Conforme anunciado, Lúcio Flávio Pinto abriu espaço no Jornal Pessoal para o debate sobre a divisão do Pará. Edição da primeira quinzena de junho do JP  expõe  o primeiro comentário, contra.

 

 

Debate: Redivisão do Pará

Inauguro nesta edição um espaço reservado ao debate sobre a redivisão do Pará com o depoimento de um personagem tão importante quanto desconhecido do grande público paraense: o mineiro Armando Cordeiro. Ele foi um dos geólogos com participação decisiva na abertura da segunda grande fronteira de mineração na Amazônia, na formação mais antiga (do pré-cambriano) da margem direita da bacia do rio Amazonas. A província de Carajás foi a jóia dessa coroa, lapidada por profissionais que, como Armando, vieram, sobretudo, de Minas Gerais e de São Paulo, unindo-se aos nativos numa saga ainda à espera de sua história integral.

Por força do seu ofício, Armando palmilhou (no exato significado da palavra) toda a região que constitui o proposto Estado de Carajás, no sul e sudeste do Pará. Ele partilha a posição deste jornal de que o projeto aprovado pelo Congresso Nacional para ir a plebiscito está cheio de erros, vários deles graves, ainda que sirva a uma causa nobre ou inevitável: a redefinição dos limites do Pará. Infelizmente, o texto do projeto de Carajás não poderá mais sofrer mudanças a partir da consulta popular. A lacuna se estende ao projeto do Tapajós, também sancionado pelo parlamento.

O plebiscito é um momento de decisão, não de reflexão. Tendo em vista as falhas gritantes dos dois projetos, o que de melhor se possa esperar é que a votação dos habitantes do Pará consiga, mesmo que seja através do susto, acordar a população para a gravidade e urgência do tema. Se a resposta for negativa, não significará que o movimento pela redivisão tenha que cessar. Pelo contrário: espera-se que ele seja reavivado. Mas não pelos apetites pessoais e grupais e sim pela luz da inteligência, produzida através de debates abertos, honestos e profundos, como o depoimento do geólogo Armando Cordeiro sugere.

As divisões de Estados brasileiros sempre figuraram nas pautas de nossos políticos (os do Triângulo Mineiro sempre sonharam com isso) com um único discurso : um Estado menor é mais fácil de ser gerenciado e,consequentemente, a sua população será mais bem servida dos serviços públicos e terá mais qualidade de vida (que não nos ouçam os coitados nascidos nos menores Estados brasileiros,Sergipe e Alagoas, se não me engano os piores IDH do Brasil).

 

 

“Comecei a trabalhar no centro-sul do Pará no final de 1971, com base em Conceição do Araguaia, e fui testemunha dos surgimentos das cidades de Redenção (1972), Rio Maria (1974), Xinguara (1976), Tucumã (1977?) e muitas outras. Em 1972, o médico Goovanni Queiroz, um dos primeiros moradores de Redenção, começava a ficar famoso entre os menos favorecidos pelo seu desprendimento, visitando as moradias mais remotas, receitando e doando remédios, era famoso e dava-me a ideia de um verdadeiro Robin Hood!

Quando o então governador Aloysio Chaves visitou Conceição (1974?) esse médico era um simples candidato da oposição a prefeito de Conceição (Redenção era apenas um distrito) e, como não foi convidado a participar da comitiva, no aeroporto fez um violento discurso atacando o Governador, recebeu voz de prisão e, dizem, os presentes o acompanharam até a cadeia, impediram a sua prisão e abandonaram o Aloysio Chaves, que retornou a Belém! O Giovanni Queiroz foi eleito prefeito.

Sempre ouvi queixas de moradores de Rio Maria, Xinguara e Conceição sobre o abandono da região pelos políticos do Pará, deixando a região ao Deus dará! Comentava-se que o governador paraense era, na realidade, o verdadeiro prefeito de Belém. Somente quando Carajás se tornou uma realidade foi que comecei a ouvir falar em Estado de Carajás; em Belém, nunca ouvi nada a respeito! Hoje, pagamos pela omissão!

Fiz essa introdução apenas para me fazer entender que acredito ser irreversível a divisão do Pará e que lutar contra é nadar contra a correnteza! Acho apenas que a proposta, antes de ser levada ao Senado, deveria ser objeto de uma consulta popular; plebiscito nessa altura do campeonato é imposição e não é democrático!

Acredito que o “Não”, apoiado por uma forte campanha publicitária com “slogans” do tipo “O Carajás é nosso”, “Carajás é do Pará”, etc…, e reforçado por uma proposta de divisão dos paraenses mantendo Carajás no nosso velho Pará, deixando transparecer que ninguém é contra a divisão e o que se contesta são os limites geográficos, sairia vitorioso e os cabanos poderiam retomar à sua paz eterna nos seus túmulos hoje revirados!

Acho que é importante a vitória do “Não” porque colocaria ventilador na farofa de políticos gananciosos, que não estão nem aí para a população que hoje está de fato abandonada pelas autoridades paraenses, e pelo menos adiaria essa safadeza!

Armando Cordeiro”