Por inédita no país, a decisão da Fetraf-PA de não mais pautar suas ações invadindo propriedades, tem como objetivo levar qualidade de vida aos assentamentos por ela gerenciados.

Depois de um contato rápido, ontem, 22, pela parte da manhã,  pelo telefone, com o coordenador da entidade no Pará, Chico da Cib, o poster conversou pessoalmente com ele no final da tarde, recebendo informações detalhadas dos motivos que levaram o movimento a suspender, pelo menos durante o ano de 2011, sua política de ocupação.

A primeira, resgatar princípios que norteiam os objetivos das ocupações.

  – A Agricultura Familiar, aos olhos de vasta parcela da sociedade, ainda é vista como espaço de atraso, de problemas e de pobreza. Nosso objetivo é resgatar o seu significado economicamente, já que esse setor é muito relevante para o país, explica Chico.

A mudança de cenário prevê a qualificação dos assentamentos.

No Pará, a Fetraf  detém 220 assentamentos, com 40 mil famílias distribuídas em lotes.

A ordem agora é elevar o padrão de vida dos assentados buscando adotar uma lógica na diversificação de culturas, “no respeito ao trabalhador, ao meio ambiente, gerando produtividade”. 

O planejamento da Fetraf com vistas ao exercício 2011/2012 consta de elaboração de uma série de ações.

A começar pela formação de mão de obra rural, utilizando-se novas tecnologias.

“A ideia é criarmos assentamentos modernos, não apenas com Saúde,  Escola e estradas para todos, mas com a lógica da produção, em primeiro plano”, conta.

O discurso que sempre pareceu somente ideológico, se torna claramente econômico.

E há fortes razões para a mudança de atitudes.

A Fetraf tem identificado inúmeros problemas rondando o setor. O mais preocupante, é o êxodo dos jovens da zona rural para o mundo urbano.

“Rapazes e moças criados na roça estão preferindo ir para as cidades, e isso não é bom para ninguém. Quem vai para os núcleos urbanos muitas vezes acaba no crime, no desemprego, formando novas favelas”.

Na visão da Fetraf, a crise no abastecimento de alimento no mundo, acentua-se. “Cada ano, temos mais gente pra alimentar, e alimento de menos”, fazendo com que a atividade agrícola ganhe cada vez mais importância como fator de equilíbrio e de sobrevivência.

Nessa perspectiva, a federação vislumbra a oportunidade dos assentamentos reverem conceitos para conquistar avanços importantes. “Esses fatores reforçam a relevância da produção familiar para o futuro não apenas do país, mas da humanidade”.

Cursos, treinamento de mão de obra, seminários, aporte de investimentos para a aquisição de novas tecnologias, essa a linguagem a ser adotada, a partir de 2001, pela Fetraf.

Conscientização agroecológica

Em Marabá, os  assentamentos “Palmeira-Jussara”  e “Bela Vista” servirão de laboratório para as novas investidas da Fetraf, dedicando ações para a produção de alimentos, leite, e psicultura.

“Iremos nos organizar em torno da produção de alimentos para a qualidade de vida; tanto de quem produz, quanto de quem consome estes alimentos”, buscando,  além de tudo,  no desenvolvimento local, “uma forma de combater a fome e a exclusão social, de diminuir a dependência da população a políticas compensatórias e de evitar o inchaço das cidades, fazendo do campo um gerador de emprego e renda”, explica Chico da Cib.

Viviane Pereira de Oliveira, presidente da Federação das Centrais e Uniões de Associações de Produtores Rurais do Estado do Pará (FECAP), também presente à entrevista, ao lado de Chico, revela outra preocupação com os novos rumos da entidade: demonstrar, com fatos, que a Agricultura Familiar também é o espaço da conscientização agroecológica, da ocupação racional do território, da preservação dos recursos naturais e da prática da agrofloresta.

Militante dos movimentos pela posse da terra desde o ano de 1995 quando teve sua primeira experiência ao integrar a invasão a uma propriedade, em Parauapebas, Viviane  entende que a juventude rural organizada poderá dar grande contribuição a um novo retrato da Agricultura Familiar.

“Mas eles tem que se sentirem estmulados, vendo a produção e a qualidade de vida em suas portas. A organização dos jovens em coletivos sindicais, de produção e em pastorais sociais, nos ajudará a combater o êxodo no campo”.

Nesse contexto, a Fetraf planeja ampliar formas de atuação junto ao jovem, elaborando encontros e oficinas temáticas, propostas para uma educação voltada à vida rural e para sua participação ativa na sociedade.

Ainda agora em novembro, durante encontro em Chapecó, a Fetraf nacional e suas coordenadorias, debaterão os novos rumos da entidade, dando ênfase, não aénas à produtividade agrícola, mas a questões compo a habitação.

A Fetraf do Pará estará presente, anunciando seus novos rumos.