Barbosa, o  black bloc 

(*) Tetê Teles

Desde que o julgamento da ação penal 470 se converteu em um reality show, alguns eminentes ministros, encantados com os holofotes, passaram a jogar para a plateia.

Barbosa, grande ator, roubou a cena desde então.

Ofendeu colegas, abusou de expressões de efeito midiático, fez caras e bocas, bateu boca e bateu, com muita força, o seu martelo.

O nosso Thor negro, poderoso, andava por aí, no farfalhoso frufru da toga, martelo em punho, cravando sentenças: chamou advogados de dorminhocos preguiçosos; jornalista, de porco chafurdento; colega, de chicaneiro; e a revistaveja, por tudo isso, pelo conjunto da obra, o chamou de heroi.

Heroificado, Barbosa comprou um apê nos Esteites, terra de super herois, como se sabe. E como um super heroi moderno saiu a dar entrevistas, celebritante. Distribuiu autógrafos, marcou presença em eventos sociais, fez selfies, tirou fotos com fãs, desavisados e até com um bandido foragido, sempre risonho; foi a sambas, bares e até a um jogo de futebol, ao lado de Luciano Huck.

Lavou a égua.

Midiatificado, viciado no espetáculo e na bajulação, bateu o martelo com muita força e mostrou ter-se deixado trair pela emoção.

Fez de réus, inimigos; de colegas, adversários; da mídia, uma aliada.

Ordenou prisões no feriado e montou em excelente cenário: avião, veículos da Polícia Federal e todo mundo junto indo para a mesma penitenciária. Semiabertos foram trancafiados, tripudiou da enfermidade de um dos réus e foi condescendente com outro já convalescido.

Depois foi às compras na Europa, mas antes deu uma palestra em uma universidade nas estranjas, convidado para ninar um reitor com a sua conversa pra boi dormir. Os caras não lhe pagaram cachê e nem o café da manhã do hotel, tudo veio da viúva.
Assim, ele passou de um mero ator – sempre de pé e nunca de costas para a plateia – para um hábil roteirista e promissor autodiretor.

Aí vieram os Embargos Infringentes. Barbosa, o altivo, sofreu uma fragorosa goleada de 4×1. Ao sentir que perderia o jogo, foi pro ataque qual um legítimo black bloc.

Como se gritasse a plenos pulmões Não Vai Ter Copa, a barra passou a pesar para Barbosa, e o nosso heroi começou a desferir socos, cabeçadas e rabos-de-arraia, quebrar vidraças e tocar fogo no prédio público símbolo da burguesia, o STF.

Chamou Toffoli de hipócrita e acusou o fleumático Barroso de fazer política, veja você.
Mongicamente, Barroso, olhando para o bípede implume e togado – sempre de pé, por conta das hemorroidas (por que não se trata?) – afirmou: “Considero, com todas as vênias de quem pense diferentemente, que houve uma exacerbação nas penas aplicadas de quadrilha ou bando”.

“Como é isso?”, perguntou o surpreendido Barbosa. “É fácil fazer discurso político”, afirmou o nosso candidato Joaquim, vendo que o outro tentava lhe roubar a cena.
Com mil diabos, parece que surgiu um deus ex machina por trás da cortina.

A certa altura, Barroso disse: “O discurso jurídico não se confunde com o discurso político. O STF é o espaço das razões públicas e não das paixões inflamadas”.

Joaquim Barbosa inflamou-se e, como se tivesse em um campo de várzea, tratou o colega simplesmente de “Barroso”, como se tivesse em uma discussão no quintal de casa com um compadre, quiçá se soubesse o apelido de Barroso o teria usado.

Ainda com toda a sua fleuma, Barroso disse que Joaquim sofria de déficit civilizatório.
Bom, parece que arrancaram a máscara do nosso heroi. E assim, de cara limpa, nenhum black bloc enfrenta ninguém.

Como um quixote às avessas, Barbosa achou que lutava contra moinhos de vento, deparou-se com gente de carne e osso, e sangue frio.

Talvez esse tenha sido o último ato de Barbosa nessa ópera bufa escrita por ele mesmo, só lhe resta ser o candidato da revistaveja e, depois, o ostracismo.

Como se vê, vai ter copa!

(*) Tetê Teles, jornalista, publicitário, diretor e roteirista.