A frase é do ex-deputado Gabriel Guerreiro, falecido ontem, no Rio de Janeiro, expressada ao seu colega de parlamento, Parsifal Pontes, que conta em seu blog como foi o último encontro com ele:
———–
Quando Guerreiro teve o seu mandato cassado, em novembro de 2013, alquebrou visivelmente. Já me confidenciara que, no seu sétimo mandato parlamentar – era o deputado com mais mandatos na Casa – não concorreria às eleições de 2014.
Quando eu soube do resultado daquele julgamento, fiz-me à ele, hipotecando-lhe solidariedade. Apertei-lhe a mão com força. Seus olhos marejaram e a voz embargou: “não quero sair da vida pública como um condenado”.
Dei-lhe três fortes pancadas no peito (homens disfarçam carinho em outros homens com brutalidades) e assegurei-lhe que ele não sairia da vida pública como um condenado: eu conhecia o processo e tinha a mais absoluta certeza de que o TSE reformaria a decisão do TRE-PA.
No dia 18.12.13, encontrei Gabriel Guerreiro na entrada do Plenário. Ele me olhou e disse que me procurava para comunicar que o TSE lhe concedera liminar mantendo-lhe o mandato.
Naquele momento os olhos do deputado, novamente, marejaram, mas o motivo era o júbilo. Crispei uma mão em cada ombro dele e o sacudi resoluto: “eu lhe falei, meu caro! Isso é o seu presente de Natal!
Gabriel agradeceu-me o apoio. Apertamos as mãos e eu lhe presumi: “se não nos vermos mais, Feliz Natal e um ótimo Ano Novo pra você e a sua família”. De fato, não nos vimos mais depois daquele momento.
O geólogo Gabriel Guerreiro era um dos mais preparados deputados da Alepa. Tinha um discurso articuladamente consequente e conhecia, com profundidade, as causas que lhe justificavam o mandato.
Que a terra seja leve aos dois. Minhas condolências aos familiares.