Quando o carro alegórico denominado “girassol” da Vila Isabel passou na avenida reproduzindo eixos do  enredo “A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – Água no feijão que chegou mais um”, a vida do homem rural, pela primeira vez, era mostrada na Marquês de Sapucaí.

Toda a escola lembrou aqueles que lutam na maior dificuldade para produzir arroz, feijão, café, abóbora, macaxeira, milho – alimentos básicos do brasileiro.

Martinho da Vila e Arlindo Cruz não apenas  colocaram poesia no canto do enredo.

Conseguiram,  também, de forma sublime,  realçar o dia a dia de uma dura realidade do trabalhador rural, dosando seus versos num cenário de realismo fantástico, tão bem realçado na avenida pela mão criadora da carnavalesca Rosa Magalhães.

Infelizmente, o objetivo mercantilista atual das escolas de samba não concede espaço para a evolução criativa dos compositores de raiz.

Quando isso acontece, o belo e a arte se consagram, ao gosto do povo.

Foi assim quando o Império Serrano levou o caneco cantando “Bumbum Praticumbum Prugurundum”.

Quando a Imperatriz levantou o título  saudando o Nordeste com o tema “Mais vale um jegue que me carregue que um camelo que me derrube, lá no Ceará”.

No “Kizomba, a festa da raça”, que também deu o carnaval a Vila Isabel, em 88.

E na emolduração do enredo    “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós” – também da Imperatriz.

O carnaval de patrocínios não tem permitido a livre criação dos poetas e sambistas de raiz,  agora escanteados pelo poder financeiro.