O título acima é analogia ao “Confesso que Vivi”, obra autobiográfico do poeta chileno Pablo Neruda, e compõe o livro que acabei de escrever sobre histórias vividas pelos meus pais, João e Lourdes Bogéa.

Eles viveram, desbravaram, sofreram, enfrentaram guerras verdadeiras (com tiros pelo meio),  genuínos “Bandeirantes” nas matas da Amazônia, precisamente em Marabá.

Depoimentos gravados ao longo dos  anos, e guardados em diversos formatos de mídias, que passaram por fitas cassetes, CDs, disquetes, memória flash,  pen drivers até chegar ao arquivo em nuvem.

Consegui, sim, ao longo desses tempos, manter as gravações salvas, embora tenha perdido algumas muito importantes.

João e Lourdes viveram diversos estágios dos processos econômicos da região.

Desde a fase da borracha, posteriormente exploração de diamantes e ouro no rio Tocantins; período de extração da castanha-do-pará, até a atividade pesqueira, vivida por meu pai, já nos anos 80,  na costa marítima do Estado do Pará, percorrendo de Belém até as Guianas, em loucas aventuras de marítimo nunca vivida por ele, acostumado que foi às calmarias dos rios ou no enfrentamento das cachoeiras em nossos igarapés.

Depois de mais de dois anos, paradas, recomeços, quase desistências depois da morte do pai,  o livro terminou de ser escrito, exatamente às 02h45 desta segunda-feira, 30.

“Terminou” é força de expressão, porque certamente, agora,  muitas palavras, frases, ainda serão alteradas, na revisão de outras revisões já feitas.

Depois, na verdade, virá  parte muito importante: a revisão textual  profissional, para corrigir textos, garantindo que a redação esteja livre de erros gramaticais, ortográficos, de pontuação e de estilo, além de verificar a clareza, coerência e coesão do conteúdo.

A capa?

Não tenho a mínima ideia de como será idealizada.

Enquanto aguardo a revisão profissional, irei discutindo esse tema com amigos, familiares e, claro, profissional do ramo.

“Confesso que eles viveram”  é uma história reveladora de dois pontos extremos.

De um lado, o sonhador inveterado de um homem  boêmio, meu pai; do outro, o realismo fantástico e extremamente materialista de minha mãe.

Se João desprezava o valor do dinheiro, minha mãe brigava por ele despudoramente.

Sim, sim: despudoramente!

Minha mãe não tinha a mínima vergonha de  defender o que tinha e o que desejava ter.

A viva interação de meu pai com a natureza, era exuberante tanto quanto a própria natureza, diante da qual estava em constante contemplação.

O livro tenta mostrar isto: o  detalhe da pequena planta até o gigantismo das árvores, como as castanheiras pelas quais ele tanto lutou para preservá-las.

A pequena e tranquila água do menor dos igarapés até o mar agitado de ondas revoltas em tempestades, por ele enfrentadas nos mares da costa paraense.

No meio de tantos depoimentos e descobertas, algumas cheias de humor, com odores, cores e  sabores.

Toda essa abundância e riqueza de detalhes observados no livro só poderia confluir na grandiosidade que foram meus pais.

João, já morreu.

Lourdes, aguardando a morte numa cadeira de rodas, vítima de demência.

Mas, é isto: “confesso que eles viveram”!

 

Foto: Helder Messiahs