Post publicado no Brasil 247, com assinatura de Charles Alcântara, expõe decepção do ex-líder no Pará do partido REDE, idealizado por Marina Silva.
Com todas as letras, Charles diz que não votará na candidata a Presidente da República.
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Líder da Rede Sustentabilidade no Pará e candidato natural do partido caso ele tivesse sido registrado no TSE, Charles Alcântara declara que não votará mais em Marina Silva, com quem disse já ter tido “boas conversas” e de quem escutou “muita generosidade e sabedoria”. Alcântara conta ter sido levado pelo “sopro inspirador” da ex-senadora a apoiar a candidatura de Eduardo Campos, do PSB, mas que “até o presente momento, desde que se tornou candidata presidencial, as declarações mais explícitas e compreensíveis de Marina Silva foram em direção aos mercados, em especial o financeiro”.
Ele ressalta os “custos sociais” do “tal tripé macroeconômico” que prega a candidata: “menos recursos públicos para as áreas sociais; arrocho salarial e ameaça de mais desemprego”. E afirma considerar “uma fraude a pregação de que todos os interesses e todas as forças políticas podem ser conciliados sem conflitos e sem escolhas que desatendam e contrariem os que sempre se beneficiaram da desigualdade em favor dos que sempre foram as vítimas dessa mesma desigualdade”. O líder da Rede constata, em texto publicado no Facebook: “Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada, apesar que querê-la bem”.
Leia a íntegra:
Há virtudes no velho, como há vícios no novo.
Imerso em minhas reflexões sobre a conjuntura político-eleitoral, decidi agora abandonar o recesso que me impus desde o meu afastamento da coordenação nacional da Rede, que se deu quando esta embarcou provisoriamente no PSB.
Também fui – e ainda estou – tocado pela ideia de que o exercício da política precisa ser radicalmente mais democrático e de que os partidos políticos, tal como funcionam, tomam suas decisões e disputam o poder, precisam reinventar-se porque se tornaram instituições anacrônicas e voltadas para si mesmas.
Somado a isso, fui atraído pelo magnetismo de um novo (chamemos assim) campo político sob a liderança de Marina Silva, a quem admiro e respeito por sua história e trajetória e também por atributos que andam em falta na seara política.
Levado pelo sopro inspirador de Marina e pela concordância quanto à saturação e inutilidade para o Brasil da polarização entre PT e PSDB, inclinei-me a apoiar Eduardo Campos – malgrado minhas críticas em relação à aliança PSB/Rede – quando veio o fatídico acontecimento que lhe ceifou a vida.
Até o presente momento, desde que se tornou candidata presidencial, as declarações mais explícitas e compreensíveis de Marina Silva foram em direção aos mercados, em especial o financeiro. Os que vivem da especulação financeira e que faturam bilhões com a dívida pública brasileira estão eufóricos com as declarações de Marina, reveladoras de uma crença quase religiosa nos fundamentos mais caros ao velho receituário neoliberal, fundamentos estes que colocam no centro das preocupações e da ação estatal os interesses do mercado e na periferia os interesses da sociedade brasileira, com o cínico argumento de que esses interesses são convergentes – e, mais ainda – que os interesses da sociedade tendem a ser satisfeitos se o mercado estiver satisfeito.
Institucionalização da autonomia do banco central e obediência incondicional ao tripé macroeconômico neoliberal são os compromissos mais enfáticos que Marina oferece aos brasileiros para acabar com a velha política e para mudar o Brasil.
Se não em nome de uma nova política (até porque se trata da velha solução neoliberal), mas ao menos em razão das virtudes próprias de sua formação religiosa, Marina tinha e tem o dever de dizer ao povo brasileiro as prováveis consequências de seu programa econômico.
Marina dá sinais de conversão ao fundamentalismo neoliberal como sinônimo de desenvolvimento, estabilidade econômica e inflação baixa, como se os índices inflacionários pudessem ser combatidos com a mera alta dos juros; como se a inflação no último período do governo de FHC – de fidelidade canina à sacrossanta fórmula neoliberal – não tenha sido ainda maior que a verificada nos dias atuais; como se o maior e mais indecente gasto público não fosse exatamente o pagamento de juros da dívida pública.
Pouco importa para os agentes de mercado os custos sociais do tal tripé macroeconômico: menos recursos públicos para as áreas sociais; arrocho salarial e ameaça de mais desemprego.
O tal tripé macroeconômico é uma boa maneira de manter os lucros do mercado financeiro de pé e o Brasil socialmente manco.
Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada, apesar que querê-la bem; apesar de admirá-la; apesar de considerá-la uma pessoa de bem e de bons propósitos.
Não posso acompanhá-la, porque o faria por mera crença nos seus bons propósitos e no seu carisma pessoal e porque isto é absolutamente insuficiente para considerá-la a melhor alternativa para o Brasil, principalmente depois do caminho que escolheste trilhar.
Não vou acompanhá-la porque considero uma fraude a pregação de que todos os interesses e todas as forças políticas podem ser conciliados sem conflitos e sem escolhas que desatendam e contrariem os que sempre se beneficiaram da desigualdade em favor dos que sempre foram as vítimas dessa mesma desigualdade.
Conheço pessoalmente Marina, com ela tive boas conversas e dela escutei muita generosidade e sabedoria.
Marina está crescendo nas pesquisas eleitorais e pode vir a comandar a República Federativa do Brasil; momento propício, portanto, para eu declarar a minha posição, que o faço baseado num conselho que escutei da própria Marina de que a boa (nova) política não se deve alicerçar no carisma pessoal.
Outra lição que aprendi com Marina é que muitas vezes é preferível perder ganhando a ganhar perdendo.
Resolvi, então, seguir os conselhos de Marina, não a apoiando nestas eleições, por convicção de que a sua candidatura não está oferecendo ao Brasil um caminho alternativo.
Votar por convicção, penso, é uma das coisas tradicionais da velha e boa política (sim, porque também há virtudes no velho e há vícios no novo) que eu não me disponho a abrir mão.
George Hamilton Maranhão Alves
15 de setembro de 2014 - 11:18Caro amigo Petralha, esconder que nas sociedades, não existe conflito entre ricos e pobres, é negar a história e fazer o jogo do sistema reinante. Não incentivo o conflito entre ricos e pobres, apenas demonstro que ele existe. O primeiro passo para contornar tal conflito, é a admitir que ele existe. E também negar o conflito politico-eleitoral entre as correntes de esquerda e direita, é tentar esconder o conflito social latente. Como já dizia o velho Marx, a “história de todas as sociedades é a história da luta de classes”.
luis_sergio@hotmail.com
8 de setembro de 2014 - 16:06Hiro, o Sr. George talvez tenha sintetizado melhor o pensamento de muitos, porém, ao final concorda comigo. Ou seja, o simples contrariar e perder espaço, não deveria, mas, foi o que fez o repentino mudar de direção, do Sr. Charles, fazendo assim, aflorar a obviedade de sua equivocada e inoportuna reação, bem como, mostrar a fragilidade de seu posicionamento e pensamento mutante, conforme sua conveniencia própria. Portanto, em nada diferente dos integrantes dos demais partidos políticos. Quem sabe, não será mais um, a pleitear a fundação de outro partido. Em 08.09.14, Mba.-PA.
luis_sergio@hotmail.com
7 de setembro de 2014 - 12:43Hiro, cada um vota e apoia em quem lhe aprouver, porém, questiono o Sr. Charles Alcântara e duvido muito da sua “repentina” mudança de rumo. Ora, prá mim está claro, que esse senhor, desistiu de apoiar Marina pelo simples fato do não registro concedido pelo TSE ao Rede Sustentabilidade, no qual, aprovado o registro, ele(Charles) teria seus anseios políticos e pessoais – tambem – provavelmente satisfeitos. Dá ele a entender, e conhecer bem Marina. No mínimo suspeita e duvidosa, bem como intempestiva, essa radical posição contraria à candidata. Em 07.09.14, Mba.-PA.
George Hamilton Maranhão Alves
5 de setembro de 2014 - 13:44Posso estar falando sem o devido conhecimento, pois não vi as propostas da Rede. Mas acho que a Marina sempre foi integrada ao liberalismo e sistema econômico mundial. Ela fala em nova política, e não, em nova economia. Ou seja, ela quer mudar a sociedade pelo viés político e não, pelo econômico. Quem tende a romper com o sistema financeiro tradicional são as candidaturas mais a esquerda: Luciana Genro do Psol, Eduardo Jorge do PV, o PSTU, PCO etc. Na verdade, a tal nova política de Marina tende a emperrar nas teias do neoliberalismo.
Com os novos caciques (PSB e outros aliados de momento e conveniência) Charles Alcântara perdeu espaço e, naturalmente, se rebelou.
Petralha
9 de setembro de 2014 - 09:47É extremamente inútil essa discussão de “Direita” e “Esquerda”, ela bitola a visão política não partidária das pessoas e trás à tona uma briga tola de partidos rotulados de uma ala com os rotulados de outra. Veja que o fato de se incentivar uma briga entre ricos e pobres não muda em nada do rumo da nossa economia, nem tão pouco nos faz melhor do que hoje. Estamos a beira do caos econômico e nesse sentido nenhum dos grupos político partidários tem propostas que evitem ou mesmo minorem os resultados desastrosos do desempenho da nossa economia.
Uma coisa é certa, esteja ligado à “direita” ou “esquerda”, é sempre bom renovar, sacudir as folhas secas para que deem lugar à uma nova folhagem. São como um câncer que se infiltra através das artérias do estado e corroem o tecido de órgãos vitais para a manutenção da vida, principalmente dos pobres.