A professora paraense Danielle Figueiredo, de 33 anos, dá aulas para alunos do ensino médio em áreas rurais do Pará por meio de um sistema denominado modular. Nele, as aulas são concentradas em apenas uma disciplina durante 50 dias, em locais de melhor acesso para estudantes que vivem longe dos centros urbanos.

Isso significa que Danielle, professora de sociologia pós-graduada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), passa até 50 dias em cada um dos municípios em que leciona, especialmente no nordeste do estado, já tendo trabalhado nas comunidades rurais de Capitão Poço, Garrafão do Norte, Nova Esperança do Piriá, entre outras.

Desde 2015, a professora da rede estadual de ensino passou a aplicar em sala de aula, por iniciativa própria, “O Valente não é Violento”, currículo interdisciplinar disponível na Internet (clique aqui) que tem como objetivo abordar questões de sexualidade e de gênero para combater e prevenir a violência contra mulheres e meninas.

O currículo faz parte de iniciativa de mesmo nome que integra a campanha UNA-SE Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, do secretário-geral das Nações Unidas. A ação é coordenada pela ONU Mulheres, tem o envolvimento de todas as agências da ONU e é financiada pela União Europeia.

“Adoto o tema de gênero e sexualidade desde que iniciei minha carreira de professora, há cinco anos”, explicou Danielle em entrevista por telefone ao Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio). “Como sempre usava materiais da ONU e de ONGs, acompanhava (os lançamentos) e vi que tinha saído esse currículo”.

Segundo a ONU Mulheres, ao menos 30 professores brasileiros informaram adotar o currículo em diferentes estados brasileiros. O número pode ser muito maior, uma vez que o acesso ao documento, disponível na Internet, é livre.

O currículo aborda temas que vão desde as várias formas de violência contra as mulheres e informações sobre a Lei Maria da Penha, passando pela temática de carreira e profissão, mídia e esportes, até masculinidades e iniciativas que aproximam a educação de meninos e meninas para o tema da igualdade de gênero em seu dia a dia.

O objetivo é possibilitar uma maior compreensão sobre o que leva à desigualdade de gênero e à violência contra mulheres e meninas, bem como buscar uma mudança de cultura e de comportamento que leve à igualdade e ao respeito, segundo a ONU Mulheres.

No começo, Danielle Figueiredo (foto) teve dificuldades para abordar o tema em sala de aula nas regiões rurais. “Para estes alunos é tabu discutir essas questões”, explicou a professora. “É um mundo mais hostil às mulheres, mas no qual eu aprendi a dialogar com os homens e explicar como eles também podem ser prejudicados por comportamentos machistas”.

“Quando colocamos uma outra visão para eles, quando vencem essa posição agressiva, passam a ouvir”, explicou a professora, que dá aula para alunos com idade entre 15 e 18 anos.

Danielle contou que mesmo as meninas apresentavam resistência quando a temática era abordada em sala de aula. “Mas, de cinco anos para cá, vejo algumas diferenças. Elas querem estudar, não repetir as histórias (dos pais)”, declarou. “Também vejo algumas mudanças no discurso sobre a questão da violência. Elas estão falando mais, não se sentem acuadas”.

Para a professora, um diferencial do currículo é o fato de ele incitar discussões em classe, propiciando a interação entre os alunos e com os professores. Segundo ela, o currículo inova na medida em que se diferencia da educação formal, trazendo elementos da educação popular.

“Apresento dados sobre violência, mostro a lei. Eles não conhecem a Lei Maria da Penha. Não sabem em que contexto, por que ela surgiu. Dessa forma, uso dinâmicas para discutir a violência, conto uma história de vida e vou fazendo perguntas. E eles vão respondendo em cima delas. É interessante”, declarou. ( Site Nações Unidas Brasil)

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Nota do blog: a escola da foto é Vila Nova Esperança em Tomé-Açu, onde atua o Sistema de Organização Modular de Ensino (Some). Foto: Blog do Riba