João Salame, ex-prefeito de Marabá, presta justa homenagem em suas redes sociais ao também ex-prefeito de Marabá Nagib Mutran Neto.

Um texto bem escrito, carregado de fatos que marcaram a vida de Nagib na vida pública.

Taí, na íntegra:

 

Dia de relembrar um bom amigo. Nagib faz falta!

Deixei passar alguns dias após a morte do ex-prefeito e amigo Nagib Mutran para fazer essas reflexões. Do ponto de vista da amizade ainda me vem à mente o sorriso generoso do galego. As brincadeiras que fazíamos da nossa condição de descendentes de árabes. Ele era ruim de atender telefone. Quando eu conseguia falar com ele dizia: “porra, tú não atende porque pensas que vou te pedir dinheiro emprestado?”. E ele caia na gargalhada.

Nagib tinha uma mente privilegiada e uma capacidade de enxergar a política como poucos. Adorava uma articulação. Os bastidores. Detestava os bajuladores e admirava os adversários que tinham personalidade.

Minha relação inicial com ele foi de amor e ódio. De famílias amigas viramos duros adversários na disputa eleitoral de 1992, quando coordenei a campanha de Haroldo Bezerra à prefeitura, à época seu arqui-rival. Ele apoiava a chapa formada pelos amigos Plínio Pinheiro e Evaldo Bichara, dois políticos talentosos e habilidosos. Eram duros os nossos embates. Mas nunca deslizamos para o terreno dos ataques morais. Nós ganhamos as eleições.

Tempos depois começou a aproximação. O falecido empresário Daniel Franco promoveu o primeiro diálogo. Numa festa na AABB. Depois consolidamos a aproximação num papo na casa do Evaldo. Dali em diante passamos a nos tornar interlocutores frequentes. Como sou bom de combate, mas generoso com meus adversários, procurei entender as razões do Nagib para o que combatíamos em seu governo. E posso dizer que refiz muito das considerações que fazia, a despeito de continuar criticando erros cometidos por ele. Diga-se de passagem, muitos dos quais ele reconhecia.

Nagib surgiu para a política em berço de ouro. Rico, filho de família tradicional na política (seu avô foi um dos maiores líderes políticos de Marabá), médico cirurgião elogiado e jovem. Iniciava seus passos na política querendo revolucionar as práticas políticas locais. Não conseguiu, até pelas forças que o acompanhavam. Mas estabeleceu um modo próprio de agir, que o fez ser admirado por muitos até os últimos dias de sua vida.

O drama da política é que as pessoas querem políticos perfeitos e eles não existem. E descambam a atacar a todos sem nenhum critério, principalmente os que se destacam. Alguns merecem as críticas. Outros as levam em excesso.
Repito: quando entrou na política Nagib era rico e excelente médico. Provavelmente seria hoje um homem milionário e famoso. O que ganhou com a política? O stress o fez fumante inveterado. Seu patrimônio diminuiu.

Adquiriu doenças. Foi cassado. Passou a responder inúmeros processos. Perdeu o filho querido e dois irmãos. E sequer pôde ser velado por milhares de pessoas que o admiravam. E era acusado de forma leviana por muitos invejosos. Uma tragédia!

Nagib foi um dos prefeitos que mais executou obras em Marabá. As ligações entre as folhas. A pavimentação do Novo Horizonte e dezenas de outras. Que melhoraram a qualidade de vida de muita gente e deram um ar de urbanidade à cidade.

Foi meu secretário de saúde. Enquanto estava vivo os críticos de meu governo diziam que foi uma escolha ruim. Não sei o que pensam agora, pois a morte a todos santifica. Mas foi com ele na secretaria que aumentamos significativamente o número de Equipes de Saúde da Família; reconstruímos as Unidades Básicas de Saúde de Morada Nova, Laranjeiras, Independência e Folha 33. Implantamos os leitos para doentes mentais no HMM. Construímos e entregamos os Centro de Atendimentos Especializados para Álcool e Drogas perto da Casa da Cultura.

Reestruturamos o Samu, tornando-o regional. Entregamos ambulâncias a quase todas as vilas. Colocamos quase 150 médicos no serviço público. Deixamos o prédio da UPA pronto. Enfim, é grande o rol de realizações que não esgotarei aqui.

Tínhamos diferenças na forma de encarar a política. Mas não me sentiria em paz com minha consciência se não fizesse esses registros. Nagib foi um bom filho, pai, avô e esposo. Um bom companheiro de jornadas políticas. Um interlocutor que me instigava a entender que a política e a vida não são uma obra completa e precisam ser reescritas a cada dia. Uma tarefa que não está à altura das mentes pobres e doentias.

Como o galego faz falta! Você deu a sua contribuição. Vá em paz amigo. Agora você pode descansar!