Reproduzimos a íntegra de post do site Eco Amazônia:

 

A madeira que será retirada das áreas de supressão vegetal para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, poderá ser usada para alimentar os fornos das guseiras do estado, principalmente do pólo de Marabá. O uso da madeira para a produção de carvão para as guseiras é defendido por um grupo de empresas ligadas à Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), que deve apresentar a proposta à empresa Norte Energia, dona da concessão da hidrelétrica que começou a ser construída no Rio Xingu.

A reportagem apurou que entre as empresas envolvidas no projeto está a Cikel, um dos maiores grupos florestais do mundo e com grandes áreas de florestas certificadas no Pará. O grupo adquiriu recentemente uma empresa de gusa em Marabá. Outro grupo empresarial envolvido nas negociações é o Leolar, do Sul do Estado, que também mantém uma empresa guseira naquela região.

Uma das principais dificuldades do pólo guseiro do Sul do Estado atualmente é a dificuldade de encontrar matéria-prima legal para a produção de carvão vegetal que alimentam os fornos das indústrias. Existem denúncias de que estas empresas ajudam a fomentar uma rede de desmatamento ilegal e até trabalho escravo nas carvoarias. A revista Observatório Social, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), produziu longa reportagem sobre o assunto, chamando a atenção das autoridades para o problema.

As principais indústrias guseiras de Marabá e região vêm tentando reduzir o uso de carvão ilegal na produção, entretanto, de acordo com o levantamento da publicação da CUT, esta redução vem acontecendo de forma lenta e muita ilegalidade ainda envolve a produção de carvão para alimentar as guseiras.

A disposição de uma grande quantidade de madeira retirada com autorização dos órgãos ambientais, como acontecerá em Belo Monte, pode ser uma solução para estas empresas. De acordo com previsões iniciais, calcula-se que entre cinco e seis milhões de metros cúbicos de madeira sejam retiradas das áreas onde a usina Serpa construída, sendo que aproximadamente 95% desta madeira teria destinação recomendada para a produção de carvão, briquetes ou pelets, devido a falta de outra destinação comercial.

Um dos problemas, entretanto, será o alto custo logístico para viabilizar o uso da madeira de Belo Monte. Um especialista ouvido pela reportagem revelou que os custos de produção e de logística são proibitivos. “A não ser que haja um subsídio para a produção deste carvão, trata-se de uma operação comercial que certamente causará prejuízos econômicos a quem se habilitar a assumir o processo”, explica, acrescentando que o custo para as guseiras também pode ficar muito alto.

Técnicos da Norte Energia também avaliam a possibilidade desta madeira garantir o fornecimento de carvão vegetal legal para as indústrias de ferro-gusa. Entretanto, o péssimo histórico do setor lança suspeitas sobre as reais intenções das guseiras. O maior temor é que se usem apenas os créditos desta madeira para legalizar carvão produzido ilegalmente no Sul do Estado, prática bastante antiga das empresas envolvidas na cadeia do ferro-gusa paraense.