A obra da hidrelétrica de Jirau, no Estado de Rondônia, voltou ao cenário nacional depois do conflito entre trabalhadores que resultou na destruição de grande parte de instalações do canteiro.

A justificativa para os protestos seguidos de violência teria sido uma briga entre operários e motoristas de empresas terceirizadas.

Se pegarmos fatos ocorridos  na gigantesca obra, em 2010, é possível compreender a causa da revolta  ligada a outros acontecimentos de ordem funcional-administrativa.

Por exemplo, o leitor deve se lembrar de uma fiscalização do Ministério do Trabalho, realizada ano passado, que  resultou em centenas de autos de infração produzidos, resultando, inclusive, na interdição de equipamentos apontados como sujeitos a colocar em risco a integridade física de trabalhadores.

A fiscalização do MT no canteiro de obras da hidrelétrica ganhou espaço nos principais telejornais do país.

Ocorreram também denúncias de condições sub-humanas nas quais estariam submetidos operários da obra,  pagamento de hora extra, falta  de tratamento digno aos doentes, e o não cumprimento de promessas dos recrutadores que trouxeram mão-de-obra para a usina.

Bem antes, no final de 2009, cerca de 40 pessoas  haviam sido libertadas  por estarem trabalhando  para a Construtora BS, em regime análogo à escravidão. A BS prestava  serviço  ao consórcio responsável pela construção de Jirau, formado pelas empresas Camargo Corrêa, Suez, Eletrosul e Chesf.

A equipe de fiscalização encontrou os trabalhadores, recrutados no Estado do Maranhão,  alojados de forma precária em um barracão de madeira superlotado, sem camas, com colchões improvisados, sem instalações elétricas e sanitárias adequadas.

Como se observa, há represamento de sentimentos ressentidos.

O grave incidente ocorrido em Jirau bem que serviria de exemplo para a não menos problemática Belo Monte.

A obra nem começou, mas vale repercutir alertas.

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Atualização às 14:45

Ao contrário do que  sugere apressadamente  um blogueiro,  meio que desinformado das nuances acumuladas no entorno de Jirau, o poster não entende como solução para futuros problemas na obra de Belo Monte, a “solicitação de reforço federal, até mesmo da Força Nacional, já que os contingentes e a capacidade operacional da PC e da PM estadual não tem condições de garantir segurança para tanta gente”.

Correto é amarrar com o consórcio responsável pela obra condicionantes  de cunho social e trabalhista – para que sejam cumpridas ao pé da letra.

Esse babado de “pedir força policial” nos remete aos tempos da ditadura militar, cuja presença do Exército era uma constante no canteiro de Tucuruí.

A presença da Força Nacional nas cercanias do canteiro da Norte Energia não é nenhuma garantia de que Belo Monte esteja protegida   de esturros da  plebe rude.