Olha que notícia bacana, contada aqui pela jornalista Juliane Frazão, da AgênciaPará;

 

Transformar o conhecimento acadêmico em tecnologias úteis e novos tipos de negócios é uma das razões da existência do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, espaço onde boas ideias se tornam soluções para empresas e a sociedade. A Várzea Engenharia, startup residente no parque tecnológico desde 2016, criou um projeto de palafita com elevação hidráulica, pensando no período de cheia dos rios.

A palafita é feita com madeira biossintética (foto), produzida a partir da reciclagem de polietileno, um tipo de plástico usado largamente na indústria de embalagem. O material recebe um tratamento repelente, à base de andiroba, para afastar os mosquitos transmissores de doenças.

O projeto prevê ainda a instalação de fossa séptica e biológica com sistema de filtro natural, permitindo tratamento e potabilidade da água; captação de energia fotovoltaica solar, através de placas na cobertura; e sistema de comunicação ad hoc, uma tecnologia de rede sem fio que dispensa o uso de um ponto de acesso comum aos computadores conectados a ela, de modo que todos os dispositivos da rede funcionam como se fossem um roteador, encaminhando comunitariamente informações que vêm de dispositivos vizinhos.

A ideia da startup surgiu quando José Coelho Batista cursava a graduação em engenharia civil. Ela conta que, no primeiro dia da aula, durante a disciplina metodologia científica, o professor pediu que cada aluno escolhesse um objeto de estudo e deu a orientação que tivesse algo a ver com sustentabilidade.

“Lembro que peguei a caneta, o caderno, baixei a cabeça e escrevi todo o projeto Casa de Várzea, direto. A casa de elevação hidráulica veio naturalmente porque foi o que vivi na infância. A cada seis meses tínhamos que abandonar a nossa casa, na região de várzea no município de Juruti. Estava ali no subconsciente”, fala o empreendedor.

Trajetória – No Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, a startup surgiu no coworking, ambiente compartilhado de trabalho. À medida que o negócio foi se desenvolvendo, a empresa cresceu e ocupou sala própria no prédio Espaço Empreendedor. A startup, que começou apenas com o trabalho do idealizador, hoje abriga uma equipe com dois engenheiros civis, três doutores em diferentes áreas, um economista e mais uma equipe volante, que dará apoio ao desenvolvimento dos projetos piloto das escolas de várzea.

O plano é que, em um futuro próximo, a startup construa um prédio próprio na área de parque tecnológico, para a instalação de uma unidade fabril que será responsável pela produção, em larga escala, da madeira biossintética.

“Com a construção da fábrica, além de empregar mão de obra local, temos a previsão de reciclar aproximadamente 20% do volume de plástico descartado na região metropolitana de Belém. A ideia é estimular a cadeia de reciclagem desse material, tornando, inclusive, o plástico uma moeda de troca para o pagamento da casa”, informa José.

Rede – Estar inserido no ecossistema de inovação do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá possibilitou parcerias que fortaleceram e viabilizaram o projeto. Além da Fundação Guamá, gestora do parque, a startup hoje atua em parceria com a BioTec Amazônia, fundação também residente no PCT Guamá; a startup Ver-o-Fruto, responsável pela implantação de filtros de carvão ativado; a Ecoset, empresa de consultoria que trabalha na área ambiental; a Vigha, que trabalha sistema de gerenciamento de obras; a Like, responsável pelo suporte na comunicação; o Instituto My Amazon, que dará apoio no network e captação de recursos; e secretarias de governo.

Próximos passos – Segundo o empresário, a perspectiva é que, ainda este ano, sejam implantadas duas escolas utilizando o modelo de tecnologia da startup: uma de 500 m², situada em Abaetetuba e gerenciada pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc); e uma escola técnica de pesca, cuja localidade ainda será definida, administrada pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet).

Sobre o PCT Guamá – O Parque de Ciência e Tecnologia Guamá foi criado a partir da parceria entre as universidades Federal do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (Ufra), que cederam ao Governo do Pará a sua área de instalação, e a Sectet, hoje a principal mantenedora do empreendimento.

A Fundação de Ciência e Tecnologia Guamá, por sua vez, foi qualificada para realizar a gestão administrativa, financeira, física e ambiental do PCT Guamá desde 2009.

Seu principal objetivo é estimular a pesquisa aplicada, o empreendedorismo inovador, a prestação de serviços e a transferência de tecnologia para o desenvolvimento de produtos e serviços de maior valor agregado e fortemente competitivos.

Com uma área de 72 mil metros quadrados, reúne atualmente 15 centros e laboratórios tecnológicos, 13 startups e 38 empresas, instituições de pesquisa e grupos residentes.
Situado entre a UFPA e a UFRA, apresenta espaços voltados para a instalação de pequenos e médios empreendimentos de base tecnológica, laboratórios e centros de pesquisa e desenvolvimento, assim como empreendimentos nascentes (startups) e temporários.