Quando a intensa movimentação começou em torno da implantação da Siderúrgica Aços Laminados do Pará (ALPA) nós, que trabalhamos na única escola da Vila São José, comunidade localizada nas proximidades do empreendimento, ficamos sem saber o que pensar, o que fazer, que rumo tomar.

A frase que mais nos marcou naquele momento foi dita por alguém ligado aos movimentos sociais:  – “Quando o progresso chega, os primeiros que se aproximam são os ratos”. Com uma atitude de puro pavor o censuramos por ter sido terrivelmente pessimista.

Foi um período de muitas angústias e dúvidas, para os funcionários da escola, para os moradores da Vila. O que aconteceria com a esquecida Vila São José? Como lidar com questões tão desconhecidas? Até que ponto os moradores sofreriam o impacto de tão grande empreendimento?

Resolvemos seguir um único caminho: iríamos atrás das respostas. Assim iniciou-se uma intensa troca de informações sobre o projeto ALPA, entre nós professores e funcionários da empresa responsável pela ALPA,  porém não queríamos ser os únicos a saber de tudo, queríamos compartilhar com toda a comunidade tudo que fossemos descobrindo. A questão seria como, pois havia muitas informações técnicas que se tornavam complicadas até para o mais dedicado ouvinte.

Somos educadores e por isso acreditamos que conhecimento deve ser socializado, divulgado. Resolvemos então fazer nossa Feira de Ciências anual com o tema ALPA POR TODOS OS ÂNGULOS. Contamos com a total dedicação dos responsáveis pela implantação do empreendimento, que não nos negaram nenhuma informação e ainda foram verdadeiros professores para nossos alunos, explicando a crianças de oito anos mecanismos complicadíssimas de forma paciente e metódica.

Filtros de manga, precipitadores eletrostáticos, usina de pelotização, chuva ácida, estatísticas dos grandes empreendimentos siderúrgicos no Brasil, o mercado consumidor do aço no mundo, mapeamento da área da ALPA, desvio da Rodovia BR 230, foram alguns dos temas que dominaram as conversas de professores e alunos naqueles meses que antecederam a Feira.

Nosso objetivo era conscientizar toda comunidade da Vila São José sobre a importância do que estava acontecendo nas proximidades de suas residências, não com a intenção de impedir a chegada do progresso, mas de ensiná-los a preparar ratoeiras para quando os ratos (os especuladores imobiliários, os investidores gananciosos e políticos que surgem do nada) quiserem se aproximar.

Nossa Feira de Ciências foi um marco na comunidade, os alunos aprenderam minúcias do projeto que muitos “caras ligados” não dominam, foram críticos em seus questionamentos, resolveram prosseguir com os estudos, porque querem chegar a gerentes, diretores da ALPA no futuro.

Trabalhamos com a finalidade de formar pessoas empreendedoras de suas próprias carreiras, crianças que sabem o que querem ser quando crescer e não medirão esforços para realizar seus sonhos. Metas que os próprios funcionários da ALPA os ajudaram a traçar, tornaram-se verdadeiros parceiros da educação na Vila São José.

Os moradores da Vila São José resolveram se posicionar de uma forma diferente, não como vítimas do sistema, mas como iguais, com direitos iguais, com igualdade nos diálogos mantidos com órgãos e empresas ligadas ao projeto.

Como no poema que Paulo Leminski fez em homenagem a Frei Betto:

santa é a gente

quando lá fora faz frio

e aqui dentro está quente

entre! Digo eu,

hora de ser igual,

hora de ser diferente,

entre você e entre

 

(*) Texto de Evilangela Lima – Educadora e Diretora da Escola de Ensino Fundamental São José, localizada no Km 8 da Rodovia Transamazônica, sentido Itupiranga.