HilCada pessoa tem seus jeitos e maneiras de passar o Dia de Finados.

Para uns, a morte é a cessação definitiva de vida.

Para outros, os kardecistas principalmente,  esta informação está amplamente equivocada, pois, segundo eles, quando se morre aqui, renasce lá.

E como a alma não possui certidão de nascimento,  esse dia foi escolhido para comemorar o renascimento lá?

Portanto…

Hildete Pereira dos Anjos (foto) professora da Unifesspa e do Programa de Pós-Graduação em Inclusão Escolar, lá da Argentina, nos conta como foi o seu Dia de Finados.

Texto foi extraído do perfil do FB dela.

Hildete

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Dia de Finados, para este blogueiro, é dia de memórias.

Vem sempre à  lembrança,  aquela impressão que guardei de minha infância vivida no interior marabaense.

Neste dia, minhas tias e avó Tunica – quase sempre elas – nos vestiam com a melhor muda de roupa  dizendo  que iríamos visitar e rezar para nossos entes queridos que já haviam partido desta vida.

Nunca achei o programa divertido, muito pelo contrário, ia na marra, fazendo birra de menino ateu.

No cemitério, lá no Cabelo Seco, vendo a população e familiares rezando e acendendo velas para parentes falecidos, minha “reza” era perambular, de túmulo em túmulo, lendo as lápides, vendo fotos e tentando achar o túmulo de algum conhecido.

Claro que respirando muita fumaça das velas queimando, além do cheiro enjoado exalado por determinados arranjos de flores sobre os túmulos.

Meus avós Tufy e Tunica frequentavam mais o Cemitério de Santa Isabel, em Belém, onde alguns parentes dele estão enterrados, agora com eles também ali “morando”.

Quando diante do túmulo de algum conhecido de pouco poder aquisitivo, sem lápide e apenas com um cordão de terra e uma simples cruz de madeira, baita tristeza me dominava ,diante da impressão que o coitado não tinha ninguém por ele.

Também me impressionava ver o túmulo dos mais abastados, feitos em granito e acessórios de bronze.

Alguns pareciam uma pequena capela, outros verdadeiros mausoléus.

Nestas andanças pelo cemitério de Belém, vários “filmes” vinham em minha mente.

Diante de cada túmulo, de uma pessoa conhecida, uma história diferente era contada por uma tia ou minha avó, sobre a vida do falecido.

Eu tinha impressão que elas conheciam a vida de todos que ali jaziam.

Quando passava num túmulo que se destacava pelos ornamentos, diziam:

 

– Este é o defunto mais rico do cemitério!

 

Recordo que, um dia, diante de  túmulos de crianças, ou recém-nascidos, ouvi alguém falar que estes já tinham virado anjos e estavam voando por aí cuidando das almas das pessoas.

Então, na maior ingenuidade, disse à minha avó Tunica  que também queria virar anjo.

Levei  um sutil beliscão dela e uma reprimenda do tipo:

 

Você tá louco? Só vira anjo quem morreu. Por acaso você quer morrer, seu moleque?

 

Pelo jeito, para anjo eu não servia!

Nem para anjo torto.

Passando pela frente do Cemitério da Saudade, em Marabá, no final desta tarde de segunda-feira, 2, pensei com meus botões:

 

Se depender deste corpo velho enterrado para ser visitado por parentes e amigos, no Dia de Finados, jamais eles terão esse trabalho.

Em outras palavras:  se depender desse futuro defunto e meu desejo for respeitado, serei cremado.

As cinzas?

Deixarei por escrito (quem quiser ter essa missão)o pedido para  que as joguem,  em partes iguais, no rio Vermelho, Itacaiúnas, Tocantins e num desses mares que cercam o litoral paraense.

Preferencialmente, rolando o som de Nascimento:

 

Por tanto amor

Por tanta emoção

A vida me fez assim

Doce ou atroz

Manso ou feroz

Eu, caçador de mim

 

Preso a canções

Entregue a paixões

Que nunca tiveram fim

Vou me encontrar

Longe do meu lugar

Eu, caçador de mim

 

Nada a temer senão o correr da luta

Nada a fazer senão esquecer o medo

Abrir o peito a força, numa procura

Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai

Sonhando demais

Mas onde se chega assim

Vou descobrir

O que me faz sentir

Eu, caçador de mim”