É paranóia!

Por ser de tamanha importância a derrocagem do pedral do Lourenço para nosso desenvolvimento, já ando tendo pesadelos com o tema.

Ao longo de 2011, varias ações empreendi no sentido de angariar aliados na luta pelo restabelecimento ao PAC dos recursos para a Hidrovia, mais especificamente para obras de derrocamento do pedra. Não desisto dessa busca, entretanto, devo confessar, essa tarefa tem me surpreendido com relação às suas dificuldades.

O que parecia inicialmente de simples solução, numa análise mais acurada, revela outro viés, preocupante, por sinal.
Recebemos em Marabá, em meados de Agosto de 2011, representantes da Universidade de Santa Catarina. O grupo estava levantando dados e consolidando informações a respeito do potencial hidroviário do Brasil, dentro de uma perspectiva de contemplação de investimentos do Governo Federal para o setor.

O trabalho, foi contratado pela ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários.

Interpretamos como bom sinal para nossa sonhada Hidrovia na ocasião, afinal, a cerca de um ano atrás, o Ministério dos Transportes se preparava para lançar um pacote de obras para as hidrovias, exatamente em parceria com a ANTAQ, de forma melhor ofertar soluções em logística para a já estrangulada estrutura nacional, o que reduziria igualmente a dependência das rodovias.

Estudos concluídos, no entanto, sem a efetiva aplicação prática, gorou, fez água.

A expectativa anunciada pelo governo de lançar um pacote de obras para o setor, previa investimentos de cerca de R$ 2,7 Bi. Abrangia a expansão da hidrovia do Tocantins, também do Rio Madeira. Tais investimentos foram retirados do PAC e o transporte via hidrovia, uma opção de modal que o mundo prioriza, por aqui tende a continuar no freezer.

Se nos detivéssemos somente na análise dos números, certamente já seria o bastante para definir a continuidade do propósito anunciado.

Com o investimento no Rio Madeira, onde trafegam hoje cerca de 8 milhões de ton de carga/ano, poderia chegar a 20 milhões de toneladas. A hidrovia do Tocantins, segundo números da ANTAQ, transporta hoje cerca de 1 milhão de toneladas de carga/ano, com os investimentos na derrocagem do canal, o potencial chegaria a 70 milhões de toneladas.

Promovemos em Marabá, o ENCONTRO DE DEBATES DO CORREDOR CENTRO NORTE, onde estiveram presentes membros da ANTAQ, DNIT, ADECON – Ag.de Desevolvimento do Corredor Centro Norte, Governo Estadual e diversos representantes do setor privado diretamente interessados na pauta.

Na ocasião, após longos debates, foi produzida a CARTA DE MARABÁ.

Ali farta argumentação registrou a viabilidade e importância da obra. Oportuna, também registrou o descompasso, a contraditória medida de governo com a retirada do investimento.

Declarações do Presidente Lula, da então ministra Dilma Roussef, do Ministro dos Transportes, dentre outras personalidades, destacavam a conclusão das eclusas como um marco, vejam;

Disse o ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos;

– “As eclusas de Tucuruí estão entre as maiores do mundo, com a capacidade de 19 mil toneladas por comboio. Serão cerca de 40 milhões de toneladas por ano. Além disso, estamos preparando a derrocagem do Pedral do Lourenço e vamos construir as eclusas de Estreito (MA) e Lajeado (TO), que vão garantir a efetivação da hidrovia Araguaia-Tocantins. Assim, estamos buscando uma matriz de transporte mais equilibrada, pois é mais eficiente em termos energéticos, ambientais e econômicos”.

 

 

A presidente eleita, Dilma Rousserf, afirmou:

 

– “Hoje é um momento em que vemos uma grande obra ser finalizada. Todos ficaram impressionados quando a porta da eclusa abriu e fechou. É uma obra de engenharia impressionante, mas por trás dela há a perspectiva de oportunidade para as pessoas. As eclusas serão sinônimas de geração de emprego e renda, e crescimento econômico não apenas para o Pará, mas para toda região Norte e Nordeste”.

 

O presidente Lula, fechou os comentários;

 

“As eclusas que inauguramos hoje só terão sentido se significar a melhoria da qualidade de vida do povo do estado. Se for favorecer apenas aos grandes grupos econômicos não têm sentido”.

 

O documento foi protocolado em diversos orgãos do setor público dentre os quais destaco, Ministério dos Transportes, Casa Civil, Ministério do Planejamento, Ministério da Indústria e Comércio, etc…

O Ministro dos Transportes, e, posteriormente, a ministra de Planejamento, Miriam Belchior, receberam em audiência o Governo do Estado e sua comitiva, representada na ocasião pelo setor político e empresarial, que ratificaram os termos já pontuados na carta.

O posicionamento dos ministros, cada um em ocasião distinta, ponderou que a obra foi interrompida para “reestudo e reavaliação”. Entretanto, de forma cristaliza, demonstrou a clara intenção do governo em transferir para a iniciativa privada os investimentos do derrocamento. Mais especificamente para a Vale. Destacou, inclusive, que tal intenção já havia sido transmitida aos executivos da mineradora, que aguardavam a conclusão do reestudo para avaliação.

Até o momento, não se tem conhecimento de qualquer manifestação da Vale a respeito. Não obstante, os ministros se comprometeram em dar retorno aos membros da comitiva do governo estadual, dos resultados registrados nas reuniões de avaliação com a mineradora.

E de se perguntar, como se justifica terminar uma das obras mais caras do governo federal, para utilidade nenhuma. Isso mesmo, o término das Eclusas em Tucuruí em meados de 2010, que custou certa de R$ 1,5 Bi desde o inicio das obras, SEM O DERROCAMENTO, liga nada a lugar algum.

É um elefante de concreto. E branco.

O que se tem de prático e de fato, é que esse movimento gerou expectativas, muitas expectativas. E mais expectativas.

As oportunidades anunciadas e a perspectiva do Pará revolucionar sua base produtiva, diversificando e inovando, está na verdade sob forte ameaça.

Isso sim, é real – não creio ser paranóia.

 

(*) Italo Ipojucan é empresário, presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá