Recentemente inaugurado em Marabá, o Supermercado “Verdurão”  é uma marca de tradição regional administrada por uma família que imprime em sua gestão preocupações humanitárias – não apenas focada no lucro em si.

Além das sete lojas espalhadas por Parauapebas (cinco supermercados), Canaã dos Carajás e Marabá, o grupo liderado pelo empresário João Trindade (foto)  investiu num Centro de Distribuição.

O CD foi edificado em Parauapebas numa área de 2.500 m2, onde a empresa concentra maior número de filiais. 

O supermercado “Verdurão” surgiu a partir de um pequeno comércio adquirido por João,  em Parauapebas, na metade dos anos 2000, abrindo portas para o crescimento de um negócio que atualmente gera 300 empregos diretos, e é administrado sob  orientação humanitária.

“Quando iniciamos, tivemos dificuldades em dar um rumo estabilizado ao negócio devido a decisão que eu e minha esposa tomamos de não vender bebidas alcoólicas, a não ser produtos como vinho. Foi difícil, mas conseguimos impor um estilo comercial que até hoje obedece à nossa orientação.  Em nenhuma loja vendemos cerveja, cachaça ou coisas do tipo, só mesmo cartas de vinho”, conta João na longa entrevista concedida ao blog.

Filho de pais mineiros, Trindade nasceu em Araguaína e veio para o Pará no início dos anos 80, mais precisamente para São Geraldo.

Em 1984, mudou-se para Tucumã, residindo também em Ourilândia, cidade bem pertinho, onde trabalhou na roça, honrando as origens de sua família.

Em Tucumã ,trabalhou em comércio e acabou virando motorista de caminhão.

Aos 55 anos, João tem como profissões torneiro-mecânico e soldador, qualificado em curso do Senai, além de motorista e vendedor.

Colaboradoras do Verdurão na loja de Marabá

“Serei sempre um vendedor”, diz o empresário, que teve como escolas de profissão o tempo em que trabalhou como motorista e vendedor do Armazéns Martins, maior conglomerado atacadista do Brasil até o final do século XX.

Seu emprego no grupo ocorreu depois da temporada que passou trabalhando em Ourilândia e Tucumã, decidindo retornar ao Estado de Minas Gerais, mais precisamente para Uberlândia.

De motorista a vendedor, Trindade foi escalado para retornar ao Pará, fazendo base de seu retorno  em Tucumã, terra conhecida – e  de onde ele saia para cumprir uma rota até Tucuruí.

Lá estava  João de volta ao Sul do Pará.

Nem bem assentou pé em terras paraenses, a empresa o mandou para a longínqua Manaus,  a fim de expandir vendas do grupo Martins.

No Amazonas, o tempo foi curto.

O competente vendedor recebia a missão de fincar trabalho em Parauapebas, sempre com a missão de  consolidar a conquista de fatias do mercado para o Grupo Martins.

A história de João Trindade com o Armazéns Martins terminou em 1996.

Daí ele passou a trabalhar numa empresa chamada Pennacchi, uma das mais importantes empresas alimentícias do Sul do país.

Foi trabalhando na Pennacchi que João Trindade colocou os pés em Marabá, transformada em sua base para as vendas que fazia nos municípios do Sul e Sudeste do Estado.

Terminado seu ciclo na Pennacchi, João passou a trabalhar  na Distribuidora Tocantins, período no qual fez muitos amigos em Marabá – e abriu portas para que ele adquirisse um pequeno comércio que lhe fora oferecido por cliente, em Parauapebas.

Com muita dificuldade, ele e a esposa decidiram encarar o negócio, que inicialmente teve muitas dificuldades para se estabilizar financeiramente.

De lá até os dias de hoje, Trindade se consolidou na área supermercadista, possuindo as atuais sete lojas.

 “Sou muito agradecido ao povo do Pará pelo que conquistamos aqui”, fiz o empresário.

Casado com Marly Trindade, com quem teve quatro filhos: Cristiane, Cleyton Dagoberto, Erik Bruno e Lara, a caçula que faz faculdade na cidade de Gurupi, Estado do Tocantins -, João administra seus negócios preocupado em manter o bom atendimento e entender o gosto de sua clientela.

No bate-papo com o blogueiro, o empresário mostra um pouco da experiência adquirida ao logo dos anos, revelando uma visão moderna de negócios, embora não tenha concluído o Ensino Básico.

A SEGUIR, A ENTREVISTA:

 

BLOG – Quer dizer que além das sete lojas, o Verdurão construiu em Parauapebas  um Centro de Distribuição?

JOÃO TRINDADE – Fizemos esse investimento, porque chegamos a um ponto de definir qual estrutura teríamos que dispor, observando a necessária logística para abastecer nossas lojas. Então, edificamos  o CD numa área de 2.500 m2 de armazenamento. É dali que distribuímos, todos os dias, as mercadorias para todas as lojas, utilizando uma frota de 14 veículos. No CD, trabalham 25 pessoas usando empilhadeiras, alguns outros equipamentos para estocagem de produtos. Essa nossa logística consegue alcançar, em tempo real. Temos ainda um sistema de controle de vendas que monitora, em tempo real, tudo o que ocorre em nossas lojas.

BLOG –  Há quase duas décadas atuando no varejo supermercadista, o que você pode apontar como melhor experiência adquirida, até agora?

JOÃO TRINDADE –  Posso dizer que estou sempre aprendendo muito com minhas equipes de trabalho, passei por empresas grandes que me deram uma visão aberta de como gerenciar negócios, mas garanto a você que todo dia aprendo muito com os compradores, gerentes, e, principalmente, com nossa clientela, o maior professor de quem toca uma atividade varejista.

BLOG – Então você pode dizer que gerencia mais pessoas do que os negócios em si?

JOÃO TRINDADE – Sim, é isso mesmo!  Acho que em função desse quadro, posso dizer que quem faz o Verdurão ser o que é hoje, não sou eu. São as pessoas que trabalham comigo, que chegam cinco horas da manhã, e trabalham até as dez da noite… São essas pessoas que fazem!  Eu acredito muito nelas. Nossa equipe é muito boa, dedicada,  Eu fico mais na retaguarda. Eu acredito muito na capacidade da juventude, acredito muito em treinamento do quadro de colaboradores, um setor que procuro estar sempre investindo- porque trabalhamos com pessoas simples, assim como eu, mas, acima de tudo, motivando cada um no sentido de que cuidem bem de nossos clientes, razão maior de nossa existência. Esperamos expandir esse nosso tipo de trabalho, se possível, até mesmo abrindo mais lojas a fim de que possamos ajudar as pessoas. Nosso negócio, hoje, nos dá a dimensão de que devemos, sempre que puder, ajudar as pessoas a se desenvolverem profissionalmente, abrindo vagas de trabalho.”

BLOG – Isso que eu ia falar. Observo muito o semblante jovem de seus colaboradores. Isso é estratégico, contratar mais jovens?

JOÃO TRINDADE – Pode ser entendido dessa forma, porque temos como conceito de trabalho priorizar a assinatura da primeira carteira de trabalho, a chamada “carteira branca”. É tão reconfortante você saber que está abrindo oportunidades a quem inicia na vida produtiva. Lembro sempre da minha luta, quando jovem, sonhando em ter um bom emprego. Além do mais, o jovem tem uma capacidade de conquista extraordinária, que fomenta no meio dos negócios bons fluídos e soluções às vezes inesperadas.

BLOG – Antes de lhe entrevistar, conversei com alguns colaboradores seus, buscando  informações, querendo auscultar a pulsação da empresa. Todos com quem conversei falam de seu estilo conciliador e dos ensinamentos que passa ao ter seu primeiro contato com eles. Como é isso mesmo?

JOÃO TRINDADE – Quem trabalha comigo sempre ouve eu dizer que não estou buscando pessoas para trabalharem em supermercado. Estamos buscando pessoas para trabalhar com atendimento de pessoas. Primeiro é o cliente, depois o colega de trabalho.

 

(Uma pausa na entrevista para um esclarecimento)

O gerente do supermercado Verdurão recentemente inaugurado em Marabá,  é Genilson Guimarães. Jovem de 22 anos, ele começou trabalhando na empresa com 16 anos, na função de Repositor.

Pouco tempo depois já estava elevado à função de  Encarregado de Salão.

Eficiente, foi promovido a Sub Gerente de uma das lojas Verdurão  de Parauapebas.

Com a abertura da filial em  Marabá, Genilson (foto) assumiu a Gerência, exatos seis anos depois de ingressar na firma

O que  diz o colaborador sobre trabalhar na empresa?

 

– “É um aprendizado sem igual. Todos têm oportunidades igualitárias, o seu João não privilegia ninguém. Teve disposição para o trabalho e segue os conceitos de administração da empresa, a carreira é promissora aqui,  porque é uma satisfação vestir a camisa Verdurão. Temos um proprietário que, mais do que dono, é um pai. E não estou dizendo isso com objetivos de bajulação, não vejo razão para isso. Se você conversar com qualquer funcionário da empresa, ouvirá a mesma coisa. Seu João trata a gente com respeito e dignidade, além  de ser solidário nos momentos difíceis.

 

(Voltando à entrevista)

 

 

BLOG – O senhor é apontado pelos seus funcionários como “Paizão”. Existe esse tipo de relação paternalista entre você e seus colaboradores.

JOÃO TRINDADE – Não diria paternalista.  O princípio básico de qualquer relação, mais ainda nos negócios, é baseado em respeito e dignidade. Se você não tiver respeito com as pessoas e com o negócio que faz, não vale a pena, as coisas não andam. Além de respeitar, e, principalmente, admirar meus colaboradores, faço o que estiver ao meu alcance para ajuda-los nas necessidades mais urgentes. Resumindo:  quem quer ser bem-sucedido no varejo precisa saber lidar com as pessoas.  Qualquer líder de varejo precisa gostar de gente. Muitas vezes busco por um gerente que não é especialista, mas é generalista, principalmente aquele que sabe lidar com pessoas. A gestão de pessoas no varejo é a coisa mais importante. Tem gente que não gosta de gente, mas gosta de mercadoria, de carros, de objetos; então essas pessoas não podem atuar no varejo, que é extremamente ‘mano a mano’. Cada pessoa é diferente uma da outra, então o gestor deve estar capacitado para saber lidar com essas diferenças.

 

 BLOG – Qual o segredo para a sua empresa chegar atualmente a sete filiais e empregar cerca de 300 pessoas, com menos de 20 anos de existência?

JOÃO TRINDADE –  Bem, primeiro ter amplo conhecimento do que se faz é um dos atributos principais que o profissional do varejo deve ter.  E isso não vale apenas para o dono da empresa. Se você é gerente de loja, precisa conhecer as funções que vai desempenhar. Se for comprador, da mesma forma. Além disso, é fundamental, extremamente fundamental, revelar outra característica como humildade. Com humildade, vamos muito longe.

BLOG – Basicamente, esse é o segredo?

 

JOÃO TRINDADE – Não, é preciso, também, estar em sintonia com as mudanças tecnológicas do mercado e comportamentais do consumidor. O varejo deve surfar nessa onda, sempre, porque, a cada ano, o varejo supermercadista passa por transformações relacionadas à tecnologia. É necessário estar atento às tendências da moda, como por exemplo a mudança de comportamento do consumidor. Muitas pessoas moram sozinhas e as indústrias se preocupam com isso. As mudanças acontecem muito rápido, e o varejo precisa estar atento a isso e cadastrando esses novos produtos em suas gôndolas.

 

BLOG – Andando pela loja de Marabá  do Verdurão, percebe-se a distribuição muito bem posicionados dos produtos em gôndolas fortemente iluminadas e ilhas de verduras e frutas de qualidades inquestionáveis. Todas as suas lojas seguem esse layout?

 

JOÃO TRINDADE – Todas seguem esse padrão. Inclusive, em Marabá, montamos seis câmeras frigoríficas exatamente para garantir a qualidade do que oferecemos. São frigoríficos destinados a armazenagem de carne, frutas e verduras, porque nossa marca tradicional é oferecer frutas e verduras de qualidade. Nossas lojas são  limpas, bem arrumadas, com layouts bem conduzidos. O varejo Verdurão, posso garantir aos clientes de Marabá e da região, está bem atualizado com relação às tendências Brasil afora.

João no interior do CD, em Parauapebas.