Nada mais contemporâneo e cosmopolita que Arnaldo Antunes.

O cara bate em todas as posições: poesia, artes visuais, performances multimídia e música.

O CD “Iê-Iê-Iê” é uma prova disso.

No disco, Arnaldo presta singela homenagem a um dos movimentos musicais mais importantes da cultura nacional em 12 faixas que nos conduzem de volta aos anos 60, lembrando o período de sonhos que a Jovem Guarda construiu ao largo de uma geração com fome de liberdade.

Pra quem já passou dos 50, o CD soa magicamente.

Pra quem já passou dos 50, “Envelhecer” é uma agradável sensação de bem estar ouvindo a canção e desenhando um modus vivendi ao avesso do que se vivia á época de Woodstock.

A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer/ (…)/ Pois ser eternamente adolescente/ Nada é mais demodé”, diz Arnaldo, na canção.

Envelhecer
Arnaldo Antunes / Ortinho / Marcelo Jeneci

a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer
a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer
não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer
eu quero é viver pra ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer

eu quero que o tapete voe
no meio da sala de estar
eu quero que a panela de pressão pressione
e que a pia comece a pingar
eu quero que a sirene soe
e me faça levantar do sofá
eu quero por Rita Pavone
no ringtone do meu celular
eu quero estar no meio do ciclone
pra poder aproveitar
e quando eu esquecer meu próprio nome
que me chamem de velho gagá

pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé
com os ralos fios de cabelo sobre a testa que não pára de crescer
não sei porque essa gente vira a cara pro presente
e esquece de aprender que felizmente ou infelizmente
sempre o tempo vai correr
não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer
eu quero é viver pra ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer
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