Dizem que a escravidão no Brasil terminou quando a Princesa Isabel promulgou a Lei Áurea, em 13 de Maio de 1888, portanto, há 121 anos.
Há controvérsias.
É preciso uma nova alforria, mais ampla, geral e irrestrita.
Porque há tráfico de mulheres e crianças.
Porque há o trabalho escravo análogo nas propriedades rurais e até em centros urbanos.
A escravidão disfarçada nas salas das famílias mais nobres deste país.
O trabalho escravo caracterizado pela mão de obra desqualificada, explorada nesses trópicos com miserável remuneração.
Mercadorias humanas baratas.
Certamente, até mais barata do que a permuta dos negros escravos do século XVIII, considerados pelos senhores feudais inferiores aos animais de carga. Porque nos dias da Internet, nem o excesso de informação tem sido suficiente para neutralizar a escravidão moderna indisfarçada.
Comparando os dois períodos, naquele tempo, é muito improvável que os proprietários de escravos tenham tido a percepção de que lidavam com animais de carga, e não com seres humanos. Eles sabiam, sim, ter diante de si, seres humanos.
Com animais tudo é fácil. A um cavalo, se o adestra. A outro homem, faz-se necessário convencê-lo, todo santo dia, a se comportar como escravo. O chicote, o tronco, os ferros, o pelourinho.
O que contava mesmo, era a habilidade do senhor em infundir o medo, o terror, no espírito do escravo.
Pior: o agente passivo, aceita a condição de uso indevido de sua natureza humana como mercadoria descartável, sempre aguardando a concessão de pequenos privilégios e a esperança de um dia obter uma nova carta de alforria.