José Saramago, ganhador do Nobel de Literatura de 1998, não temeu em usar as palavras para transmitir suas ideias. Foi polêmico, sem deixar de ser sensível, humano e até, por que não, cordial.

Sempre que leio seus textos, e o faço com frequência para refrescar as ideias, me pego lendo em voz alta, talvez para fixar melhor as palavras ou simplesmente para sentir a melodia gostosa de sua prosa.

Eis minha recente descoberta de Saramago: “Felizmente há palavras para tudo. Felizmente que existem algumas que não se esquecerão de recomendar que quem dá deve dar com as duas mãos para que em nenhuma delas fique o que às outras deveria pertencer.”

No dia 15 de outubro comemoramos o Dia do Professor, e usando as palavras de Saramago: devemos dar com as duas mãos o que os professores merecem, para que eles possam, também com as duas mãos, retribuir à sociedade o que têm de melhor.

Professor não merece receber uma mensagensinha nostálgica, muito menos propagandas de distribuidoras de livros homenageando-os. Professor merece receber reconhecimento pelo seu trabalho sério e competente, merece receber prêmios por transformar conteúdos em conhecimento prazeroso. Pois um bom professor faz a diferença onde atua, não se comporta como vítima, mas como agente de mudanças. Um bom professor é impaciente, não se acomoda em meio às dificuldades.

Há muita coisa retida, falta abrir mais as mãos, ou melhor: dar com as duas mãos o que é de direito do professor (salários mais justos, jornadas de trabalho mais amenas, acesso à cultura e ao lazer etc), mas a principal mudança que percebemos tem acontecido dentro de cada profissional da educação: somos uma geração mais inquieta com a qualidade das aulas que ministramos, gostamos de interagir com os alunos, nos envolvemos com as questões das comunidades que trabalhamos, não abaixamos a cabeça para conversar com o médico, o advogado, o engenheiro, o político, olhamos nos olhos, com aquele brilho de quem sabe que é muito bom no que faz, temos uma autoestima elevada.

Por termos orgulho do que fazemos damos com as duas mãos nossas aulas, agora queremos receber, também, com as duas mãos, homenagens, sim, mas principalmente reconhecimento prático, coisas que irão além das palavras.

 

 

Texto :  Evilângela Lima, Educadora e Diretora da Escola de Ensino Fundamental São José (Marabá).