Uma namorada, Silvana Sampaio, me adorava fazer cafuné. À noitinha quando em sua casa chegava, e ela a me esperar na varanda, cultivava o hábito de me deleitar com um gostoso cafuné de menina de 15 anos. Dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o cafuné é o que mais me faz falta.
Pior é que ninguém mais parece saber fazê-lo, não sei se por causa da pressa dos dias atuais. Estamos precisando de tempo e devoção para a delicada missão de esfregar a ponta do dedo na cabeça de quem se gosta.
Antes de Silvana, tinha dona Tonica, minha vovó gostosa. Enquanto tragava seu pau-ronca na soleira da antiga casa da rua marechal Deodoro, hoje Orla Sebastião Miranda, em frente ao rio Tocantins, deitava minha cabeça sobre o colo dela para as sessões rotineiras de cafuné.
Deveria haver um curso obrigatório no seio das famílias para ensinar o mais nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Ou então que se abrise pelas cidades casas especializadas em cafuné com direito de cada uma cobrar o trabalho por hora contratada. Importante é devolver as mãos às nossas cabeças carentes.
“Tem certos dias quando eu penso em minha gente”, a vontade do cafuné se acende. Puro filme de Kurosawa. Arrepio no cangote.