Quem não assistiu, é bom torcer pela reprise dos três capítulos.

Simplesmente extraordinário o documentário “Canções do exílio – A labareda que lambeu tudo“, de Geneton Moraes Neto, exibido em três episódios pelo Canal Brasil (66 – Sky), dias 8,9 e 10 de fevereiro, no qual o jornalista volta à sua juventude.

Na série, que depois será condensada em um filme, ele entrevista Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner e Jards Macalé reconstruindo um capítulo da história recente cultural e política do país.

O filme na verdade tem início em 1973 quando Geneton, aos 15 anos, entrevistou Caetano Veloso em sua volta de Londres. Caetano reclama que no exílio parecia estar morto, que tinha virado uma entidade fora do mundo.

São hilárias as histórias de Glauber Rocha, contadas por Caetano Veloso e Jards Macalé.

Gil se emociona ao narrar detalhes da criação da música “Cálice”, escrita e musicada na cobertura de Chico Buarque, diante da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Os  versos “ver emergir o monstro da lagoa” saiu lá do alto, quando Chico contemplava a Rodrigo de Freitas.

Foi numa sexta-feira da Semana Santa que os versos começaram a ser escritos.

Gil confessa: – “Cálice é uma canção que nasceu marcada pela dor“.

Emocionam as imagens de Chico e Gil iniciando a interpretação de Cálice no Festival Phono 73, quando, de repente, agentes do SNI cortam o som do show, obrigando os dois a ficarem fazendo capela (canto sem qualquer acompanhamento instrumental), enquanto o público aplaude de pé e grita “queremos som”.

Gil faz outra confissão surpreendente: até hoje ele tem dificuldade de lidar com “Cálice”,  uma das canções mais lindas da MPB. Tanto é verdade que nunca a gravou.

O filme costura depoimentos importantes dos artistas. Momentos de dúvida, de medo e também de muita criatividade. É um período muito conturbado na história do país e também muito rico que eles viveram em Londres, influindo, posteriormente, na vida cultural do país.

A história é contada através de narração de Paulo Cesar Peréio, depoimentos recentes e trechos de entrevistas antigas.

Eu assissti  aos três episódios, gravei-os e, neste domingo, dei play para tornar a reviver o excelente material editado.

Geneton prova que o assunto ainda não se esgotou, e que a  história existe pra ser revirada e revisitada.

O que ele fez foi produzir um maravilhoso documento.

Gilberto Gil surpreende com a lembrança de que fez um show para a tropa, quando se encontrava preso num dos quartéis do Exército, no Rio, em 69,  e compôs quatro músicas com um violão emprestado por um sargento. “Eu considero uma cena surrealista que só poderia acontecer no Brasil, essa mistura de brutalidade com delicadeza. Se eu fosse sociólogo faria uma tese sobre o espírito brasileiro a partir dessas histórias”, conta.

O documentário dialoga com um recente sucesso do cinema documental brasileiro, o longa Uma noite em 67 , de Ricardo Calil e Renato Terra, que mostra o festival que revelou o movimento tropicalista.