Até o final de janeiro próximo, o governador Helder Barbalho entregará a ponte Rio Moju que está em sua fase de conclusão, depois de ter seu vão destruído por uma balsa.

Seguindo de perto  os trabalhos finais do empreendimento,  já que a ponte tem importante significado para a economia do Sul e Sudeste do Pará, o  blog esteve esta manhã acompanhando uma visita  às obras do secretário de Estado de Transportes, Pádua Andrade, que nas últimas horas tem mantido intensas reuniões e seguidas visitas técnicas ao  local do empreendimento,  objetivando garantir a finalização da construção no tempo estabelecido pelo governador Helder Barbalho.

Na própria ponte, Pádua reuniu-se com sua assessoria e equipe de engenheiros da construtora encarregada da interligação da Alça Viária, estabelecendo um organograma final que deverá garantir a data de inauguração até final de janeiro.

             – “Mas quem vai marcar a data exata é o governador, disse  Pádua Andrade, engenheiro civil com mestrado em execução de Planos de Rigger.

 

No dia 6 de abril de 2019 uma balsa trafegando ilegalmente, transportando restos de dendê, se chocou com um dos pilares da ponte, próximo à entrada do município de Acará, que fica a cerca de 60 km de Belém.

A maior parte da estrutura da ponte desabou, mas não houve vítimas.

A empresa Biopalma, dona da carga, assumiu a responsabilidade pelo sinistro e pagou mais de R$ 128 milhões ao Estado pelo prejuízo, após ser acionada pela Procuradoria-Geral do Estado.

Atendendo a determinação do governador Helder Barbalho, a solução de engenharia encontrada pela Setran para a reabilitação da Alça Viária, visando atender a exigências de navegação da região foi a construção de um trecho estaiado de 268m de comprimento, com um mastro central que suporta o tabuleiro com 40 cabos estais, com cordoalhas de aço de alto desempenho.

Com a nova ponte, o  canal  de navegação que era de 68 metros, ganhou dois  de 134 metros.

O tempo recorde de construção da ponte (sete meses) deve levar a obra para integrar o livro Guinness

A seguir, a entrevista feita agora há pouco com Pádua Andrade, aqui no rio Moju. 

 

Blog – As obras da ponte do rio Moju estão chegando aos finalmente. É possível garantir a data exata de sua reabertura?

Pádua – Até o início dessa semana que chega, trataremos  com o governador sobre o dia de  entrega da ponte. A verdade é que estamos chegando ao final de um grande desafio que foi construir a ponte em tempo recorde.

 

Blog – Tecnicamente, é possível dizer que ainda em janeiro a ponte será entregue?

Pádua – Nessa semana próxima, concluiremos  a implantação do último  par de estruturas de concreto; em seguida,  a pista será pavimentada com asfalto, com instalação de guarda-corpo, iluminação, sinalização da via. Meu corpo de engenharia trabalha com essa possibilidade de possibilitar ao governador fazer a entrega da obra.

 

Blog – Em relação a segurança da ponte, defensas serão implantadas?

Pádua – Claro ! Defensas serão fixadas nos pilares da ponte, que estão sendo construídas em um estaleiro em Belém. Essas defensas foram projetadas para suportar grandes impactos.

 

Blog – Mas, secretário, as defensas serão nos moldes das frágeis proteções que a gente vê por aí implantadas no entorno de pilares de algumas pontes?

Pádua –  As defensas estão construídas com um casco de aço anelar, com segmentos estanques,  seção transversal tubular de 3mx4m, que envolvem os blocos de fundação, alcançando 57 m no diâmetro maior e 36 m no diâmetro menor. O anel de aço está revestido com placas de concretos pré-fabricados para absorver a energia de impacto correspondente a uma força estática equivalente de 28 MN,  ou 2.800.000 kgf, resultantes de comboios de balsas viajando em velocidades de 10 nos, ou seja, da ordem de 20km/h. Os segmentos estanques dessas defensas visam impedir o afundamento imediato diante dos impactos de balsas, possibilitando sua reparação em tempo suficiente após um impacto. Tenha certeza de que o governo do Pará está trabalhando para fazer uma obra de qualidade e que não venha mais, no futuro, trazer transtornos como os verificados com a queda do vão central da ponte no Moju.

Pádua Andrade (Secretário Setran);  Pedro Almeida, projetista que presta consultoria à Setran; Daniel, da empresa Protende, responsável pelo projeto de estaiamento da ponte.

Blog- Ontem, eu entrevistei um engenheiro que reside em São Paulo, filho do profissional que construiu a ponte rodoferroviária sobre o rio Tocantins, que disse  considerar a ponte do Moju um case da construção civil brasileira, considerando as situações adversas enfrentadas pela equipe que constrói o vão central e a rapidez com que a obra será entregue.  Qual seu comentário sobre isso?

Pádua – Olha, sou suspeito para fazer autoelogios. Mas é evidente que construir em sete meses uma ponte estaiada de quase 270 metros na Amazônia, num cenário de religação da principal alça rodoviária do norte brasileiro, tem sido  grande desafio da Engenharia Civil no Estado do Pará. Ademais, devemos considerar que essa ponte faz parte do complexo de quatro pontes da Alça Viária da região Metropolitana de Belém, imagine o desconforto e as dificuldades impostas aos usuários da Alça com a queda da ponte. Em verdade, essa  obra de reabilitação da ponte Rio Moju enfrentou muitos desafios desde abril, quando foi derrubada por impacto de um comboio  em navegação noturna clandestina.

 

Blog – Quando o senhor tomou conhecimento da queda da ponte, qual sua reação imediata?

Pádua – Primeiro, imenso susto, porque eu sei da importância da Alça Viária para o desenvolvimento  do Estado do Pará. Mas o que me impressionou foi a rapidez com que o governador Helder assumiu a questão, convocando, de madrugada, seus auxiliares para uma reunião de emergência. Nem o dia raiou, e lá estava ele com nossa equipe sobrevoando a área, para ter verdadeira leitura da dimensão do problema. Sobrevoou a ponte caída e navegou em torno dela, utilizando uma embarcação. Ou seja, imediatamente após o sinistro, o governador  Helder  tomou todas as providências necessárias para restabelecer o tráfego no trecho da rodovia, garantindo o fluxo  naquele corredor de transporte da produção agropastoril e mineral do Estado do Pará.

 

Blog – Tecnicamente, era necessário construir um vão de 300 metros, utilizando estaios como recurso tecnológico ?

Pádua – Foi essa solução que fará surgir, ali naquele trecho do rio Moju, dois  novos canais de navegação com 134m de largura que possibilitará uma tráfego fluvial  adequado dos comboios de balsas típicas da região. A robustez desse trecho estará garantida com a instalação de três defensas flutuantes (denominadas de dolfim) de proteção das fundações, altamente resistentes a grandes impactos.

 

Blog – Qual a situação enfrentada  que mais levou preocupação à Setran, considerando o prazo para conclusão da obra estabelecido pelo governador?

Pádua – Olha, o desafio preliminar da reabilitação da ponte foi a limpeza dos escombros do fundo do Rio Moju. Deu muito trabalho, diante da necessária cravação das 45 estacas metálicas de 1,2m de diâmetro, a 55m de profundidade no fundo do rio para suportar o mastro da ponte, com 95 m de altura. Só pra você ter uma ideia, durante o desabamento súbito de 268 metros de tabuleiro da ponte, foram arremessados ao fundo do rio,  quatro  pilares de 22 metros de altura; quatro  blocos e da ordem de 45 estacas de 80cm de diâmetro e 14 m de altura, que resultaram em 9.000 toneladas de destroços, emaranhados com o comboio (balsa e empurrador), que foram assoreados com os rejeitos de palma transportados pela balsa. Diante dessa situação a engenharia da obra decidiu pela construção do bloco da ponte em duas etapas, com a primeira de 21 estacas para suportar a construção dos pilares do mastro, executada de junho a agosto e a segunda para dar estabilidade em serviço, com 24 estacas concluída em dezembro, ou seja, simultaneamente a finalização do mastro.

Reunião de Pádua com equipe técnica na ponte rio Moju, agora pela manhã.

Blog – Qual o tempo consumido para a limpeza do rio?

A limpeza preliminar demandou dois meses e 14 dias para vencer as fortes correntezas e retirar os escombros do local de construção do pilar central da ponte estaiada de reabilitação da ponte Moju.  Inicialmente se projetou 35 estacas de 1,2m de diâmetro a serem cravadas a uma profundidade de 35 metros, mas em virtude das características local do solo, foi necessário adicionar mais 10 estacas e ainda cravá-las a uma profundidade média de 54 metros para alcançar uma argila mais consistente, de melhor qualidade e garantir a segurança necessária do novo mastro. Este mastro central da obra foi concluído com dois pilares celulares de 3,5m por 5,5m, que atingiram a cota de 95 metros de altura, construídos sobre um bloco de concreto armado com 16m de largura e 28m de comprimento, escalonado numa altura de 10,80m.

 

Blog – Visando a celeridade da obra, como foi planejada a distribuição de funções diante da necessidade de cumprir o tempo estabelecido pelo governador para restabelecimento do tráfego na alça viária?

Pádua – Nós abrimos três frentes de trabalho: uma cuidando da construção do mastro central no meio do Rio Moju; outra equipe, em  Fortaleza,  na construção pré-fabricada da estrutura de aço do tabuleiro da ponte; e outra na remoção dos escombros do rio para liberar os dois novos canais de navegação da ponte, com vão entre eixos de 134m cada um. Somados a essas três  frentes de trabalho veio o desafio da travessia temporária do Rio Moju visando mitigar o severo impacto socioeconômico gerado pelo desabamento da ponte. Essa quarta “frente de trabalho” foi idealizada e materializada sem interferências nas atividades de construção da ponte. Para isso, foram construídos em tempo recorde dois portos temporários na margem esquerda e direita do rio, região jusante da ponte, onde estão operando diariamente duas  balsas dentro de uma rota hidroviária  de travessia do rio, que se desenvolve até hoje, normalmente.

 

Blog – Em relação a essas balsas, com a interligação da Alça Viária, concluída a ponte sobre o Moju, os serviços das duas balsas serão paralisados?

 Pádua – Exatamente. Mas a estrutura de rampas flutuantes instaladas pela Setran será transformada em um porto público, após a reabertura da Alça Viária. A  decisão tomada pelo governador visa beneficiar a população local, que utiliza os rios da região (Guamá, Acará e Moju) para transportar açaí dos municípios do Baixo Tocantins – maiores produtores do fruto -, que abrange Abaetetuba, Acará e Moju, área de influência da Alça Viária. Segundo projeto elaborado pela Setran, o porto será público, sem agente de operação, apenas com segurança da Marinha e da polícia.  Além de fomentar a economia local, o porto terá caráter estratégico pra qualquer operação de manutenção das defensas da nova ponte, agilizando a chegada das equipes de reparos até o local por meio das rampas já instaladas.

 

Blog – Os trabalhos de construção são realizados em três turnos?

Pádua – Sim! Todas essas atividades de engenharia, vem se desenvolvendo com trabalhos em três turnos, mobilizando cerca de mais de 500 funcionários no canteiro, além de doze balsas que abrigam seis guindastes, silos de agregados para concreto, pátios para armação e montagem das estruturas de aço das aduelas e laboratório de concreto, caracterizando-se assim um “canteiro de obras flutuante”, ancorado no entorno do mastro da ponte, no meio do Rio Moju, onde ocorre uma variação diária de maré da ordem de 4,0m.

Blog – E por que  esse canteiro flutuante?

Pádua – Para  manter o ritmo de trabalho nas proximidades do pilar central, o que possibilitará a entrega da ponte nos próximos dias,  antes do período mais intenso das chuvas do inverno Amazônico.

 

Blog – Até agora, os mecanismos de segurança em torno de quem trabalha na obra estão dando resultado?

Pádua –  Por se tratar de uma obra de risco 3, temos o maior orgulho de declarar não ter havido até agora nenhum acidente de trabalho desde seu início. Por essa razão,  é ainda maior a responsabilidade na reta final. Para isso cada atividade utiliza a metodologia de trabalho que inclui planos de Rigger, estratégias que são usados como um meio de mitigação de riscos, para proteção das pessoas, da carga, da propriedade e equipamentos localizados na circunvizinhança da área do trabalho, assim como as operações de içamento, uma vez que a obra opera com 6 guindastes. Além de todas as operações de construções precisamos preservar a travessia das balsas, dos ribeirinhos, retirar o que ainda há de entulho, instalar as proteções que evitarão novos sinistros como esse, com uma equipe da Marinha fazendo toda a supervisão e liberação das atividades.

 

Blog – Li na imprensa que  uma engenheira florestal do Crea-PA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Pará), após vistoriar as obras da ponte, declarou-se impressionada com os cuidados com a preservação do meio ambiente, no entorno do canteiro de obras.  Qual o impacto de uma declaração dessa no seio da Setran?

Pádua – Contentamento e orgulho, muito orgulho dos técnicos e demais  servidores de nossa secretaria. Objeto de vistorias permanentes,  a obra da ponte Rio Moju obedece a critérios de proteção ambiental. A declaração é da doutora Tânia Giusti, do Crea, que realmente nos declarou ter ficado impressionada com nossas preocupações nessa área de responsabilidade com a preservação do meio ambiente, preocupação em não deixar cair entulho para prejudicar a fauna e a flora – e até de barulho do maquinário, que é bem menor que o habitual. E tenha certeza disso, desde o início da obra, o governador Helder nos fez mil recomendações para o cuidado com o meio ambiente.

Chefe da Setran quase em tom de despedida com a equipe que está concluindo a ponte rio Moju