Comentário de anônimo ao post Bandido é Bandido:

Meus caros Juvencio e Hiroshi: Espero que vocês nunca sofram na carne a violência existente.Se o ECA não patrocina a violência pelo menos é tolerante com ela.Vamos perdoar o Champinha pois afinal ele é vitima da sociedade e os pais dela que se danem.Idem os pais da pobre Rayara. (Garota de 15 anos assassinada em Marabá por um menor de 12 anos)

Em resposta ao comentarista defensor dos princípios de Talião, fica uma estorinha aqui, verdadeiramente real, ocorrido no seio de nossa família.

Há dois anos, a filha mais velha do poster, ao sair de casa, na Rui Barbosa, bairro do Reduto, por volta das 19 horas, foi manietada por três bandidos que atravessavam a rua e viram quando ela adentrou no carro do namorado, estava estacionado à frente de nosso prédio.

Tudo rápido. Um dos bandidos colocou o revólver na cabeça do rapaz, ao volante, enquanto os outros entravam no banco traseiro da camionete. Rodaram a cidade parando em caixas eletrônicos, nervosos. Em todos que iam, deixavam um bandido no veículo com a filha do blogger, ameaçada de ser morta caso o namorado procedesse de forma suspeita.

A situação agravava-se a cada parada nos bancos on line, sempre lotados de clientes. O rapaz, publicitário dos mais talentosos de Belém, sempre com um revólver discretamente colocado em sua cintura.

Dentro do carro, o marginal dizia horrores à nossa filha, que chorava, pedia pra não ser morta. E que não fizessem mal também ao seu parceiro.

Passavam das 22 horas. Em nenhum caixa eletrônico os marginais sentiram segurança de aguardar a operação de saque que exigiam do refém. Decidiram então sair da cidade.

Nesse espaço de tempo, começavam a dizer que iam matar os dois, revoltados por não terem sacado grana do banco.

No momento em que os bandidos abordaram o casal na Rui Barbosa, o namorado estava falando ao celular com um amigo, também publicitário, residente em Fortaleza. Ao sentir a arma na cabeça, exatamente quando baixava o vidro do carro para receber a namorada, ele deixou o aparelho de telefone cair no piso do carro, ligado, sem que os assaltantes notassem.

Do outro lado da linha, o amigo ouvia tudo o que se passava pelo celular que estava no piso do carro. Desesperado, sem poder fazer nada, tentava falar -, com a ajuda da esposa cearense fazendo ligações de seu fixo -, com os sócios do colega seqüestrado. Mesmo em Fortaleza, o rapaz conseguiu o telefone do secretário de Segurança que imediatamente acionou a polícia para tentar localizar algum carro supostamente seqüestrado.

Quando passaram pela Polícia Rodoviária Federal, em Ananindeua, sem que o veículo fosse parado, os bandidos alertavam da disposição de dar tantos tiros fossem necessários caso o casal tentasse denunciar o seqüestro no posto da PRF.

Na Alça Viária, próximo à ponte do Guamá, obrigaram o casal a tirar as roupas. Os dois, coitados, não tinham duvidas de que seriam mortos ali.

A sorte de ambos foi que ao longe, provavelmente de cima da ponte, apontou um veículo da polícia que seguia sentido Alça-Belém, com sirene e faróis de alerta ativados. O trio imaginou tratar-se de algum cerco, por terem sido descobertos. Largaram o publicitário à margem da estrada, e entraram em sua camionete, voltando para Belém, conduzindo a filha do poster em seu interior. Mais à frente, a largaram numa rua deserta de Ananindeua. E a camionete próximo ao Shopping Castanheira.

Por volta de uma da madrugada, a filha adentra numa residência, onde pede ajuda, coitada, quase sem roupa. E dali telefona para a mãe, que entra em desespero e comunica ao fato ao blogger, em Marabá. Imaginem o efeito desse tipo de notícia de seqüestro de uma filha, quando você encontra-se dormindo, numa madrugada qualquer da vida. Não é mole.

Vivemos, certamente, os momentos mais terríveis de nossas vidas. A esposa do poster e o filho mais velho, deixaram o apartamento da Rui Barbosa com destino ao endereço onde se encontrava a filha. Não largava o celular falando a cada instante com o blogger. A sensação era de que não encontraríamos nossa menina viva, apesar dos donos da casa que lhe deram guarida, informar do seu bom estado de saúde.

Tempos certeza de que as vidas dos dois publicitários, o ex-namorado e a filha, mudaram depois desse episódio. Ficamos meses acompanhando as investigações da polícia até a prisão dos bandidos, muito tempo depois.

Em nenhum momento, consideramos a justiça pessoal como solução. Nem pensamos em contratar justiceiros. E tínhamos motivos de sobra para isso, baseado na visão de alguns comentaristas.

Dever do Estado
Excerto pelo Juvencio Arruda do post de Francisco Rocha (Flanar), define com precisão esse tema, polêmico e destemperado, quando defendido apaixonadamente por alguns, vítimas da violência:

A vingança privada não é mais um instrumento tolerado pelo Estado. Bandido bom não é bandido morto: bom é bandido preso, em condições humanas, com chances de recuperação e de ressociabilização, após sua saída da cadeia, e com o Estado preservando a dignidade de sua família durante o período de encarceramento. É isso o que fazem os cartéis criminosos, na ausência do Poder Público. É este o papel que o Poder Público tem que exercer, não deixando o futuro sob o controle do crime organizado.