Entrevista 2

 

 

 

A partir de hoje, publicaremos entrevistas com jornalistas, blogueiros, locutores, gente ligada à informação no Pará e em outros estados.

Profissionais que fazem da informação o seu ofício diário.

A série de entrevistas é uma homenagem direta deste blog a todos aqueles que, de uma forma ou outra, estimulam a nossa labuta de todo santo dia.

O primeiro é Jeso Carneiro (foto), 55 anos, repórter há quase 30 anos, e blogueiro desde janeiro 2005.

Carneiro é formado em administração, pós-graduado em Letras e Jornalismo Ambiental, nasceu em Abaetetuba, mas residente em Santarém desde os cinco anos.

Torcedor do São Francisco, Botafogo e Estado do Tapajós, o blogueiro é pai  de três filhos e um neto “estrela solitária, João Lucas”,k como ele daz questão de realçar.

Casado com Nita e com o jornalismo, pelos quais nutre paixão avassaladora, o primeiro entrevistado da série de bate-papos que iremos publicar semanalmente, como parte da celebração dos dez anos deste blog, não tem nenhuma filiação partidária, mas encontrou no jornalismo político o seu pièce de résistance.

Jeso Carneiro

 

 

O que te impulsionou a assinar o blog, hoje um dos mais lidos da região Norte?

O desejo de, digamos, desovar informações de primeira mão. Explico. Como na época eu trabalhava em um jornal semanário, Gazeta de Santarém, tinha que esperar uma semana para poder publicar furos jornalísticos. O blog surge, então, da necessidade de eu noticiar esses furos em plena ebulição, sob pena de serem vazados por outros colegas de profissão.

Do primeiro dia de publicação, ao tempo atual, quais as maiores dificuldades que vc enfrentou para tocar o projeto?

Até hoje diria que são as dificuldades financeiras. O tempo que eu dedico ao blog não corresponde aos ganhos monetários que consigo auferir com esse trabalho. Se não fosse o prazer embutido na profissão, com certeza já teria jogado a toalha no ringue.

Tens sido pressionado pelos poderosos de plantão a censurar alguma informação?

No início sim, e lá se vão 11 anos de dedicação ao blog. Mas com o tempo os poderosos perceberam que era vã qualquer tentativa de censura. Hoje a pressão é muito menor, e pontual. Por isso, mais fácil de resistir.

O teu blog varia publicações de posts e vídeo, tornando-o bastante diversificado. Tens equipe para produzir tudo isso?

Tenho articulistas, colaboradores e parceiros. Mas diria que 85 por cento do que é levado ao ar no blog é fruto de minha exclusiva e prazerosa transpiração.

A relação do blog com os políticos, como tem sido aí no Oeste do Estado?

Sempre ocorre alguns choques, mas tem sido uma relação de respeito e profissionalismo. Deixo bem claro que as críticas é para a figura pública, e que não há nada de pessoal. Político que se aposenta, por exemplo, sai do meu radar. Mas quem está em cena, no palanque, articulando, com foto nas urnas não posso deixar de acompanhar. É dever de ofício.

Você é blogueiro por hobby ou profissão?

Sempre encarei o blog como um exercício profissional de um repórter. Isso desde o início, há 11 anos, quando ser blogueiro era ainda agravante, uma atividade quase marginal. Hoje, é atenuante.

O que você mais gosta e o que menos gosta no seu trabalho?

Gosto da vida adrenalizante de repórter, de colocar luz em fatos e pessoas que vivem na sombra. Todo dia na vida de um blogueiro-repórter é diferente do anterior. Isso é para mim muito sedutor. O que menos gosto? A falta de tempo e dinheiro para fazer mais e mais jornalismo investigativo, mais jornalismo-denúncia, mais jornalismo que incomode os poderosos de plantão.

O que mudou na sua vida pessoal depois do blog?

Passei a dedicar menos tempo a minha família. Isso me incomoda. Mas eles sabem que minha entrega ao blog é prazerosa e necessária para que todos nós possamos ter uma vida digna. Conseguir formar uma de minhas filhas em Direito só com rendimentos e parcerias feitas graças ao blog. Vou repetir a dose com outra filha que cursa Psicologia. Não é pai d’égua isso?

Dê uma dica sua sobre o blog que dá certo.

Invista em matérias investigativas, exclusivas e regue todos os dias o seu blog com a água da credibilidade. Lá na frente, os frutos irão aparecer.

Qual blogueiro  te inspirou?

Foi o Ricardo Noblat, hoje no O Globo. Na época, em 2005, era independente, mais criativo. Gostei do blog dele e resolvi abrir um também.

Você imagina o fim do seu blog?

O meu blog vai acabar quando eu não tiver mais prazer em postar, quando eu não tiver mais tesão em dar furos, quando eu não puder mais escrever. Aí sim será o fim dele. E com certeza, o fim de uma parte enorme de mim.

O que você não faria por dinheiro nenhum no seu blog?

Plantar mentiras. Compactuar com canalhas. Expor fotos de suicidas… a lista não é curta não.

Quais blogues você lê, no Estado?

Do Bacana, do Paulo Bemerguy, do Hiroshi, do Dudu, do Lúcio Flávio Pinto. Em Santarém leio quase todos.

Como você avalia hoje a relação da grande mídia (jornais, TV e Rádio) com o público? São mídias em desuso?

A grande mídia se torna cada dia menor. Menos influente. Menos imponente, mais desimportante. As redes sociais, blogues, sites são responsáveis por isso. Acho que é inexorável esse caminho. O El País, um dos jornais mais importantes da Europa, acaba de anunciar o fim de sua versão impressa, para se dedicar só a mídia digital. Quantos outros já não se antecederam nesse caminho. E, com certeza, outros irão adotar essa decisão.

O futuro do jornal escrito, como você analisa?

Infelizmente creio que vai acabar. Eu posso me citar como exemplo para o fim desse tipo de mídia. Leio todos os dias vários jornais. Nenhum deles, veja só que assombroso, é impresso. Nenhum deles é de papel. Todos são digitais, consumidos no meu smartphone ou no meu notebook.