Presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, Gilberto Leite é um talentoso executivo com fina sensibilidade política. Tem o perfil raro de trafegar desinibido por todos os segmentos partidários levando como bandeira única a consolidação do desenvolvimento sócio-econômico do Sul do Pará. Nas crises brabas, ele sempre é chamado para acalmar ânimos e redirecionar posições preservando a unidade dos diversos núcleos da atividade produtiva.
Nos últimos três meses, ele bateu bola em quase todas as posições. Diante do isolamento ao qual se colocou a Asica (Associação das Siderúrgicas Carajás), sem ter espaço nem para ser recebida em gabinetes governamentais, Gilberto foi convocado para servir de interlocutor – mesmo sendo presidente da ACIM -, nas negociações que o setor guseiro passou a ter com os governos federal e estadual.
Com o agravamento dos índices de violência na região, solicitado pelos dirigentes de outras entidades, lá estava ele reivindicando e mostrando ao governo a melhor forma de conversar com a sociedade indignada com tantos assaltos e crimes registrados.
Quando quase todos os municípios do Estado se rebelaram contra a morosidade dos órgãos governamentais para a liberação de planos de manejo do setor madeireiro, provocando o fechamento de centenas de postos de trabalho, manifestações públicas pipocaram pelos quadrantes paraenses. As lideranças das entidades produtivas dos municípios do sudeste, em sua grande maioria dependia da posição da Associação Comercial e Industrial de Marabá para convocar grande ato de paralisação de todas as atividades por três dias. Ouvido, Gilberto sugeriu aguardar o resultado da reunião marcada pela governadora com representantes madeireiros . “Se a gente sentir que estamos sendo mesmo levados na barriga, radicalizamos de vez”, disse. A paralisação não ocorreu e os compromissos assumidos pelo Estado na reunião da governadora agradaram a todos.
À véspera da viagem de Ana Julia pelo Sul e Sudeste participando de plenárias do PTP e das quatro audiências públicas marcadas pelo governo federal para discutir a criação do Distrito Florestal, Gilberto fala sobre uma agenda produtiva a ser discutida. “A formatação dessa agenda é inadiável”, diz.
A seguir, a entrevista:

P- Você não tem medo de ser acusado de estar esfriando as mobilizações populares em favor de ações mais pragmáticas?
G – Qual a diferença disso? O foco não é desconstruir. Eu sempre participei de mobilizações, principalmente na época em que enfrentar a Vale do Rio Doce era moda. Qual o resultado prático que tivemos das ameaças e concretização do fechamento de ferrovia, rodovias e comícios e mais comícios em logradouros públicos? Não ganhamos nada! Absolutamente nada! Acho até que fazíamos mais proselitismo. A mobilização extrema só deve ocorrer quando não se tem mais canais de negociação. E hoje vivemos momento propício para avançarmos uma agenda produtiva negociando com os governos federal e estadual, bem como estreitando cada vez mais as relações com a CVRD.

P- Essa Agenda Produtiva envolve o que?
G- Todas as obras do PAC no Pará, Maranhão e Tocantins, de uma forma ou de outra exercerão forte influência nesta região: os asfaltamentos da Transamazônica e BR-163, as eclusas de Tucuruí, a Ferrovia Norte Sul irradiando desdobramentos nas cidades do Sul do Pará próximas ao Araguaia; a hidrelétrica do Estreito; o programa Luz para Todos, citando apenas algumas. É perfeitamente possível inserir nessas obras de grandes investimentos os empresários, comerciantes e industriais daqui. Só um exemplo: temos em Marabá e região empresas que produzem em larga escala postes de concreto do padrão exigido pelo governo para expandir energia à zona rural. Esse pessoal tem que estar dentro desse bolo, fornecendo o produto a ser consumido nas obras, gerando com isso emprego, distribuição de renda. Dei apenas um exemplo. São vários.
Os projetos da Vale do Rio Doce em fase de implantação nos municípios de Parauapebas, Marabá, Curionópolis, Canaã, Ourilândia terão que abrir espaço para nossos comerciantes, empresários e prestadores de serviços estarem dentro deles como fornecedores em potenciais. Isso, no entanto, só será possível quando todas as empresas regionais se profissionalizarem adequando-se às normas rígidas da mineradora. Por isso realizamos sempre encontros com dirigentes da Vale, mantemos parcerias com o PDF e buscaremos esse objetivo.
Do ponto de vista empresarial, muitas amarras dependem também dos canais de articulação com os governos federal e estadual. Com a globalização, os interesses público-privados convergem, porque no fim da linha tem o público-alvo que é o consumidor, a massa de assalariados. Há necessidade do envolvimento de todos. Jamais combateremos a pobreza sem a participação também do investidor.
Melhorar o aspecto urbano das cidades tornando-as mais humanas e com uma melhor distribuição de rede de esgoto e saneamento. Quanto mais infra-estruturas tiverem os municípios, mais investimentos privados eles recebem.

P – Como é possível fazer essas amarras de forma produtiva diante dos limites impostos pelo marco legal? Desenvolvimento sustentável é utopia ou o caminho?
G – É o único caminho que nos resta. Não há outro. Utopia é pensar ao contrário. Nenhuma empresa pode se considerar moderna se não assimilar esse foco. O passivo ambiental não encontra sustentação nos paises desenvolvidos que são, ainda, os nossos verdadeiros patrões e maiores consumidores. Ademais, trabalhar na ilegalidade é só para quem quer ter vida curta no mercado. Temos conversado muito sobre isso com nossos colegas. Sabemos que não é barato caminhar por essa estrada, o reflorestamento é oneroso do ponto de vista financeiro mas com lucros maravilhosos para a imagem do empreendedor e para a própria natureza, um bem comum da civilização que Deus nos premiou. Acho que encontraremos saídas, estamos negociando isso.

P- Você tem falado que o maior problema da região é a falta de mão-de-obra especializada.
G- Isso não somos nós apenas da ACIM quem falamos. É o próprio mercado quem está a exigir. A Vale do Rio Doce tem grande dificuldade em encontrar engenheiros de Mina em disponibilidade. Numa projeção de que ela investirá até 2010 cerca de UR$ 8 bilhões com a possibilidade de crescermos em média 20% ao ano, é preocupante isso. É preciso treinar a mão de obra, oferecer cursos, municiar com muita informação nossos jovens. Dependemos da inteligência deles para crescermos.