Desde sempre, incenso com aroma de alfazema permaneceu em nossa casa. Ao nascimento dos três filhos (Thiago, Sílvia e Julianna), o lar era invadido por aquele cheirinho delicioso incensado na fumaça que se fazia em algum canto dos aposentos.
Sonia tinha seu próprio ritual de incensar o enxoval, atividade quase sempre compartilhada por mim, pai presente em todos os momentos da vida dos filhos.
Fraldas, camisinhas, cueiros e tudo o que eles usavam, durante o primeiro mês de vida, eram perfumados com o gostoso incenso de alfazema.
Estranhei a ausência do incenso no apartamento em Belém, com o nascimento de Arthur, nosso primeiro neto, filho de Silvia.
Sem aquele cheiro contagiante, parece que não há bebê em casa.
Cobrei isso de Silvia e Sonia, obtendo a resposta de que “os costumes vão mudando, vão acabando…”
Sem a “cerimônia” do enxoval incensado, transmitido por gerações, fica mais fácil “botar quebranto”, passar “mau olhado”, imagino, do fundo de minha preocupação em preservar Arthur das maldades do mundo.
Quantas vezes, tivemos que levar Thiago, Silvia, e até Julianna, se não me engano, a uma rezadeira, pra tirar quebranto.
Geralmente tocando com um galho de arruda no corpo da criança, a rezadeira preferida falava rápido, em um tom quase inaudível.
De tão curioso para saber o que ela realmente dizia, um dia não me contive e pedi para anotar:
– “Leva o que trouxeste; Deus me benza com a sua Santíssima Cruz; Deus me defenda dos maus olhos e de maus olhados de todo o mal que quiser; és tu de ferro e eu sou de aço; tu és o demônio, e eu te embaraço.”
Nem bem acabava de dizer isso, a “desquebranteira” jogava o galho de arruda para trás da criança em direção à porta da rua.
Na formação do enxoval de Arthur, um dia ouvi Sônia dizendo que não se achava mais, para comprar, cueiro – aquela manta de flanela e algodão, que as mamães mais antigas tinham o costume de enrolar os bebês como um “rolinho”.
Parece que Sônia, acompanhando de perto tudo o que Sílvia precisava durante a gravidez, comprou cueiros no Nordeste, ao se apegar ao pronto atendimento de uma amiga que reside no Ceará.
A avó coruja explicava a Silvia que o uso do cueiro faz o bebê sentir sensação de aconchego e regresso ao útero da mãe.
Nãos sei porque o cueiro deixou de ser prioridade no enxoval dos recém nascidos.
Para arrematar, essa minha lembrança com “cheiro” de alfazema, que, por si só, já remete à criança novinha, devo informar minha disposição em procurar o incenso, na próxima viagem a Belém, e pedir, cheio de delicadeza, à minha amada filha que dê um brilho em toda a plenitude de Arthur, com o gostoso aroma que está faltando.
NB – Hoje, 21 de janeiro, Arthur completa o primeiro mês de nascido. Ele veio à luz no dia em que o mundo ia se acabar.
Paulo Eduardo O. Leite
22 de janeiro de 2013 - 12:01Hiroshi, parabéns pelo neto. Imagino como deve estar se sentindo orgulhoso… Lendo esse seu post, me interessei pela parte do cueiro. Eu, pai de primeira viagem, tento ao máximo acompanhar de perto a montagem do enxoval do João Gabriel. Entretanto, via de regra, me surpreendo com as diversas necessidades de “paninhos” (cuja denominação carinhosa a mamãe Ana Carolina não gosta nem um pouco…) : pano de boca, cueiro, manta, pano de xixi, lençol para carrinho, lençol de berço, fralda de ombro, protetor para bebê conforto e milhares de outros…
Nesse novo contexto, todos os dias vemos novidades e aprendo que a inclinação masculina de simplificar tudo não consegue suplantar o instinto materno de proteger a sua cria!
Parabéns!
Querido Paulo Eduardo, como gosto tanto de você e de seus irmãos, que vi crescerem rodando a Folha 17, ao lado de Thiago, Sílvia e Julianna, fiquei emocionado com seu comentário, de verdade. Agora, todos adultos, alguns já pais e mães – outros, rumando nessa direção-, o jeito é aprender com os “mais velhos”. Não tenho muita expertise em cueiros, mas a Sonia tem. Só sei que é recomendável. Como agora voltei a falar a “língua dos inocentes”, procurarei me aprofundar no assunto para lhe dar uma consultoria, gratuitamente. Mas vou deixar no inbox de seu Face o telefone da Sonia, que te dará todas informações, e onde comprar. Beijos na Ana e aguardemos felizes a chegada de João Gabriel. Abs
Conceição Maciel
22 de janeiro de 2013 - 08:13Que belíssima crônica…!!!!…Realmente os costumes mudam com o tempo, mas a crença incutida em nosso ser continua, infelizmente não para todos, sinal de que o tempo não perdoa o mínimo de descrença, mas para aqueles que ao longo da vida seguiram um ritual sagrado e acreditaram piamente nesses costumes, é gratificante saber que através das crenças e costumes podemos proteger nossos amados rebentos, mas existem “enes” maneiras de protegê- los e os serão exatamente da maneira que convier e isso vai depender da crença de cada um…Felicidades ao Artur.
Obrigado, querida Conceição. Abs
servidora
21 de janeiro de 2013 - 23:20Qdo meu filho mais velho nasceu eu colocava até lavanda de alfazema na água do banho e comecei a incensar as fraldas tb, mas a trabalheira era tanta q desisti logo no início. Parabéns pelo neto!
Obrigado, servidora. Abs
Obrigado, servidora. Abs