Gessé Simão, presidente da Cooperativa de Mineração de Garimpeiros de Serra Pelada, foi entrevistado pelo blog. Falou das denúncias feitas contra ele por desafetos, tratou da luta pela aprovação do projeto de aposentadoria dos garimpeiros e sobre o futuro da garimpagem mecanizada – além de mais duas áreas auríferas conquistadas pela Coomigasp.

 

 

Um grupo de ex-dirigentes da cooperativa voltou a denunciá-lo de má aplicação dos recursos que a Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada recebe para administrar o garimpo. O que tem de verdade na questão de desvio de recursos apontado pelos seus denunciantes? .

Isso é coisa sem fundamento. São pessoas que sempre foram inimigas do projeto (mecanização da atividade em Serra Pelada), meia dúzia de pessoas. É muito claro, é evidente, porque elas têm se posicionado de todas as formas. Não tem um garimpeiro que tem contato com essas pessoas, que não são garimpeiras, não tem nada a ver com Serra Pelada ou com nosso contrato. Nós temos um contrato privado com a empresa Colossus (empresa canadense que tica o prjeto de mecanização) e temos nosso custeio operacional. Dentro do contrato, essa verba mensal é repassada para a Cooperativa, e a Cooperativa, naturalmente, como qualquer outra empresa, exerce suas ações, o dia a dia de trabalho, suas tarefas e responsabilidades… É um custeio operacional que está no contrato. Agora, essas denúncias são coisas evasivas, como já disse, porque, na verdade, tudo isso que foi para a Justiça, um bando de denuncismo que houve aí, eles foram para a Justiça, e todas as ações deles foram esvaziadas. Por quê? Porque eles nunca conseguiram provar nada contra mim. Na verdade, para ser bem curto com essa conversa, a verdade é que eles não toleram nosso trabalho.

 

Por quê?

Muito simples.
Quando nós chegamos ali (em Serra Pelada), só havia problemas: problemas de processos trabalhistas, ações cíveis que foram transitadas e julgadas, tudo gerado por eles, por esses elementos que passaram pela Cooperativa e nunca fizeram nada para os garimpeiros. Hoje nós estamos cuidando do processo de aposentadoria dos garimpeiros, estamos cuidando de nossa mina, que não tinha nada realizado antes de nossa eleição. Só existia perseguição, a empresa (Colossus) estava fragilizada pela forma de pressão deles, todos os dias praticavam atos de vandalismo, terrorismo, até assassinatos. Então essas pessoas tentaram fragilizar o projeto porque eles entendiam que deveria haver um complexo Carajás – e eles tomando conta. Ora, os garimpeiros é que tinham o direito de decidir o que era melhor para todos, já que eles é que são os donos do Garimpo de Serra Pelada – e foram eles que tomaram essa decisão, em assembléia, contratando a empresa Colossus que está trabalhando na implantação do projeto de mecanização do garimpo.

Mas isso não é muito pouco para os garimpeiros que há tantos anos sonham por dias melhores?

A verdade é que já realizamos um conjunto de ações que está possibilitando ao garimpo se transformar em área produtiva, brevemente. Conseguimos realizar audiência pública aqui em Curionópolis sobre o projeto; junto ao Conselho Estadual de Meio Ambiente, conseguimos autorização para licença ambiental; conseguimos registrar o PAE (Plano de Aproveitamento Econômico); conseguimos sensibilizar o governo federal a se manifestar favoravelmente a um Termo de Ajustamento de Conduta, ao contrato,que foi exatamente para dar equilíbrio aos 25% livre aos garimpeiros. Além disso, conseguimos a nossa concessão de lavra, que foi entregue aqui pelas autoridades do Ministério de Minas e Energia, com a presença também do Governo do Estado, autoridades de todos os níveis. E, por último, conseguimos a imissão de posse da jazida. Isso não é pouca coisa. É o que o garimpeiro mais desejava! O garimpeiro é dono, hoje, de uma mina. Claro que esses esforços todos têm custos, têm despesas elevadas.

Quais são essas despesas?

Quando nós assumimos a Coomigasp, o garimpeiro vendia o fogão dele, o botijão de gás, para poder vir participar das assembléias.

Atualmente, não! A cooperativa custeia todas as despesas deles, custeia alimentação, custeia os ônibus para poder transportá-los. Estamos construindo agora a sede da Coomigasp.

E fazemos isso porque entendemos a cooperativa como a casa deles.

Existe o custo com funcionalismo, que não são poucos funcionários. Existem os diretores com salários muito bons – e o valor desses salários não fui eu quem criou. Quando eu assumi a presidência da Coomigasp, já existia o valor salarial regulamentado pelos estatutos da Coomigasp.

Temos hoje, bom se diga ainda, despesas nos estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Piaui, Brasília e Goiás, porque temos delegacias regionais funcionando naqueles lugares, pessoas que trabalham representando politicamente o garimpeiro e fornecendo todas as informações que o garimpeiro precisa. Hoje, os garimpeiros que moram em cidades daqueles estados não necessitam estar vindo a Serra Pelada porque existem delegacias regionais.

Temos despesas com as viagens que eu faço, despesas com advogados. Pra você ter ideia, a Coomigasp tem hoje oito advogados contratados por causa desses elementos que outrora roubaram os garimpeiros, elementos que deveriam estar na cadeia, esses que me denunciam.

Esses precatórios trabalhistas que existem hoje foram gerados por esses elementos, que deixaram nossa entidade quebrada. Hoje, não. A Coomigasp está organizada, nós temos três consultores que nos ajudam a organizar a cooperativa, e não são baratos, não. Os advogados, também não são baratos.

Portanto, é muita despesa que arcamos. Tem mês que eu quase não chego a dar conta de pagar os credores, mas temos cumprido com nossa obrigação.

Agora eu pergunto: por que essa pequena minoria que se opõe a mim não fiz até agora nenhuma denúncia contra aqueles que verdadeiramente levaram dinheiro da cooperativa, na época em que o garimpeiro vendia seu botijão de gás para poder vir para uma reunião? Vendia porque era convocado na marra, “tem que vir correndo” – e lá se mandava o coitada sem nenhuma condição para custear suas viagens. Época do Curió, época do João Lepos, que são os elementos que me denunciam, esse João Lepos, Luiz da Mata, esse povo ai que não tem o que fazer… A verdade é que essas pessoas passaram pela cooperativa e nunca fizeram nada. Mas até que eu levo em consideração porque todos eles são frustrados, tudo bem, não conseguiram fazer nada.

Eu trabalho todos os dias, tenho uma equipe de diretores que trabalham.

É por causa de todas essas ações que realizamos hoje que essa minoria insignificante me persegue. Faz essa onda toda de denuncismo, faz essas acusações contra mim como se a cooperativa estivesse passando por um momento cheio de dinheiro.

Eu queria era que eles dissessem para a sociedade que “esse Gessé é um maluco: ele dá ônibus para garimpeiro, ele dá comida para garimpeiro, ele não deixa o garimpeiro gastar um centavo…” Eu queria que eles dissessem isso, que eu não deixo, e não deixo mesmo, não!, o garimpeiro na mão, eu sempre o ajudo quando precisa de apoio; tem uma família que está doente, morreu alguém da família, eu estou sempre ao lado dele, sempre estive presente. Esse é o mal que eu tenho feito para o garimpeiro. Ou, no pensamento da formação deles (a oposição) isso eu não devia fazer porque aí ficaria mais fácil para eles (opositores) continuar com o vandalismo e o terrorismo que faziam anteriormente.

A verdade é que eles levaram isso para a Justiça, para as autoridades, mas de nada adiantou porque a Justiça viu, teve a oportunidade de conhecer, comprovar de perto que o nosso trabalho é sério.

Para lhe falar a verdade, eu não dou muita trela para essa movimentação desses opositores. Os garimpeiros já os conhecem, sabem que eles em nada contribuíram até agora pela viabilidade do garimpo. Ocorre que tem muitos órgãos de comunicação que não conhecem a verdade, desconhecem o que se passa dentro de Serra Pelada, e dão eco a essa turma do contra. E, por desconhecerem a verdade, acham que há algum grau de seriedade nas baboseiras que eles inventam. Mas não há nenhuma novidade nisso, não. Eles já me denunciaram em todos os órgãos do mundo – se puder dizer assim. E tudo foi esvaziado, comprovadas as denúncias vazias. Por último, recentemente, tentaram nos denunciar na Assembleia Legislativa, com intenção, inclusive, de fazer uma audiência pública aqui; vieram aqui (deputados) em Curionópolis e viram que tudo era denuncismo.

Tanto nós da Coomigasp como representantes da Colossus, demos explicações à comissão de parlamentares, explicações essas tidas como satisfeitas pelos deputados.

Em diversas instâncias da Justiça, aqui em Curionópolis, Marabá, Belém, e até em Brasília, na Justiça Federal, também da mesma forma. Os vereditos sempre foram favoráveis ao nosso trabalho. O meu dia a dia é muito transparente, eu trabalho para a Coomigasp, eu vivo para a Coomigasp. Eu deixo, às vezes, até minha família em segundo plano para me dedicar a esse projeto de viabilizar de vez a vida dos garimpeiros de Serra Pelada.

Fala-se na construção do Centro Administrativo da Coomigasp. Como ele será e quando as obras serão iniciadas?

Agora mesmo iniciamos a construção do nosso centro administrativo da cooperativa. Os nossos irmãos garimpeiros são proprietários da maior mina de ouro do mundo, que é Serra Pelada. Por esse motivo, não é justo que eles fiquem debaixo de cabanas indignas, sem nenhuma estrutura. Isso vai acabar. Curionópolis vai receber um dos mais estruturados imóveis da cidade, porque além do centro administrativo, vamos oferecer aos garimpeiros um ginásio com suas dependências esportivos, mais auditório, refeitório e um dormitório para os garimpeiros. Uma espécie de alojamento medindo 90 metros por quarenta – coisa mais linda do mundo.

 

Quanto a montoeira (lavagem de rejeitos), os chamados rejeitos da garimpagem em Serra Pelada, como estão as providências em torno desse tema tão polêmico no garimpo?

Bem, além de tudo isso que citei a você, estamos também trabalhando essa questão da “montoeira”. A empresa “Soberana Mineração” fez uma proposta que está passando agora por uma análise da diretoria da Coomigasp. Dia 25 de janeiro vou levar essa proposta à apreciação da Assembleia Geral dos garimpeiros, que, em última instância, é quem vai decidir essa questão do projeto de lavagem da montoeira.

Eu quero lhe dizer, meu caro repórter, que todas as decisões de nossa diretoria são decididas em assembléia, mas essas pessoas que falam de mim nunca foram numa assembleia. Nunca! Para pelo menos olhar, nunca! E olha que nós nunca fizemos uma assembléia com menos de vinte mil pessoas. A assembléia é soberana, é ali que tudo se decide democraticamente e de forma transparente. Acontece que essas pessoas que falam de mim têm medo de ir às assembleias porque elas são inimigas dos garimpeiros, inimigas da categoria.

Agora me diga o que eu tenho a ver com o pensamento de alguém que está do outro lado, que não faz parte da minha categoria, se tudo o que eu discuto, tudo o que a gente faz, é de acordo com os sócios.

Eu tenho 37 mil sócios. No meio deles, meia dúzia de elementos se levanta para fazer esse tipo de denúncia sem pé nem cabeça. Lamentável, mais ainda, que alguns órgãos de comunicam não compreendam que essas pessoas são inimigas do projeto Serra Pelada, há muito tempo inimigas do projeto. Todas as autoridades deste país têm conhecimento disso.

Para a sociedade paraense entender melhor esse processo quase sempre tumultuado de Serra Pelada: a Coomigasp fez um contrato com a empresa canadense Colossus para exploração mecanizada do ouro do garimpo. Como é que vai funcionar a engrenagem de produção em escala considerando a participação dos 37 mil garimpeiros supostamente beneficiários das riquezas a serem produzidas?

A princípio, nós estamos sendo representado pela SPCDM ( Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral) que é a empresa que caracteriza a nossa parceria com a Colossus e a Coomigasp. Através da SPCDM, nós vamos distribuir os rendimentos oriundos do que for produzido pela Colossus.

A distribuição dos rendimentos será igualitária para todos. Ou seja, nós temos 25% do que for produzido. Para exemplificar, se esses 25% representarem, usando um valor hipotético, R$ 1 milhão, este montante será dividido em partes iguais para os 37 mil garimpeiros associados.

Fala-se que o senhor estaria trabalhando para a criação de um holding que ficaria responsável pela gestão financeira das ações dos garimpeiros, ou seja, do valor financeiro a ser arrecadado com os 25% destinados ao associados. Essa versão é verdadeira?

Sim, é verdadeira. Mas eu não posso ainda falar muito sobre esse assunto porque estamos em fase de estudos, a ideia é recente, estamos trabalhando a questão com a consultoria do Dr. Lauro Assunção, expert nessa área de ações, ele foi presidente do Baneb (Banco do Estado da Bahia) , também secretário de Ciência e Tecnologia da Bahia – portanto, uma pessoa preparadíssima, e que aceitou trabalhar com a gente na elaboração de um projeto nesse sentido. Ele está elaborando estudos para a formação realmente de uma holding destinada a controlar a distribuição das ações entre os garimpeiros. Essas ações terão seus valores fixados através da Bolsa de Valores. A nossa preocupação hoje é para que o garimpeiro não venda o seu patrimônio, por isso nossa atenção voltada para a criação da holding que terá como um das suas funções orientar o garimpeiro como proceder para valorizar seu patrimônio, ao invés de vendê-lo. Ideia é de que a holding seja um tipo de sustentáculo do garimpeiro junto às instituições financeiras, respaldando-os na busca de algum empréstimo sem a necessidade de vender o que é seu.

Além do garimpo de Serra Pelada, quais outras áreas auríferas a Coomigasp pretende trabalhar mecanicamente a produção de ouro?

Além de Serra Pelada, nós conseguimos mais duas áreas. Veja bem, estamos falando de mais duas, além do garimpo de Serra Pelada, que mede cem hectares. As outras duas representam 700 hectares e uma outra área de 123 hectares, ambas próximas ao antigo buraco de Serra Pelada.

Já se anuncia pelo mundo de que a área de 700 hectares, pertinho da jazida antiga, é a mais importante de Serra Pelada. Na verdade, nós temos agora três projetos importantes dentro de Serra Pelada.

Agora é bom esclarecer que estamos implantando, no momento, o projeto antigo de cem hectares, e as outras duas áreas estão em fase de pesquisas. E a reservas têm sido demonstradas como de grande porte.

Como estão os movimentos em Brasília em torno do falado projeto de aposentadoria dos garimpeiros?

Estamos lutando para concluir esse projeto de aposentadoria dos garimpeiros. O garimpeiro terá, sim, sua aposentadoria. Nós temos um projeto no Congresso Nacional que já foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social. Estamos agora na Comissão de Tributação e Finanças, onde tem o deputado Junior Coimbra, relator, que foi eleito com o apoio da nossa categoria; tem o deputado Cláudio Puty (PT-PA), e ambos estão recebendo pressão toda semana de nossa categoria para fazer o projeto andar. Tive agora com o ministro do Trabalho para tratar sobre o assunto, tivemos também com o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), numa reunião que contou também com a presença do Sindicato dos Garimpeiros, Agasp Brasil, Freddigasp, Abasp e Amasp – entidades com legitimidade para apoiar a nossa categoria, inclusive a Coomigasp.

Então, o que nos estamos fazendo é um trabalho sério. Estamos trabalhando, inclusive, para que futuramente a gente esteja pronto para mobilização contra um possível veto da Presidência da República ao projeto de aposentadoria, com a desculpa de não sancioná-lo por que não tem recursos.

Nós não podemos permitir que o garimpeiro seja lesado, por isso estamos cuidando também disso, e estamos na frente, muito na frente. Já tivemos várias reuniões, inclusive com a participação de algumas pessoas e entidades que eram contra nós, anteriormente, se juntaram à luta, como todas as demais cooperativas, as entidades de apoio e agora o sindicato, que foi um grande adversário nosso, mas que entendeu a importância de estarmos unidos em favor do bem comum.

Finalizando, quando é que você acha que o projeto tocado pela Colossus estará definitivamente implantado para começar a produção de ouro?

Em 2012 começaremos a produzir, com fé em Deus.