Em entrevista à imprensa, o governador do Pará, Hélder Barbalho (MDB), define a situação do estado como gravíssima, muito crítica, e vê a possibilidade de a capital Belém seguir o mesmo caminho de Manaus, que está sem leitos hospitalares para atender os pacientes com coronavírus.
O estado do Pará já tem 91% dos leitos de UTI ocupados.
“Eu não posso descartar essa hipótese de Belém ficar igual a Manaus. Nós estamos num momento muito crítico. Situação gravíssima, principalmente porque temos aqui a falência da porta de entrada, o que acabou por rapidamente agravar a situação das UTIs. As unidades básicas de saúde [municipais] não estão cumprindo com o papel de orientação, fundamentalmente na região metropolitana”, afirma Hélder Barbalho.
“Já as unidades de pronto atendimento e prontos-socorros principalmente de Belém estão da mesma forma. Ontem assistimos o que já vinha sendo recorrente: unidade pronto atendimento com porta fechada, pronto-socorro não mais recebendo paciente”, completa o governador.
A crítica do político emedebista atinge diretamente o trabalho do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho (PSDB).
“As pessoas estão indo até a UPA [Unidade de Pronto Atendimento], ficam sem atendimento, e, quando chegam para nós, já estão em um nível de agravamento com obrigação de internação”.
“Equívoco do governo”
Hélder Barbalho também é duro nas críticas quando o assunto é o posicionamento do governo federal, em especial o do Ministério da Economia.
Para o governador do Pará há um equívoco na pasta comandada por Paulo Guedes de avaliar como bomba fiscal a ajuda financeira aos estados durante a pandemia do coronavírus.
Na sua visão, basta que o governo tenha “a mesma sensibilidade que tem com os bancos e banqueiros”.
“Eu acho que há um equívoco por parte do Ministério de Economia de avaliar neste momento de crise, de dor, de perda, que recomposição de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços], recomposição do ISS [Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza], e de outros impostos, possa ser interpretado como bomba fiscal”, criticou.
“Estamos num momento de excepcionalidade e o governo federal é o ente da federação que tem reservas que podem neste momento produzir moeda e receita inclusive com a solidariedade do congresso, dos órgãos de contas e órgãos da Justiça. Basta que a mesma sensibilidade que eles têm com os bancos e banqueiros possam ter com a sociedade brasileira”, afirma.
“Estamos expostos”
Hélder Barbalho teve a Covid-19, com sintomas leves, mas sua voz ainda está nasalada como a de quem se recupera de uma gripe. Essa experiência pessoal, ele admite, fez com que visse a doença com ainda maior preocupação.
Jovem, 40 anos, o político alerta que esse vírus não escolhe idade, nem grupo de risco.
“Todos nós estamos expostos, com ou sem outras comorbidades. Por isso, é fundamental que aqueles que precisam sair possam fazê-lo apenas em casos excepcionais, da forma mais rápida possível, já que o que pode salvar a população em larga escala é o isolamento social – até que consigamos fazer uma travessia menos traumática possível para a sociedade, distensionando o sistema de saúde brasileiro”.
Em meio ao agravamento do quadro de leitos hospitalares e construção a toque de caixa de um hospital de campanha que vai aumentar em 400 o número de leitos no Estado, o governador do Pará vê o mês de abril ter uma queda de arrecadação de ICMS em algo como 10%.
A partir de maio, a previsão é de 30%.
“Nós estamos aqui nos desdobrando para que a estratégia fiscal possa ser eficiente neste momento. Tínhamos uma reserva prevista para o ano de 2020, que está sendo consumida. Nossa expectativa é que essa reserva, caso não haja socorro, possa ser a válvula de escape para que possamos atravessar esse momento com o menor prejuízo dos serviços”, explica.
“Exemplo negativo”
Enquanto o país vê algumas regiões começarem a flexibilizar a saída do isolamento social, Pará manteve a redução no horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços.
Até por isso, Hélder Barbalho afirma que a postura do presidente Jair Bolsonaro de ir contra o isolamento social, incentivando manifestações, é um “desrespeito àqueles que perderam entes queridos e aos profissionais de saúde”.
“Não colabora, não coopera, é um exemplo negativo que acaba por validar aqueles que desafiam a ciência, desafiam o conhecimento, a medicina e, isto tudo, é um desrespeito aqueles que perderam entes queridos e aos profissionais de saúde que estão na linha de frente para defender todos nós”.
Em relação ao vice-presidente Hamilton Mourão, o governador é só elogios, especialmente no que diz respeito ao Conselho da Amazônia, comandado pelo general.
Isso mesmo que o colegiado não conte com a participação de governadores do Norte.
“Acho que o vice-presidente Mourão tem se demonstrado alguém habilidoso. É por um lado cobrar e por outro prestigiar”.