
Pecuaristas do Pará começaram a se mobilizar para pedir audiência ao governo do Estado no sentido de sensibilizá-lo, especificamente a Sema, a não assinar decreto proibindo a exportação do boi em pé pelo porto de Vila do Conde.
Aproveitando o vácuo da tragédia de Barcarena, que resultou na morte de quase cinco mil bois depois do afundamento de um navio transportador de boi em pé, os donos de frigoríficos – principalmente o JBS -, têm tentado influenciar setores do Estado a fechar de vez as portas da exportação da atividade, pelo porto de Barcarena.
No embalo do conflito de interesses, o governo de São Luís começa a ensaiar movimentos oferecendo oportunidades para o gado em pé ser exportado através do Porto de Itaqui, reacendendo aquela velha disputa provinciana entre os dois estados, para saber quem leva mais ferro de quem.
Na manhã desta quarta-feira, 4, na sede do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá, dezenas de pecuaristas, presidentes de associações patronais de Marabá e de outros municípios, debateram longamente o problema.
Na avaliação dos produtores, a questão do decreto está aguardando apenas autorização do governador Simão Jatene, para o titular da secretaria Estadual de Meio Ambiente passar sua assinatura, e posterior publicação no Diário Oficial.
Mauro Lúcio Costa (foto abaixo), pecuarista e exportador de boi vivo de Paragominas, fez longa exposição sobre a disputa entre pecuaristas e indústria, alertando todos para o grande mal que o fechamento do porto de Vila do Conde pode fazer à pecuária paraense, “certamente a de melhor qualidade do país e a que, nos próximos anos, estará na vanguarda da América Latina”.
Mauro Lúcio Costa já foi presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas e tem larga experiência no ramo.
Em palavras para bom entendedor, mas tendo o cuidado de não incitar a disputa com os frigoríficos, principalmente JBS, apontado por todos como o grande incentivador do movimento para fechamento do Porto de Vila do Conde para a exportação do gado vivo, Mauro Lúcio Costa disse que “o bom concorrente é o concorrente morto”, tentando explicar as tentativas dos frigoríficos articularem ações políticas contra a exportação do gado em pé.
“A cadeia da carne é difícil de entender porque boi é uma coisa e carne é outra”, disse um dos fazendeiros presentes, estimulando todos a tomarem ações imediatas de defesa e proteção do produtor rural.
“Se o campo acabar, a cidade morre”, disse.
Foi lembrada também, entre os debatedores, as lutas pelas quais os produtores rurais sempre passaram, sendo uma das mais marcantes o atual monopólio dos frigoríficos.
Conversando em off com o blogueiro, pecuarista de Redenção aponta o ex-deputado Francisco Victer, que já dirigiu a Adepará, no Estado, como um dos principais articuladores, nos bastidores governamentais, contra a exportação do boi vivo.
Ao ser perguntado pelo blogueiro se Francisco Victer seria espécie de “pau mandado” do JBS, o interlocutor riu, estimulando este repórter e tirar suas próprias conclusões.
Para todos os participantes da reunião em Marabá, o que aconteceu em Barcarena foi um acidente que poderia ter acontecido em qualquer parte do mundo.
“O Pará exporta 90% do boi em pé do Brasil, e o boi vivo é um verdadeiro regulador do mercado”, disse Alexandre Zucatelli, também presente ao encontro, filho de Reinaldo Zucatelli, um dos maiores produtores de gado no Sudeste do Estado.
Formou-se uma comissão que irá a Belém manter contatos com o governo, mostrar a cada integrante da área produtiva do Estado a importância do Porto de Barcarena, como corredor de exportação, para a economia paraense.
“O governador Simão Jatene entenderá perfeitamente a importância dessa atividade para o desenvolvimento de nosso Estado”, sinalizou o presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, Ítalo Ipojucan.
Entre centenas de pecuaristas e dirigentes de entidades, o blogueiro registrou também as presenças do prefeito João Salame; vice-prefeito Luiz Carlos Pies; Nene Caetano, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá (foto abaixo); Caetano Candido dos Reis Neto – Presidente do Conjove; Pecuarista Maurício Fraga Filho, diretor do SPRM, entre muitos.
Maurício Pompéia Fraga Filho
5 de novembro de 2015 - 18:20Prezado Hiroshi,
Só para esclarecer, o Francisco Victer representa a UNIEC – União Nacional da Indústria e Empresas da Carne. Na posição dele, ele tem que defender os interesses dos frigoríficos, muito especialmente o JBS, que é o mais forte deles.
Um comentário interessante que o Mauro Lúcio fez, é que o Estado não tem que inibir a exportação do boi em pé e defender o monopólio de mercado do JBS, que agrega mais valor à carne, o Estado tem que agir no sentido de estimular a produção, fazendo com que tenha boi suficiente para a exportação e para o JBS.
Maurício Fraga Filho
Pecuarista e Diretor do SPRM
agenor garcia
5 de novembro de 2015 - 08:38Caro Hiroshi,
Boi é uma coisa e carne é outra. O axioma rural apresentado merece reflexão. Para o monopólio do maior frigorífico, a exportação de boi em pé não agrega valores em nossa economia. Simples assim. É como aconteceu com a madeira exportada em toras ou desdobrada primitivamente que a indústria moveleira não produziu glusters em nossa região. Perdemos um bem valioso, renovável, que aliás provocou sérias complicações ambientais e sociais. Sem contar o erro vergonhoso das guseiras, com seus fornos frios, que queimaram a floresta feita em carvão. Resultado para os dois casos foi o desemprego e calotes nos sistemas financeiros que repassaram recursos (valioso dinheiro público a juros compensadores) que foram mal gerenciados.
Boi é uma coisa, disse alguém. Carne é outra, aduziu. O JBS emprega um batalhão de colaboradores no abate.Na desmontagem das carcaças, na feitura dos mais diferentes cortes. Do boi morto, só não aproveitam o berro e a flatulência, ainda. O boi em pé ofereceu ao produtor um escape para o arcaico sistema de pagamento que engessava o pecuarista. Sem boi fácil no brete, o preço e o prazo do pagamento que atazanava o fazendeiro mudou a sistemática. Há quem diga que libertou o produtor da ditadura das especulação dos frigoríficos.
Eis um bom assunto para debatermos em Marabá. Há muita gente que não cria um rato, mas que sai na foto, interessados em melhorar esse negócio.
Agenor Garcia
jornalista.