Minona Carneiro foi um dos maiores cantores de embolada, em suas andanças pelo agreste nordestino.
Também é responsável por ter incentivado Manezinho Araújo a aprender o gênero e transformar-se no maior divulgador de uma das formas mais criativas de música brasileira.
O embolador, inspirado nos versos de cordel, usa temas diversos para narrar fatos de forma bem alegre e cheia de humor.
O embolador é um cronista.
Manezinho Araújo, o maior deles.
Tivemos também o alagoano Jararaca, que formou famosa dupla com Ratinho.
Antes, porém, compunha emboladas e as cantava.

De Jararaca, a embolada “Sapo no Saco” ganhou engraçada (e gostosa) interpretação de Pedro Miranda, ex-integrante do grupo Semente que acompanha Teresa Cristina em suas gravações.

O primeiro disco recém lançado, “Coisa com Coisa”, é especial. Confirma tudo o que se falava do jovem cantor e percussionista.

Seguro o balanço do sambista cantando com intensa simplicidade – certamente inspirado em seus ídolos e mestres.

O Sapo no Saco
(Jararaca)

E era o sapo dentro do saco
E o saco com o sapo dentro
E o sapo fazendo papo
E o papo fazendo vento

Eu agora vou falar é desse noivo
Zé Perneta
Que era vesgo de uma perna
E de um olho era maneta
A noiva fazia mala, ele fazia maleta
Ela tocava trompa
Ele tocava trombeta

Ele escrevia de lápis e a noiva de caneta
A noiva cortava vara
Ele tocava vareta
Ela dormia no carro
O noivo na carreta
Ele fazia carinho e ela fazia careta

No dia do casamento, na casa do Zé Fulo
Agora que vou dizer
Aquilo foi um horror
Os dois se recolheram e ele logo estranhou
Ela foi se desmanchando e ele logo se espantou

Ela foi tirando um olho, depois um braço tirou
Arrancou a cabeleira, ele aí se apavorou
Ela ai tirou uma perna, ele aí logo gritou:
– Minha filha, minha noiva, vê pra mim o que sobrou

Jogando pião, fazendo ‘troca-troca’…

De Chico Buarque, Pedro Miranda comparece no CD regravando “Doze Anos”.
Quem teve infância, mergulha no túnel do tempo.
Um 3 X 4, brincadeiras ingênuas dos tempos da fruta no pé, jogando pião e botão, ou repetindo hábitos de antepassados – gestos politicamente incorretos de passarinhar com uma baladeira.

No solo da música, o sax e a maravilhosa flauta do experiente Eduardo Neves nos levam aos céus. É o diferencial.

Essas lindas Mulheres

Já ouviu falar de Dorinna?
Mariana Bernardes?
Nise Carvalho?
Luciane Menezes?
Se já ouviu, parabéns! Estar antenado com o que há de melhor no samba de qualidade, faz parte também.

Dorinna colocou dois discos no mercado. Adora gravar Almir Guineto.

Mariana integra o conjunto Garrafieira. Para completar, filha do saxofonista e flautista Marcelo Bernardes .
Da novíssima geração surgida nos bares dos Arcos da Lapa. A nova Lapa repaginada.
Fera, a garota.

Vocalista do grupo Sururu na Roda, a afinadíssima Nise Carvalho deixa o couro comer interpretando Amor à Natureza, do Paulinho.

Elas se integram ao time que já tem Teresa Cristina e Maria Rita, sambistas que miram no passado, acertando o futuro.

Faz assim.
Se por outro lado, não conheces, busca essas meninas por aí.
Numa loja de discos ou pela Internet.
Joga mais sementes no repertório de tua casa.

Tipo assim ouvindo Teresa Cristina falando da força do desejo.

Desejo contido nos olhos.
Num toque de mãos.
Ou imensurável desejo de se rever amigo distante.
O desejo sem freio, escondido entre dedos dos pés, enfurecido com um simples toque.
Nas mãos ou na boca.
O desejo novo ou velho.
Porque, como diz Paulinho da Viola, o desejo é bom demais.

Bom domingo.

Mais que a lei da gravidade
(Paulinho da Viola/Capinan)

O grão do desejo quando cresce
É arvoredo, floresce
Não tem serra que derrube
Não tem guerra que desmate
Ele pesa sobre a terra
Mais que a lei da gravidade
E quando faz um amigo
É tão leve como a pluma
Ele nunca põe em risco
A felicidade
Quando chegar, dê abrigo
Beijos, abraços, açúcar
Só deseja ser comido
O desejo é uma fruta
E com ele não relute
Pois, quem luta
Não conhece a força bruta
Nem todo mal que ele faz
Satisfeito, é uma moça
Sorrindo, feliz e solta
Beije o desejo na boca
Que o desejo é bom demais