Os melhores sambas de raiz foram escritos por compositores de origem humilde, e semi-analfabetos. São marceneiros, pintores de parede, , serralheiros, fundidores, pedreiros, mecânicos, guardadores de carros, contínuos de repartições públicas ou de bancos, biscateiros, enfim, membros do vasto conjunto de empregados ou subempregados que compõem as camadas de baixa renda da população brasileira. É sempre possível que um deles ascenda ao mundo do disco e dos shows, conseguindo driblar a vida de trabalho pesado e mal remunerado.

Candeia, por exemplo, parceiro de longas datas de Paulinho da Viola, semi-analfabeto, deixou uma obra e uma história de vida que só enchem de orgulho seus seguidores sambistas. Mito da resistência cultural brasileira – a criação da escola de samba Quilombo, em meados da década de 70, é o exemplo maior de sua identificação e militância nessa área –, o compositor é até hoje um dos grandes nomes no panteão da Portela.

Cartola, analfabeto, construiu belas páginas de nossa música e ainda nos contempla com a chamada “Coletânia” (assim mesmo a grafia), onde ele reúne o título de seus maiores sucessos num hino ao amor.

Só um Peito Vazio descobre que O Mundo é Um Moinho
E quando isto Acontece, Alegria vai embora
E as Cordas de Aço de um violão solam baixinho
Uma canção que se chama, Disfarça E Chora
Eu confesso que te vicio um Amor Proibido
Vai Amigo, e diga o quanto eu tenho sofrido
Mas tudo se ajustará numa grande Alvorada
O Sol Nascerá
Pouco importa, depois,
se estaremos juntos Nós Dois
O nosso amor brilhará numa noite tao linda
As Rosas Não Falam, mas podem enfeitar
A grande Festa da Vinda

Nota do blog: grifos são títulos de músicas de Cartola.