Quando decidiu largar o futebol para se dedicar exclusivamente às empresas dos pais Reinaldo e Regina Zucatelli, o jovem Alexandre Zucatelli estava iniciando uma trajetória que iria modificar totalmente sua visão de mundo. Antes, sonhava em ser escalado um dia para a seleção brasileira, chegando, inclusive, a jogar nas escolhinhas do Vitória, da Bahia, e do Guarani, de Campinas, sempre visto em campo como um futuro ídolo do futebol nacional.

Acordou num momento e disse a si mesmo não ser aquilo o que lhe esperava, passando então a acompanhar os pais dentro do Grupo Zucatelli – um conglomerado de 14 empresas ligadas aos setor automobilístico e de máquinas pesadas, com investimentos em quase todos os municípios paraenses e no Estado do Maranhão, além de sete fazendas em quatro municípios do Estado. Ao todo, o grupo emprega diretamente mais de mil pessoas.

Hoje, Alexandre Zucateli é diretor Executivo do grupo, com apenas 22 anos, certamente um dos mais jovens empresários do Pará, revelando-se administrador de resultados e com uma visão moderna da atividade empresarial. Nos últimos dois anos, ele manteve contatos diretamente naqueles países com executivos chineses, italianos, alemães e japoneses. Portanto, com uma visão abalizada dos costumes e culturas desses investidores.

Alexandre abre a seqüência de entrevistas que o blog publicará, aos domingos.

Na sua opinião, uma empresa familiar como o Grupo Zucatelli pode continuar crescendo até quando, considerando que os laços bastante estreitos entre família-propriedade-gestão às vezes dficulta sua administração?

Isso é muito relativo. Uma empresa familiar pode crescer ou não de forma acentuada, assim como uma empresa profissional pode não ter uma vida nem um tanto sadia. O importante é ter em mente que os laços familiares não podem estar acima das normas de mercado senão a empresa perde competitividade. E se isto ocorrer, ela afunda. É preciso estar atento para melhorar sempre sua gestão -, garantindo sua continuidade, evitando os atritos familiares e, ao mesmo tempo, profissionalizando-a paulatinamente, planejando da melhor maneira o crescimento e a sucessão do negócio.

Como é a relação Filho e Pai, num grande grupo econômico, como o de vocês?
Em nossa empresa, é normal. Eu sou cônscio de meus limites em relação a experiência de meus pais. Afinal, tenho apenas 22 anos, e eles quase o dobro da minha idade apenas na vida empresarial. Respeito demais essa experiência que eles carregam. E essa coisa de “pai para filho” é um lema cada vez mais difícil de se manter hoje em dia. As forças que existem para impedir a continuidade da empresa na família são inúmeras, e poucas serão as empresas que poderão manter esse lema e, ao mesmo tempo, crescer como uma empresa sadia.
Então a empresa familiar é fadada à extinção?
Não, de jeito nenhum. A proliferação de fontes de capital e financiamento tem auxiliado, como nunca, a criação de novos empresários. Na empresa, a relação pai-filho é fundamental para a sua preservação. As relações entre pais e filhos já são complexas hoje em dia no contexto normal. Os filhos de hoje são mais bem informados, possuem uma maior gama de relações com outros adultos e, via de regra, são mais maduros. Os pais de hoje provêm de uma educação rígida, de um mundo em rápida mutação e de uma sociedade ocidental que não respeita os idosos como as culturas orientais.Se reduzir o conflito de gerações já é difícil, imagine introduzir mais uma variável nessa relação: a de subordinado-patrão. Um pai patrão. Aí não funciona. Mas em nossa casa, cada um ocupa seu espaço com inteligência.

Jovem executivo, como você enxerga o seu país, Brasil, do ponto de vista de distribuição de renda?
Pelo que leio, melhorou muito de uns dez anos pra cá. Na verdade, considero que o Brasil cansou de ser o país das desculpas, das explicações, das justificativas, do jeitinho e da esperteza. As pessoas cansaram de ser enganadas e usadas. Queremos e podemos ter riqueza para todos. Apesar de todas as nossas riquezas naturais, é chegada a hora de uma revolução que acabe com o comodismo e crie fartura. Mas para que a revolução aconteça de verdade, é preciso que esperemos menos e nos comprometamos mais. Nosso ritmo é de urgência. Cansamos de ficar deitados eternamente em berço esplêndido. Depois de cem anos dormindo como a Bela Adormecida, acordamos querendo recuperar o tempo perdido. Sabemos que evoluir gradativamente não vai resolver os nossos problemas. O mundo não vai esperar por nós. Precisamos de jovens guerreiros, dispostos a ousar e dar o salto qualitativo, capaz de nos oferecer um país digno.

Qual a leitura que você faz do empresariado brasileiro?
Muitos empresários brasileiros ainda insistem em repetir velhas fórmulas que só funcionavam no passado. Acabam levando a empresa à falência, porque vendem com prejuízo, não calculam a entrada e saída de centavos, não ficam atentos ao fluxo de caixa, ou seja, não administram de acordo com a realidade atual. Vivem esperando o próximo passo do governo e dos concorrentes para decidir seus caminhos. Preocupam-se demasiadamente com o faturamento e se esquecem do mais importante para o sucesso de uma empresa: a sua receita líquida, que indica o lucro depois da retirada dos impostos e outros encargos. Os empresários precisam aprender a trabalhar com uma margem de lucro reduzida, que tende a ser a mesma no mundo inteiro. Na Alemanha, por exemplo, alguém que exija um desconto de 15% sobre uma mercadoria será taxado de louco, justamente pelo fato das empresas venderem com margens de lucro muito pequenas. A competência é o único caminho para a realização.

Faça uma fotografia do comportamento de clientes e consumidores em relação às empresas?
Hoje, o cliente é rei e as empresas necessitam encontrar uma forma de oferecer o melhor produto pelo menor preço. E como se não bastasse a concorrência nos moldes tradicionais, as empresas ainda têm de lidar com a competição virtual, motivada pelo excesso de serviços colocados à disposição do consumidor. Hoje, por exemplo, o dono de um cinema não perde os seus clientes para o seu concorrente direto, mas sim para as videolocadoras, TVs a cabo, TVs normais, até mesmo para a violência nas ruas (medo de sair e ser assaltado, seqüestrado ou atingido por uma bala perdida). Todas essas mudanças se constituem em indícios de que somos a primeira geração do que poderia ser chamada de a “Era do Caos”, onde aquilo que era tido como certo já não vale mais. As três grandes indústrias que controlavam o comércio de máquinas de escrever passaram décadas brigando entre si pelo domínio do mercado para, no final, acabarem sendo preteridas pelo advento do computador.

É fácil tocar uma empresa que emprega mais de mil pessoas?

Não, não é fácil. Não é fácil garantir o “lugar ao sol” em uma economia cada vez mais globalizada. Nós precisamos ter a ambição de sermos campeões, porque a memória jamais registra uma “vice-vitória”. Em 2002, o Brasil venceu a Alemanha na final e todos gritaram “É Campeão!”. Por outro lado, ninguém ouviu a torcida alemã gritar “É vice-campeão!”. Para chegarmos sempre em primeiro lugar, é necessário desenvolver uma mentalidade de excelência, como acontece no Japão, onde desde os primeiros anos escolares o indivíduo aprende a importância de “ser o melhor”. No Brasil, 70% dos programas de qualidade total implantados nas empresas são abandonados no meio do caminho, porque o resultado imediato não surgiu. Esta é uma visão equivocada, porque qualidade total pressupõe qualidade de vida, qualidade do ser humano, um verdadeiro processo de quebra de paradigmas e transformação cultural, algo que demanda tempo e muito trabalho.

Para se dirigir uma grande empresa, entender de gente é fundamental?
Pronto, você tocou no tema central! Esta é uma habilidade fundamental, porque clientes, funcionários, fornecedores, chefes, todos são gente. Todos eles são seres humanos com dois botões: um para ligar e outro para desligar. Assim, se os seus clientes forem bem recebidos desde a entrada, eles se encantarão e permanecerão dando preferência aos seus serviços.

Você fala muito em planejamento estratégico. Isso é fundamental atualmente nas empresas?
Sim. É cada vez maior o número de empresas que diante da complexidade no cenário empresarial e de tantas turbulências e incertezas, estão buscando ferramentas e técnicas para que as auxiliem no processo gerencial. O Planejamento Estratégico é uma dessas ferramentas. Nas empresas competitivas verificamos que, uma importante condição para sua sobrevivência está ligada à clara definição de seus objetivos e ao traçado antecipado dos possíveis caminhos a serem percorridos para atingi-los.
Exige-se planejamento na destinação de recursos avaliados visando atingir determinados objetivos a curto, médio e longo prazos num ambiente altamente competitivo e dinâmico. Faz-se necessário a participação das lideranças e uma visão generalizada da empresa em relação aos ambientes em que atua.
Planejar, sempre, para que saibamos para onde devemos caminhar. Se não soubermos para onde ir, não iremos para lugar nenhum. Seremos dragados e jogados para fora do mercado.

Em poucas palavras, como definiria seu pai, Reinaldo Zucatelli?

A pessoa mais trabalhadora que conheço, começando seu dia de trabalho às cinco da manhã e encerrando o expediente, às 23 horas. Persistente, sensível às mudanças do mercado, honesto demais em seus negócios e um exemplo de pai de família. Ele e minha mãe, Regina, não se separam nunca. Estão sempre ao lado um do outro, no trabalho, no lazer e no lar. Tenho orgulho de ser filhos deles.

Qual o futuro do Grupo Zucatelli?

Eu sempre imagino que teremos horizontes dinâmicos e desafiadores. Antecipar mais ou menos o que seremos amanhã, seria muita falta de humildade. Uma coisa é certa: o futuro cada vez mais denso de realizações do Grupo só depende de nossa capacidade de gerir o capital do conglomerado, força de trabalho e persistência, com cuidados especiais na formação de nosso maior patrimônio que são nossos colaboradores.
Esse é o futuro que antevejo.