Texto abaixo é da lavra do Briziola Neto, cuja integridade o poster faz questão de trazer a este espaço para que nossos leitoes entendam porque o governo pensou em convalidar a participação do BNDES na transação comercial entre o Pão de Açucar e o Carrefour.
Por trás de determinadas notícias polêmicas há escondidos interesses distanciados da compreensão comum.
Gorado o negócio, já podem dizer a verdade
Brizola Neto
Desfeita a possibilidade de realização do negócio entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, por falta de condições políticas para que o Bndespar viabilizasse a operação, começam a surgir, na própria mídia que tanta campanha fez contra isso, os sinais de como aquela ação, além de lucrativa, deixaria o Estado brasileiro em posição de evitar a desnacionalização completa do setor de varejo e em condições de influir na política de compras de um grande grupo mundial do setor.
É o que faz a matéria publicada hoje em O Globo.
Diz que, agora, as operações do Carrefour no Brasil devem ser compradas pelo americano Walmart, que ficaria assim com perto de 30% do controle do varejo nacional. Com o controle do Pão de Açúcar pelo francês Casino, a partir do ano que vem e a ampliação dos negócios do chileno Cesconsud no país, os estrangeiros controlariam dois terços do setor hiper/supermercadista.
O cálculo é insuspeito, porque vem de Claudio Felisoni, presidente do Programa de Administração do Varejo/Ibevar, defensor da entrega do setor:
“Não vejo problema no predomínio estrangeiro no varejo. Isso já ocorre em outros setores, como o automobilístico”, diz ele.
É, para quem não vê problemas em ter um mercado de 190 milhões de consumidores, com poder de compra crescente, sob um virtual oligopólio estrangeiro – como ocorre no próprio setor automobilístico, por ele citado – realmente não tinha sentido a operação.
Já para os que vêem a economia como um gande jogo não apenas entre grupos empresariais, mas entre nações, o quadro é outro.
Olavo Henrique Furtado, coordenador de pós-graduação e MBA da Trevisan Escola de Negócios, diz que a operação seguia “a linha chinesa de participação pesada do Estado em vários setores”
– Perdemos uma grande chance de ser um player no varejo mundial, que é um segmento de grande visibilidade. Seria de certa forma o que Embraer e JBS representam para o segmento deles.
Muita gente de boa-fé não compreendeu que a operação não se resumia a um bom negócio – e era – para o empresário Abílio Diniz. E que a sua inviabilização política – não havia como o Governo sustentar a posição do BNDES, porque o campo progresista embarcou numa visão simplista e superficial da questão – representa um mau negócio para o país, que caminha para ser o terceiro maior mercado de varejo do mundo.
Um setor que tem forte influência sobre o o poder de venda de milhares de empresas produtivas e que ficará, inevitavelmente, sob o controle quase exclusivo do capital estrangeiro.
Mas a “liberdade de mercado”, o “valor dos contratos” e a regra de que “o Estado só tem de se meter em setores que não dão lucro e onde os empresários não querem investir”, santos do altar neoliberal, todos estarão preservados, para nos levarem à desnacionalização de uma economia nacional que, quanto mais cresce, menos nossa é.