No Google Maps, Vila Umarizal, em círculo vermelho; Baião, do outro lado de braços do Tocantins, círculo azul.

Descendo o Tocantins, ao seu lado esquerdo, a vila é um lugar paradisíaco situada geograficamente oposto a Baião, a sede do Município, encravado no lado direito do rio.

Em verdadeiro cenário natural dominado por braços e furos do rio Tocantins, a comunidade de cerca de mil pessoas convive com o silêncio rural e ruídos de pássaros que contornam ribanceiras aguardando a hora exata de fisgar o peixe serpenteando o rio.

Umarizal é uma vila de silêncios, bem distante da agitação da vida, da correria diária, do mundo urbano.

A calma que o silêncio dá, preenche certos vazios, afasta alguns temores, inspira.

Quem fica algumas horas na vila de pescadores sabe que o melhor silêncio é o da beira de algum mato, nas madrugadas de um dia sem trabalho, desobrigado.

Apesar de toda a calmaria, a comunidade de Umarizal não vive na ociosidade.

As famílias do lugar ribeirinho trabalham em agricultura e pescam, gostam de acordar cedo para ouvir mais tempo aquele nada, ouvindo todos os sons que estão escondidos: um pio de alguma ave mais matinal, o último ser da noite se recolhendo, o vento que vem da praia em frente a vila batendo na árvore.

Apurados os sentidos, percebe-se que está tudo em sintonia.

Mas nem toda a calmaria foi predominante na vida de quem nasceu ou mora em Umarizal.

No passado, a vila teve seu tempo de guerra, vila de guerreiros escravos brotada nas ribanceiras.

Surgida por volta de 1870, a vila do Umarizal  foi formada a partir de um grupo de escravos fugindo coletivamente através do rio Tocantins, em canoas improvisadas.

Vindos de um lugar denominado Mocajuba, hoje importante município paraense um pouco abaixo do rio, desembarcaram exatamente onde hoje harmoniza a vida umarizalense.

“Os mais antigos” costumam chamar a comunidade de “Umarizal dos Pretos”

Pretos que ocupavam os mocambos ao longo da ribanceira do Umarizal.

O povoado foi crescendo e o número de seus moradores aumentando – tanto a partir de mais negros fugidos como depois da Abolição com a chegada de libertos – porém, devido aos constantes ataques de indígenas, estes tiveram que migrar para as várias “ilhas” da região, quando finalmente puderam, nos anos 1920, se estabelecer propriamente nas margens do rio Tocantins.

Hoje, parte dos filhos do Umarizal  do século 21 conhece sua história através de avós e pais, que por sua vez também ouviram recortes do passado de familiares ou de conhecidos de “velhos pretos”.

Encravada em ribanceiras do rio Tocantins, em frente à sede do município de Baião,  a Vila do Umarizal é um oásis natural, cercada de ilhas, braços de rio e belas praias.

Para quem não tem pressa de chegar longe, Umarizal é o lugar.

Um lugar que já foi mocambo, depois  transformado em microssociedade camponesa, que tem como maior patrimônio  a hospitalidade de seu povo.

Sua principal atração é o samba de Cacete, que já foi diversas vezes destaque nacional.

Hoje, a comunidade vive da pesca, permanentemente abençoada pela energia das águas que a cerca, mais parecendo  um ponto de encontro de uma convocação alada.

Para isso constatar, basta observar  a nascente do sol, que nem bem bota a cara pra fora, propicia inusitado espetáculo preenchendo o silencia com sons vivos vindos das copas das árvores e da imensidão do rio.

A água duplica tanta beleza, dificultando saber o que é mais bonito: o real ou a sua imagem refletida.

Se você ainda não foi a Vila do Umarizal, então vá!

Em vila de pescadores, a canoa é o instrumento de trabalho que norteia o transporte dos jogadores de tarrafa.

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COMO CHEGAR:  Aproximadamente 2 horas de barco, saindo da sede do município, a majestosa cidade de Baião (foto abaixo).  Essa opção é para quem sai de Belém

Quem desejar  conhecer Umarizal saindo de alguma cidade das regiões Sul/Sudeste do Pará, pode utilizar as rodovias PA-150 e a BR-422 – a chamada Transcametá.

 

Nota do blog: fotos e informações  da universitária Alessandra Leite, nascida na Vila do Umarizal e que faz faculdade em Marabá na área de saúde.