Mais um texto do comunicador Glauco Lima, para os leitores do blog:
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Amar é preciso.
(*) Glauco Lima
É preciso amar o povo. É preciso amá-lo sem dó, nem caridade. É preciso amar sua cara fora da estética, fora dos padrões consumidos de beleza. É preciso amar seu fedor insuportável. Suas palavras chulas e suas crendices, entender sua inteligência cruel. É preciso amar o povo.
Amar no sentido da oportunidade, de dar chance de disputa. Aceitar que pode pertencer. Amar suas feridas nunca curadas, sua pele queimada pelo sol, seu raciocínio lógico. É preciso amar o povo marrom das pequenas e grandes cidades do Norte do Brasil. Esteja ele em qualquer parte do Brasil. Ou do mundo.
É preciso amar o povo. Amar sua crueldade. Amar sem esperar santidade. É preciso amar seus dentes podres. Seu hálito impuro e seu sorriso de perdedor. É preciso amar seus piolhos. É preciso tocá-lo. É preciso amar o povo. Essa entidade tão citada e tão desconhecida.
É preciso amar sua simplicidade. Amar suas rimas pobres. Amar sua comida pouco elaborada e pouco nutritiva. Suas religiões “felicidade aqui e agora”. Amar suas lindas roupas feias, seus sapatos apertados. É preciso amar o povo. Porque existe amanhã.
É preciso amar o povo querendo que ele pense. Amar querendo que ele pergunte, que formule alguma proposta. Amar sem amor de pai, amar sem amor de mãe. Amar sua risada de desprezo. Amar sua necessidade de ser conduzido. Sua necessidade de condutores e líderes. Amar sua incapacidade de entender nossa fórmula redentora, nossa suposta sofisticação intelectual.
É preciso amar suas doenças evitáveis. Amar ao saber que o povo não é gênio.Amar sem esperar que seja sábio, nem inventivo. Amar descobrindo que são pessoas. É preciso amar sua cólera. Amar sua ternura. É preciso amar o povo.
Amar o povo com amizade. Amar o povo com acidez até. Amar sua voracidade. Amar sem querer domesticá-lo, sem querer convertê-lo. É preciso amar gente do povo. Gente que não vai servir nem água gelada. Amar dando alimentos duradouros que não sejam mesmo perecíveis. Amar sua admiração pelos ricos e pelos remediados.
É preciso amar o povo. Amar seu encanto pelos bonitos, sua obediência aos poderosos. É preciso amar seus erros de português, sua ingenuidade revoltante. É preciso amar desafiando o povo. Empurrando suas portas, entrando por sua janela. É preciso amar sua ingratidão. Sua incapacidade de reconhecer.
É preciso amar o povo, amar sua ignorância revolucionária. Amar sua preguiça, sua agonia apressada, sua insensibilidade, seu desconhecimento da arte e da poesia. É preciso trazê-lo pra dentro. É preciso amar sua falta de perfume, seu desodorante vencido. Ir com ele para lugares perigosos. Amar correndo perigo.
É preciso amar o povo sem responsabilidade social.
(*) – Glauco Lima é comunicador. Formado em Comunicação Social, atua em planejamento, criação e redação de propaganda, tanto para a iniciativa privada, como instituições governamentais e campanhas eleitorais, trabalha campanhas políticas em vários Estados do Brasil.
Evilângela
20 de novembro de 2012 - 08:41Amar o povo?
Bom, deixa ver se entendi… Às vezes tenho dificuldade de entender algumas coisas, sabe?
Amar o povo sem o desejo ardoroso de ganhar seus votos na próxima eleição, amar convivendo dia após dia com suas mazelas e ingratidão, amar ainda que isso signifique se curvar perante os poderosos apenas para garantir que não serão ainda mais humilhados, apenas para serem poupados…
O amor com interesses não é amor, certo? É negociata, é barganha, é corrupção disfarçada de bondade.
“É preciso amar o povo sem responsabilidade social.”
Amar porque é correto politicamente, porque as leis mandam, porque concede status social é hipocrisia.
Amar correndo perigo!!!
Não imagina como é perigoso amar o povo assumidamente! É insensatez política e espiritual. Causa desconfortos, provoca cóleras, soa estúpido para o endirenhado e para o que discursa a mesma ladainha, sempre.
Mais um texto poético, agressivo para nossos delicados ouvidos de povo que se nega povo, que se intitula qualquer coisa, menos povo!
Sou povo, com cheiro, com dor, com erros de português, com vontade de sentir essa coisa tão bonita chamada “amor”…
Minha gratidão de povo, senhor Glauco, por lembrar que precisamos de amor, que somos sementes, não massa!