Em uma operação conjunta entre as polícias Civil e Militar, 25 membros de milícia que atuam na região metropolitana de Belém foram presos nesta terça-feira (5). Entre eles, 18 policiais militares ainda atuantes na corporação. Ao todos foram três operações para cumprir 43 mandados de busca e apreensão e sete de condução coercitiva: uma da Polícia Civil, uma da Polícia Militar e uma da Justiça Militar. Pelo menos cinco carros de cor prata – veículos característicos usados em execuções de grupos de extermínio -, dois de cor preta e um vermelho foram apreendidos. Além disso, quatro motos e 11 armas de fogo foram apreendidas. Todo o material está sendo analisado pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves e pela Polícia Federal.

O grupo de milicianos era sediado no bairro da Pedreira e, por isso, a operação da Polícia Civil foi chamada de “Cantera” (Pedreira, em espanhol). Não há informação se a milícia mantinha elos ou parcerias com grupos de extermínio do Guamá, como a que era chefiada pelo já morto cabo Antônio Figueiredo (“Pety”), que desencadeou a “Chacina de Belém”, em 2014.

Os presos são suspeitos de ter participação direta na chacina dos dias 20 e 21 de janeiro deste ano. Na ocasião, 30 homicídios foram registrados em 16 bairros de Belém, Ananindeua, Marituba e Benevides. Destes, 25 seriam retaliação direta à morte do soldado Rafael da Silva Costa, morto em ação, no dia 20, no conjunto Panorama XXI.

Durante as apurações, que começaram logo após a chacina de janeiro, o mesmo grupo foi responsável por pelo menos mais 17 homicídios e seis tentativas de homicídio. Um dos sobreviventes da chacina, cinco dias depois, sofreu outro atentado. Os exames balísticos de todas as vítimas estão no Centro de Perícias e serão comparadas com as armas apreendidas. Os “carros pratas” apreendidos condizem com os relatos comumente colhidos em locais de crime: Honda Civic, Honda City e Fiat Punto.

As investigações revelaram que as vítimas estavam envolvidas em roubos, sequestros, extorsões e tráfico de drogas. Só que a principal fonte de renda da organização criminosa era de mortes por encomenda. Cada assassinato custava a partir de R$ 1 mil. “Foi uma operação diferente, complexa, que exigiu mais de 250 policiais civis e militares. Essa operação resultou de um um inquérito da Polícia Civil e outro da Polícia Militar. Os presidentes dos inquéritos solicitaram as prisões, os mandados foram expedidos pela Justiça e tivemos êxito. Mas que fique claro: para nós é triste que tenhamos de prender pessoas da nossa força. Mas delinquente é delinquente. Não interessa se tem farda ou não. Essa operação hoje é um trabalho natural nosso”, declarou Jeannot Jansen, titular da Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Social (Segup).

Entre os policiais presos havia militares de várias patentes: soldados, cabos, sargentos e um subtenente. Entre as seis pessoas presas que não são policiais, pelo menos um é, confirmadamente, ex-PM. O comandante da corporação, Hilton Benigno, lamentou as prisões. Por outro lado, se sente mais tranquilo em saber que pessoas que estavam desonrando a instituição. O clima entre os policiais que participaram da operação era tenso. Na sede da Delegacia Geral, os policiais pareciam tristes e irritados. “Infelizmente é isso. Todos os policiais presos são da ativa, colegas nossos, de vários batalhões. Lamento também pelas famílias deles que desconheciam essas atividades ilegais”, comentou Hilton.

“Com as prisões, temos 30 dias para concluir os inquéritos. Não descartamos que outras pessoas possam ser presas. Cumprimos 100% das conduções coercitivas e 100% das buscas e apreensões. Mas dos mandados de prisão, conseguimos cumprir 70%. Os outros alvos vão ser capturados eventualmente e novos alvos devem surgir. Mas é fato que a segurança pública deu um grande passo e uma resposta a esses crimes”, afirmou o delegado geral de Polícia Civil, Rilmar Firmino.

A operação da Justiça Militar ocorreu paralelamente, mas tinha o mesmo objetivo da operação “Cantera”: desarticular grupos de milícias. O promotor Armando Brasil considerou que a operação foi um sucesso. Do total de mandados cumpridos, a Justiça Militar foi responsável por 11 das prisões, 22 buscas e apreensões e cinco conduções coercitivas. “Sem dúvida, haverá mais desdobramentos e outras pessoas deverão ser presas”, disse.

Os policiais presos foram encaminhados para o Centro de Recuperação Especial Coronel Anastácio das Neves. Os demais ficarão em outros presídios. Hilton reforça que, se a culpa dos policiais for comprovada – e ele disse, com base nos processos, que praticamente não restam dúvidas da autoria dos crimes -, será iniciado o processo de expulsão deles da tropa. (Com informação do portal ORM)