Em comentário enviado ao post Vale diz que logística é quem definirá futuro da Alpa, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, Italo Ipojucan, acrescenta informações sobre a luta para a implantação do pólo metal mecânico e a  derrocagem do Tocantins:

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Caro Hiroshi,

 

De fato é um tema com o qual tenho me ocupado desde o início da sua gestação. Lembro-me das palavras do Presidente Lula em Barcarena, quando em resposta às provocações da então Governadora Ana Julia, cobrava do Presidente da Vale, Roger Agnelli, a verticalização da produção mineral no Pará.

Sabiamente, ponderava que a região Norte teria que romper paradigmas para empreender novo momento na sua  base econômica.  Frente as dificuldades argüidas pelos grandes empreendedores, como ausência de logística, mão de obra qualificada, estrutura industrial de apoio, o governo federal e estadual   seriam instrumentos para a adoção de medidas e estratégias que tornassem possível uma realidade industrial arrojada e competitiva no Norte.

Ali, anunciou o momento seguinte, o lançamento da pedra fundamental da Alpa em Marabá e o término das eclusas de Tucuruí. Versou inclusive em tom que lhe é comum; ” Já não serei presidente quando inaugurarem….espero ser convidado para a inauguração, pois político sem mandato nem vento nas constas bate” . Pressentes na ocasião, além dos presidentes já citados, estava a então ministra Dilma, hoje presidente, a Governadora do Pará Ana Julia e todo o staff que acompanha uma comitiva desse porte.

Tudo o anunciado, posteriormente aconteceu.

Tenho sido um defensor ferrenho da vinda da ALPA e suas derivações. Também defendi de forma veemente, o cumprimento dos compromissos assumidos à ocasião, pelas partes envolvidas, Governo Federal, Estadual e Vale, para que o empreendimento fosse viabilizado no Pará.

Nessas ações, de alguma forma fui útil no processo de discussão, posto que estive envolvido em todas as etapas. Restou o que de fato não esperava que ocorresse, a suspensão da execução de um dos compromissos mais importantes, a derrocagem do pedral do  Lourenço.

Esse tema tem exigido minha atenção desde meados de março de 2011. Levei ao conhecimento de todos os que,  de forma direta ou indireta,  pudessem  interferir junto ao Governo Federal no sentido do restabelecimento desse investimento, com farta argumentação inclusive.

A Câmara Federal, o governo estadual e a sociedade civil organizada, tiveram a  oportunidade de participar do evento que a ADECON e ACIM promoveram em Marabá, na sede da Câmara Municipal em 21 de outubro de 2011. Nesse evento o DNIT e ANTAQ- Agência Nacional de Transportes Aquaviários, estiveram apresentando e ouvindo as ponderações do setor produtivo em relação a importância da hidrovia para o Brasil e para o Norte do País.

Também fizeram suas colocações a ADECON – Agência de Desenvolvimento do Corredor Centro Norte, o Governo do Estado do Pará, através de executivo que o representava, a ACIM-Associação Comercial e Industrial de Marabá dentre outras entidades.  Desse encontro originou  a CARTA DE MARABÁ, que expunha de forma contundente,  a imperiosa necessidade de que tais investimentos retornassem ao PAC. Esse carta hoje está devidamente protocolada em todas esferas da União que têm ligação com o tema.

Para resumir,  pois aqui poderia gerar trocentas laudas a respeito de todas as ações que estive envolvido para debater esse assunto, terminei por solicitar ao Dr.Jader Barbalho, no seu retorno ao Senado Federal, que empunhasse essa bandeira, que lutasse em favor do restabelecimento desse investimento no Pará,  que de pronto se comprometeu.

Entendo que compromissos firmados têm que ser cumpridos, é básico. A polêmica sobre viabilidade ou não da ALPA em Marabá sempre existiu. Fontes nos informavam de que internamente na própria VALE, a opinião era dividida – alguns contra, outros a favor. Atribuía-se inclusive, que a decisão por Marabá era política e não técnica.

Polêmica de lado,  por aqui, residia  o temor de que  qualquer descumprimento das condicionantes de responsabilidade de Governo, Federal e Estadual, pudesse ser elemento de justificativa para a Vale recuar do seu propósito – esse era o temor.

Isso  explica o empenho para que as esferas de governo federal e estadual, cumprissem sua parte no acordo. O Governo Estadual se desdobrou, já o federal…

A Ministra do Planejamento, em reunião de dezembro último, ratificou o posicionamento já colocado pelo Ministro dos Transportes em ocasião anterior. Participei de ambos os momentos. A posição foi de que no entendimento da Presidente Dilma, a VALE deveria participar do investimento na obra de derrocamento do pedral.

Nesse sentido, contato com a mineradora já teria sido feito e de agradável receptividade. Porem, exigia que estudos complementares a respeito do orçamento da obra, sobre o qual pesavam fortes  críticas , fosse refeito para avaliação.

Continuando, a ministra Miriam Belchior, afirmou que o reestudo já estava concluído e em fase final de ajustes para então apresentá-lo à Vale. Na ocasião informou ainda que certamente no final de janeiro/2012 teria notícias do resultado dessas negociações junto a VALE e as transmitiria à equipe do Governo Estadual.

Estamos em Março e nada.

A mim pouco importa quem vai fazer a obra, se governo federal ou Vale. O que importa é que ela é essencial e tem que acontecer, pela importância e para  justificar os recursos do povo, da ordem de R$ 1,5 BI que o Governo Federal  já gastou com o eclusa, que sem a derrocagem serve para absolutamente nada. Já dizia, é um elefante…de concreto…e branco.

Por ocasião da inauguração das eclusas, nos pronunciamentos do Presidente Lula, da então Ministra DILMA e do ministro dos Transportes,  foram unânimes em enfatizar a importância da eclusa como ponte para viabilizar a hidrovia Tocantins, sinônimo de geração de emprego, renda e crescimento econômico para o País.

Sem derrocagem não tem hidrovia, sem hidrovia não teremos ALINE, não teremos metal mecânico, quiçá teremos a própria ALPA.

Se repete a história que amargamos a cerca de  20 anos atrás. Anunciado o empreendimento em Marabá, um empenho de grande escala se registrou na comunidade, no  sentido da cidade procurar se adequar para esse momento, isso se registrou em todos os segmentos produtivos.

Mais agravante, a expectativa atraiu uma forte migração de pessoas e que aqui não encontrando o cenário aguardado, cuidam de engrossar as estatísticas negativas dos indicadores sociais. A revista semanal VEJA publicou;  Marabá TIGRE da Amazônia, em clara alusão ao crescimento da região e a oportunidade de negócios, que na prática…

Observei o sobe e desce de empreendedores dos mais diversos locais, prospectando a cidade em segmentos dos mais variados, dos quais muitos  ligados à navegação.  Após o anúncio da retirada dos recursos do PAC, os empreendedores foram embora sem concretizar negócios.

A ALPA literalmente  freou seu cronograma.  Em recente publicação da lista de investimentos da VALE para 2012, a ALPA não constava.  A informação oficial   é de que somente poderá constar como investimento, quando estiverem solucionados as  questões de  logística – entenda-se,   hidrovia do Tocantins e relocação da BR 230.

A discussão do pólo metal mecânico, reconhecida por todos os setores e empreendedores como estratégico para a região,  esta em cheque. A  cidade claramente atravessa uma séria crise. Se ressente ainda  a ressaca de uma crise que iniciou em meados de 2008 e até hoje existem segmentos que não retornaram à atividade.

O  movimento que preparava mão de obra para o mercado local, confiada nas demandas anunciadas, hoje esta servindo para a demanda instalada no município vizinho de Altamira  onde acontecem as obras de hidrelétrica de Belo Monte. O consórcio inclusive ajusta ações com o SINE onde  recruta os profissionais aqui formados.

Em meados de Maio de 2011, a imprensa anunciava uma reunião da Presidente Dilma com o poderoso Jorge Gerdau. O senhor Jorge Gerdau  capitaneava os gigantes da produção de  Aço no Brasil para essa reunião.  O objetivo da reunião era convencer à presidente que a VALE não deveria entrar no segmento de produção de aço e queriam contar com o entendimento da presidente. Para o grupo  a argumentação era farta. Era o cartel do Aço fazendo o seu jogo, pouco importava a condição do empreendimento como fator de desenvolvimento de toda a região no Norte.

A imprensa nacional divulgou sobejamente a intenção do grupo. Pouco  ou nada se viu é do resultado dessa reunião, eu particularmente nada vi. Fato é que tanto a reunião anunciada  como o desdobrar da suspensão dos investimentos da derrocagem foram por assim dizer, vizinhos. Pode ser coincidência, sei lá!

Como disse, sou  um defensor pontual do empreendimento consoante a agregação de tantos outros que o principal induz. Infelizmente confesso não ser mais possível ter a certeza que antes tinha, da realidade desse empreendimento,  por uma simples razão, tenho  dúvidas. Dúvidas sobre a lisura do comportamento de alguns dos agentes envolvidos, como Governo e Vale. Da  clareza das informações e dos propósitos. Por mais que as informações sejam afirmativas, urge a necessidade de ações concretas.  Não posso alcançar aquilo que faz questão de se ocultar ou  que pode estar sendo escrito nos bastidores de uma relação de gigantes.

Em que pese a dúvida, não desvanece no meu coração o ímpeto  à luta, à busca daquilo que acredito possível.  O trabalho incansável com esse propósito continua. Tenho convicção que milhares de marabaenses comungam do mesmo desejo.

 

Italo Ipojucan – Presidente da ACIM

Mab.04/03/2012.