Se o significado de ironia é quando o sentido real contraria o literal, no caso a ser tratado, é pura hipocrisia.

Poster refere-se à matéria assinada por Carlos Mendes, na edição de hoje do Diário do Pará, dando alarido aos valores declarados pela coligação Acelera Pará para aplicar na eleição de outubro. (R$ 47 milhões)

Num dos trechos da matéria “Campanha do PT entre as mais caras do país”, o moço salpica:

“Num estado cujos índices de miséria, desemprego, degradação de serviços público e violência são proporcionalmente um dos maiores do Brasil, o derrame de dinheiro previsto na campanha petista soa como escárnio à população”.

Faltou, na confecção do texto, o mínimo de criatividade, já que uma coisa não puxa outra – como bem afirma André Farias, coordenador da campanha de Ana Júlia, ouvido pelo repórter, ao discordar da relação gastos eleitorais X miséria, declarando que “não tem nada a ver uma coisa com a outra”.

E não tem mesmo, não!

O que o tarimbado jornalista deveria ter alardeado é a necessidade urgente do Congresso Nacional realizar a tal falada reforma eleitoral, priorizando o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais, sejam legais ou ilegais.

Faltou ele passar a informação de que a diferença entre uma e outra está apenas na hipocrisia da estrutura eleitoral, que reconhece o financiamento privado desde que sejam cumpridas algumas regras definidas em lei.

A discussão demagógica desse tema faz tanto mal ao país quanto o problema em si.

O princípio do financiamento privado precisa ser combatido, e não o aspecto legalista da questão. Além do mais, expectativa de arrecadação de uma coligação – pelo menos no Brasil sempre foi assim -, não bate nunca para menos.

É sempre pra cima.

Uns escondem a soma final do orçamento, outros nem régua passam na conta.

É tudo feito na mais obscura safadeza.

Quando se lê textos do tipo assinado por um dos decanos do jornalismo paraense, experiente como o é e com seu nome representando grandes publicações nacionais no Estado, dá para questionar os objetivos da matéria.

A tal chamada minirreforma aprovada, meses atrás, buscou, contraditoriamente, não atender aos anseios populares e à sofisticação do sistema político-eleitoral de modo a resgatar o falido regime representativo, mas responder e frear o ativismo judicial do Tribunal Superior Eleitoral.

Restou evidente a tentativa de impor limites ao papel ativo desempenhado pelo TSE, que, aos olhos do Legislativo, estava legislando através de suas decisões e resoluções.

Perdeu-se a oportunidade de realizar uma verdadeira reforma reestruturante das regras eleitorais, moralizando o pleito e legitimando a classe política.

Para certificar-se de que o financiamento privado de campanhas eleitorais é uma agressão à democracia, basta verificar com o cuidado que o tema exige a prestação de contas dos candidatos, depois dos pleitos.

Lá dá pra ler dados, números, valores, a relação custo benefício para as empresas que doaram recursos para a campanha.

E, o que mais interessa: sem dúvida, investir em campanhas eleitorais deve ser o negócio mais rentável do mundo!

As grandes empresas dão-se o luxo de financiar várias candidaturas, normalmente com mais recursos para umas e menos para outras, mas ficam “bem na fita” com todo mundo e quem for eleito poderá ressarcir de modo muito, muito generoso, o apoio recebido durante a campanha.

A Internet nos possibilita isto: constatar a ponta do iceberg das relações promíscuas entre empresariado e campanhas eleitorais

A democracia não pode continuar submetida a essa orgia, a essa brutal manipulação do quadro político cometida por meia dúzia de mega empresas dos diversos setores econômicos.

Enquanto não se acabar com essa farra, textos pseudo moralizadores do tipo publicado continuará sendo produzido, desviando a atenção daquilo que realmente interessa, não é mesmo, doutor?!