Testemunhas, companheiros de acampamento e parentes dos dez trabalhadores rurais mortos no Massacre de Pau D’Arco estão com medo e sob grande risco com a decisão do juiz substituto Jun Kubota, tomada hoje, de conceder a liberdade aos 13 policiais  acusados do crime. A prisão temporária havia sido pedida há um mês, mas o Ministério Público solicitou a prorrogação ontem (9), enquanto conclui o inquérito no qual apresentará a denúncia formal contra os acusados. A reclusão era exatamente uma estratégia para assegurar que as investigações seguissem sem interferência, assim como para resguardar todas as pessoas envolvidas no caso.

A liberação dos acusados se torna ainda mais estranha por ter ido em uma direção completamente oposta da tomada pelo juiz titular da vara, Haroldo Fonseca; Kubota assumiu o caso por causa das férias dele. O promotor Leonardo Jorge Lima Caldas lamenta a decisão e deixa claro que ela afetará as investigações. “Temos diversas testemunhas que apenas falaram após a prisão temporária. As investigações caminharam muito após isso. A soltura dos acusados certamente afetará o nosso trabalho”, afirma o promotor, que é um dos três que cuidam da investigação.

Outro elemento que causou surpresa foi a decisão de Kubota de determinar a soltura imediata dos 11 policiais militares e dois policiais civis que estão detidos; o prazo de 30 dias da primeira decisão, na realidade, só se esgota na quinta-feira. De todo modo, o Ministério Público já deixou claro que vai recorrer da decisão no Tribunal de Justiça. “A nossa expectativa é de que o desembargador que assumir o caso reveja a decisão da primeira instância, entendendo a gravidade da situação”, explica o promotor.

Há uma série de ameaças contra os trabalhadores rurais e testemunhas envolvidas no caso. Uma delas já se concretizou, com a morte de Rosenildo Pereira, no dia 7 de julho. Ele era uma das lideranças do acampamento na fazenda Santa Lúcia, palco do massacre. Assim como outros, vinha sofrendo ameaças. Muitas testemunhas tiveram que sair da Região Sul do Pará por medo de morrer. Com a possível volta dos 13 policiais acusados, o temor de novos assassinatos, assim como a intranquilidade de suas famílias, certamente aumentará.