A reportagem é de Rafael Neves, do portal UOL.

 

Um empresário e um casal de pecuaristas do Pará são investigados pela tentativa de atentado a bomba perto do aeroporto de Brasília, em dezembro, contra o resultado das eleições. Um relatório da Polícia Civil do DF, entregue à CPMI dos Atos de 8 de Janeiro, indica que eles discutiram detalhes do plano com George Washington de Oliveira Sousa, que confessou ter encomendado e montado o explosivo.

 

Quem são os suspeitos

O empresário é Ricardo Pereira Cunha (na foto ao lado de Washington ), dono de uma loja de informática em Xinguara (PA). Segundo o relatório da polícia do DF, Washington afirmou, em “entrevista informal” na delegacia, que Cunha enviou o explosivo a ele.

Os pecuaristas são Bento Carlos Liebl e Solange Liebl, de São Félix do Xingu (PA). Eles pediram aval de Washington para buscar “peças de caminhão”, algo que o próprio militante confessou ser um código para os explosivos.

Cunha e o casal Liebl, entre outros investigados, foram alvos de buscas e apreensões no final de abril. A operação das polícias civis do Pará e do DF mirou quatro cidades do sudeste do estado, região de onde saíram lideranças bolsonaristas para se articularem em Brasília.

Até o momento, nenhum deles foi preso nem denunciado, e o inquérito corre sob sigilo. Washington, por sua vez, já foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão, em maio.

Ao chegar à delegacia, em 24 de dezembro, Washington indicou Cunha e Bento Liebl como nomes para contato. Os três frequentaram o acampamento golpista em frente ao quartel-general de Brasília e combinaram atos em novembro e dezembro.

Ricardo Cunha (esq.) com o deputado federal Delegado Caveira (PL-PA)
Imagem: Reprodução/Facebook

O que eles dizem

A defesa de Washington negou que haja outros envolvidos no caso. “George Washington não tem nenhuma ligação com essas pessoas”, afirmou a advogada Rannie Karla Monteiro.

Cunha, por sua vez, negou ter levado qualquer material a Washington em Brasília. O empresário disse que apenas ajudou na organização do acampamento na capital federal. “Sou patriota, amo meu país, mas não sou louco para colocar vidas de pessoas inocentes em perigo”, declarou ao UOL.

Bento e Solange Liebl não foram encontrados. O UOL tentou contato com ambos desde o início da semana por telefone e e-mail, mas não houve retorno.

 

Empresário acertou envio de ‘encomenda’ a Washington

Washington e Cunha moram em Xinguara e teriam se conhecido durante a campanha eleitoral. Cunha, que pediu votos para Bolsonaro na cidade, se chamava “Ricardo Adesivaço Xinguara” na agenda de Washington.

Os dois foram a Brasília em datas parecidas. Washington informou à polícia que chegou à capital federal em 12 de novembro, vindo de Goiânia. Já Cunha postou seu primeiro vídeo na cidade no dia 13, em sua conta no TikTok.

Durante seu tempo em Brasília, Ricardo fez uma breve viagem a Xinguara, onde estava em 14 de dezembro. Foi de lá que ele se ofereceu para levar uma “encomenda” a Washington, que continuou na capital federal. A informação está no relatório policial entregue à CPMI.

Cunha é conhecido como “Ricardo da USA Brasil”, nome de sua loja de informática e eletrônicos. Ele foi um dos líderes da “Direita Xinguara”, movimento local que contestou o resultado das eleições vencidas pelo presidente Lula (PT).

Ele arrecadou fundos para os atos bolsonaristas usando o Pix da própria loja, segundo noticiou em janeiro o site Repórter Brasil. Os recursos foram usados para manter acampamentos em Marabá (PA) e Brasília.

Pecuarista Solange Liebl em fazenda em São Félix do Xingu (PA), em 2017
Imagem: Reprodução/The Nature Conservacy

 

Pecuaristas se reuniram com indígena preso no dia seguinte

Bento e Solange Liebl são donos de terras e criadores de gado em São Félix do Xingu, também no sudeste paraense. Ambos trocaram mensagens com Washington nas semanas que antecederam a tentativa de atentado no DF.

Já estava em Brasília, Washington acertou com Solange a remessa do que chamou de “peça de caminhão”. Isso aconteceu em 1º de dezembro. O próprio militante, conforme o relatório, disse à polícia ao ser preso que isso era um código para os explosivos. Com Cunha, Washington fala em “material do caminhão”.

Em 11 de dezembro, os dois convocaram Washington para uma reunião “urgente” no QG dos manifestantes em Brasília. Isso ocorreu, segundo o relatório policial, um dia depois de Cunha afirmar que tinha uma “missão” para o militante bolsonarista.

Washington “não foi muito claro” sobre a participação do casal pecuarista, conforme o documento. Ele não cita nenhum dos dois em seu depoimento oficial, embora tenha se articulado com ambos, por mensagens, no mês que antecedeu a tentativa de atentado.