A lindinha Waleiska mexeu num tema sempre desconsiderado pelos jornalistas: a invasão de privacidade. O caso contado por ela no post linkado faz lembrar fato parecido, ocorrido ano passado, em Marabá.

Um nervoso repórter, acompanhado de cinegrafista, forçava a barra para registrar imagens de um menor que se encontrava na casa dos pais, num bairro pobre da idade, acusado de assaltar estudantes à porta de colégios. A equipe de TV tentou enquadrar o rosto do rapaz de vários pontos: do muro de uma casa vizinha, do interior do carro da empresa e até à porta da residência do suspeito. A mãe do menino também se posicionava, como escudeira, colocando as mãos à frente da câmera, pedindo em voz alta que não filmassem o filho.

Sempre atribuindo “o direito de informar” e dando garantias de que haveria o uso de tarja para não identificar o delinqüente, o repórter armou barraco praieiro, revelando o quanto é desinformado quanto aos limites de sua atuação profissional e a ausência de oferta de capacitação por parte das empresas de comunicação locais.

A prática da invasão de privacidade por jornalistas é um mal em ritmo de expansão. A postura do “sou repórter e posso tudo”, grifada com sabedoria pela Waleika, parece transformar-se em regra.

Até hoje, os chamados paparazzi, sob a concepção da opinião pública italiana, foram os responsáveis diretos pela morte da Princesa Diana, ao forçá-la fugir desesperadamente num carro para não ser fotografada ao lado do namorado, causando a tragédia no interior de um túnel.

Apesar da confusa relação de Diana com a fama e a mídia, apesar da complexa cadeia de culpa específica pelo desastre em alta velocidade, a reação instantânea mundial contra os paparazzi indica que as pessoas pensam que nós, jornalistas, somos insensíveis e desdenhamos o mal que podemos causar. Há até quem diz sermos mais interessados nas fraquezas humanas do que em qualquer outra coisa, que invadimos a privacidade das pessoas para obter uma notícia que sirva de entretenimento fútil.

O desastre de Diana foi uma ilustração, literalmente cheia de dor, do dano que as pessoas acreditam que a imprensa pode causar.

Há necessidade, sim, urgente, de nós jornalistas questionar a forma correta de conduzir nossas duras obrigações profissionais sem esquecer aspectos morais e éticos da questão.

Assim como os médicos, os soldados e os policiais, os jornalistas, trabalhando distanciados da ética, estão entre os seletos grupos autorizados a causar danos.