança de que nossas possibilidades de vida sejam garantidas”, diz Ronaldo.
O jornalista João Salame, que terá um programa na Rádio KlickNews, também conversou com os ribeirinhos numa reunião na Vila Tauiri, e fará sua estreia narrando como se encontra a situação entre os ribeirinhos.
Fotos registram debates de ribeirinhos em reunião ocorrida na Vila Tauiri.
Mauro
10 de maio de 2021 - 18:00O projeto não tem componentes de alto impacto, não deslocar a as famílias nem impedirá a pesca.
Isto está amplamente documentado no IBAMA.
As comunidades tem conhecimento pois o diálogo sempre foi franco e já ocorreu em inúmeros encontros.