Atualmente nossa gula é mais intensa. Nossos bandidos ou heróis não duram ao menos vinte dias. A matéria fica fria. O paraíso seria um Judas por minuto! Fervilharíamos nas redes sociais e nos sentiríamos ainda mais poderosos, cidadãos do facebook, intervindo diretamente na decisão suprema sobre quem sai do programa! A glória!
Nosso problema é que nosso Judas nunca é o mandante, o financiador, o poderoso, o diretor do reality show da hora, o que decide. Não. Nos contentamos porque ele, o poderoso, é quem aplaca a nossa “insaciável sede de justiça” ouvindo nosso clamor coletivo e jogando na fogueira o outro, o que cometeu o crime ali, na ponta, no caso, na tela. Afora o caso de Jesus, que Ele, sim, Era e É O Cara, os demais, sempre foram e são as “piabinhas” (e lá vou eu: salve as piabinhas…)
Nossas fogueiras são hipócritas demais! Por isso nunca queimam até o fim. Por isso estão sempre acesas, sempre esperando o próximo da fila. O que me incomoda é essa comoção nacional medida a cada segundo pelo ibope, alimentando a podridão do começo ao fim, que nunca chega.
Vamos lá: se era pra fazer justiça de verdade, justiça valendo, o slogan da vez não tinha que citar apenas “Daniel”, “Rafael” ou “Miguel”, e digo logo: esse papo de ser negro, me poupe, nem comento, de tão absurdo, porque estupro é crime sendo branco, negro, amarelo, vermelho, católico, espírita, evangélico, umbandista. Ponto.
Se era pra pedir a cabeça como, de fato e de direito a situação exige, a chamada tinha que ser também fora Boninho, Bial, BBB e Globo! Para quem faz e para quem manda, os rigores da Lei. Caiam todos: o que estuprou e os que acompanharam o estupro acontecendo ao vivo e a cores, não acudiram a vítima, editaram pra jogar nas nossas imensas telas pós-modernas e ainda tripudiaram chamando isso de “amor”. Quem mandou??!! Mas quem mandou, de verdade??!! Vamos lá, Brasil, Coragem! (Que é o que a vida nos pede, não é mesmo, nossa melhor alma, nossa verdadeira redenção, nossa parte Rosa?).
Em tempo de produção em escala, porém cuidadosa com a qualidade do “produto final”, Ghyslaine Cunha nos premia com outro belíssimo texto, agora publicado, originalmente, no Ponto de Pauta.
Os quatro parágrafos em itálico complementam o rabo-de-arraia que a talentosa moça arremete lá para as bandas do reality show global.
Texto completo AQUI.